163 pessoas trans foram mortas em 2018 no Brasil; 83% dos crimes são cruéis

Para
marcar a data, foi lançado um Dossiê dos Assassinatos e da Violência
contra Travestis e Transexuais no Brasil em 2018. O levantamento, único
do Brasil com esse nível de detalhamento, foi realizado pela Associação
Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA) em parceria com o
Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE). Ele evidencia os
assassinatos que aconteceram contra a população Trans em 2018, mas
também traz dados sobre tentativas de assassinatos, violações de
direitos humanos e outras mortes não solucionadas.
“O
que a gente percebe nesse relatório é que o Brasil continua sendo um
país violentíssimo. O País está sem norte, na minha concepção, dado o
rumo que o governo federal tem dedicado às nossas populações. Não temos
uma política efetiva”, conclui a presidenta da Antra, Keila Simpson.
O
dossiê aponta que, em números absolutos, os assassinatos de pessoas
trans diminuíram de 2017 para 2018. Apesar disso, a presidente da Antra
afirma que não houve diminuição da violência. “Nos perguntávamos sobre
uma aparente queda nos números sobre casos de assassinatos, e chegamos à
conclusão do motivo: um aumento de 30% na subnotificação dos casos pela
mídia. Isso faz parecer que houve uma queda nos assassinatos, quando na
verdade o que existe é um aumento na invisibilidade destas mortes. Esse
tipo de violência está naturalizada”, explica.
Levando
em conta a denúncia de Keila, no ano de 2018 ocorreram 163 assassinatos
de pessoas trans , sendo 158 Travestis e mulheres transexuais, quatro
homens trans e uma pessoa Não-Binária. Destes, a associação encontrou
notícias de que apenas 15 casos tiveram os suspeitos presos — o que
representa 9% dos casos.
Ainda em
números absolutos, o Rio de Janeiro foi o estado em que mais se matou
pessoas trans no ano passado, com 16 assassinatos. Em segundo lugar
ficou a Bahia, com 15 crimes e em terceiro, o estado de São Paulo,
onde foram mortas 14 pessoas trans. O quarto e o quinto lugar ficaram
com o Ceará e o Pará, em que ocorreram 13, e 10 assassinatos dessa
população, respectivamente.
“Obviamente
uma sociedade que é orientada por um presidente da República, ou por um
candidato que se encontra à frente nas pesquisas, que infla um discurso
de ódio contra um segmento, o cidadão civil vai se achar no direito de
agredir, de violentar, de espancar? Esse discurso consegue, sim,
aumentar a violência que já é grande contra a nossa população”, ela
pondera.
Os lugares onde aconteceram mais crimes
A
maior concentração dos crimes foi registrada no Nordeste: foram 59
assassinatos, 36,2% dos casos do País. A maioria das vítimas é jovem:
60,5% das delas tinham entre 17 e 29 anos e a idade média das vítimas
dos assassinatos em 2018 é de 26,4 anos — uma queda de 1,3 anos em
relação a 2017.
O documento ainda informa que 65% dos assassinatos foram direcionados a profissionais do sexo e 60% deles aconteceu nas ruas.
Mais da metade dos crimes — 53% — foi por armas de fogo, 21% por arma branca e 19% por espancamento, asfixia e/ou estrangulamento – em 83% dos casos os assassinatos foram cometidos com requintes de crueldade e 80% dos assassinos não tinham relação direta com a vítima. 82% dos casos foram identificadas como pessoas negras e pardas.
Mais da metade dos crimes — 53% — foi por armas de fogo, 21% por arma branca e 19% por espancamento, asfixia e/ou estrangulamento – em 83% dos casos os assassinatos foram cometidos com requintes de crueldade e 80% dos assassinos não tinham relação direta com a vítima. 82% dos casos foram identificadas como pessoas negras e pardas.
Ainda
segundo o dossiê, “as questões de gênero se reforçam e demonstram que
97,5% (aumento de 3% em relação a 2017) dos assassinatos foram contra
pessoas trans do gênero feminino (158 casos). No ano de 2018 foram
noticiados pela imprensa brasileira 71 tentativas de homicídio, um
aumento de 9,8%, sendo que todas as vítimas são do gênero feminino.”
Transfeminicídio
vem se reproduzindo entre todas as faixas etárias, diz a pesquisa. Uma
pessoa trans apresenta mais chances de ser assassinada do que uma
pessoas cisgênera. Estas mortes, no entanto, são mais frequentes entre
travestis e mulheres transexuais negras. As negras também tem a menor
escolaridade, menor acesso ao mercado formal de trabalho e a políticas
públicas.
Crimes com crueldade
A
solução desse problema, segundo Keila, passa pela criação de leis que
coíbam esses crimes. “Claro que a lei por si, só, não vai resolver – a
despeito da lei do racismo, as pessoas ainda infringem a lei – mas pelo
menos teríamos um aparato legal. É preciso qualificar e punir esses
agressores.” Keila também acredita que muitos crimes que deveriam ser
punidos como transfobia, tem suas penas atenuadas por serem
classificados como homicídios ou latrocínios. Como exemplo, ela citou o
caso da travesti Quelly da Silva, morta no último dia 20, em Campinas,
São Paulo. O criminoso afirmou ter tirado o coração da vítima, colocado a
imagem de uma santa no lugar e guardado o órgão em sua casa, além de
furtar seus pertences. “Isso não é apenas um homicídio. É tétrico e foi
motivado por transfobia.”
São
apontados, também, 72 casos de violações de direitos humanos. Os casos
registrados, em sua maioria, têm ligação com transfobia, sendo 77% dos
casos: desde a proibição de usar o banheiro de acordo com sua identidade
de gênero, até a negativa de usar o nome social nos documentos
escolares.
O
dossiê registra ainda oito mortes por suicídio, cinco por aplicação de
silicone industrial e dois por uso indiscriminado de hormonioterapia.
Fonte: uol - Publicado por: Alana Yaponirah
Nenhum comentário:
Postar um comentário