Militares já se espalham por 21 áreas do governo de Jair Bolsonaro; já passam de 45
Membros das Forças Armadas obtêm relevância inédita desde a redemocratização e vão administrar orçamentos bilionários
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Os militares nomeados ou
prestes a serem nomeados já passam de 45 no governo de Jair Bolsonaro,
espalhados por 21 áreas: da assessoria da presidência da Caixa Econômica
ao gabinete do Ministério da Educação; da diretoria-geral da
hidrelétrica Itaipu à presidência do conselho de administração da
Petrobras.
O Exército, do qual vieram o presidente e seu vice, Hamilton
Mourão, tem maioria entre os membros do governo: eram 18 generais e 11
coronéis da reserva até esta sexta (18) - o número cresce a cada dia.
Militares
agora comandam o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte), a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), a
presidência da Funai (Fundação Nacional do Índio) e sete ministérios:
Secretaria de Governo, Defesa, Minas e Energia, Infraestrutura, GSI
(Gabinete de Segurança Institucional), CGU (controle interno e
transparência) e Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Generais
da reserva ou reformados ocupam cinco cargos no comando da
Secretaria-Geral da Presidência da, comandada por um civil, o advogado
Gustavo Bebianno. No Ministério de Justiça do ex-juiz Sergio Moro, os
militares se espalharam pela Secretaria Nacional de Segurança Pública de
forma inédita desde que o órgão foi criado, em 1997. Vinculados ao
secretário nacional, o general da reserva Guilherme Theophilo, estarão
três coronéis - a pasta confirmou que as nomeações devem sair nos
próximos dias. No gabinete de Moro, um suboficial do Exército atua como
assessor técnico.
O
levantamento da reportagem sobre os militares no governo não incluiu
membros de forças policiais estaduais, como Polícia Militar e Bombeiros,
e considerou apenas dois nomeados no Gabinete de Segurança
Institucional, um órgão normalmente ocupado por militares, o ministro
Augusto Heleno e o general Eduardo Villas Bôas, que até o dia 11
comandava o Exército.
A força econômica dos setores com presença
militar ultrapassa as centenas de bilhões de reais. Apenas a Petrobras,
maior empresa do país, teve uma receita estimada em R$ 283 bilhões em
2017.
Historiadores ouvidos pela reportagem concordam que não
houve, desde a redemocratização, em 1985, uma avalanche de militares no
Executivo como a atual.
A historiadora e cientista política da
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Heloisa Starling, que atuou
na Comissão Nacional da Verdade, disse que um número tão grande de
militares no Executivo é "muito pouco usual numa democracia, em especial
em cargos estratégicos" e situação semelhante só foi registrada no
Brasil durante a ditadura (1964-1985).
Mas ela não acredita que
isso indique automaticamente "uma pretensão autoritária". "Deveríamos
nos preocupar é [com o fato de] que os militares não são formados para a
atividade política, mas sim para o confronto com o inimigo. A política é
o oposto disso, ela amplia a capacidade de construção do consenso",
disse Starling.
Para a historiadora, "não se sabe ainda como se
dará a gestão administrativa num ambiente democrático de embate de
ideias e críticas".
Carlos Fico, historiador da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), acredita que a maior presença de militares
no governo "decorre do perfil do presidente, ele próprio militar
reformado e que, como parlamentar, procurou defender causas associadas
às polícias militares e aos militares propriamente dito".
"Os
militares expressam, no Brasil, a onda conservadora que atinge outros
países porque eles são o grupo conservador mais organizado do país. Não
havia, até recentemente, um partido assumidamente de direita por aqui",
disse Fico.
Para
o professor, "o despreparo e a inexperiência" do grupo político de
Bolsonaro também ajudam a entender a presença militar no governo, pois
os militares "supostamente seriam bem preparados e conhecedores da
realidade nacional".
Na terça (15), o ministro da Secretaria de Governo, o general Santos
Cruz, disse não ver vantagens nem desvantagens na presença militar no
governo. "A situação de militar não coloca nada demais. Coloca só mais
responsabilidade, porque a gente representa uma corporação inteira."
Política ao Minuto com
informações da Folhapress
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