Em meio a crise financeira venezuelanos são obrigados a enterrarem parentes dentro de casa
Reflexos
da crise humanitária em que está mergulhada a Venezuela são sentidos
até na hora de os venezuelanos enterrarem os parentes.
“Levei
cinco dias para juntar dinheiro para recolher o corpo do meu pai do
necrotério, outros sete para achar um espaço no cemitério. Quando não
tinha mais como pedir dinheiro a parentes e amigos para mais nada,
decidi que faríamos, com meus irmãos, um caixão com cartolina. Mas foi
tudo com muito amor e oração, sei que ele agora finalmente está em paz.”
O
relato comovido de Willy Olmedo, 25, do município de Sucre, na região
metropolitana de Caracas, à Folha de S.Paulo, resume alguns desses
percalços. “Aqui mesmo já vi alguns sendo enterrados em lençóis, coisa
que só tinha escutado que estava acontecendo no interior, agora chegou
aos subúrbios de Caracas”, diz.
Se
entre os estratos mais pobres da população falta dinheiro para tirar o
corpo de um necrotério público – trâmite antes gratuito, mas hoje
sujeito à cobrança de subornos -, conseguir espaço num cemitério e até
comprar um caixão simples, entre os de classe média ou mais
endinheirados o problema passa também por outros procedimentos, como
cremar ou embalsamar. Muito comum também se tornaram as profanações de
sepulturas, atrás de objetos de valor, e o roubo das placas de ouro ou
bronze.
“Tiraram as placas com o nome
de todos os meus familiares. Tivemos de reunir os parentes aqui para
fazer um mapa baseado em nossas lembranças para lembrar quem está onde.
Foi muito doloroso, como reviver cada funeral”, diz Norma Herrera, 52,
ao mostrar à reportagem o lote da família, com buracos nos locais das
placas, no tradicional Cementerio del Este.
Se
no começo as cremações passaram a ser comuns, por conta dos custos de
um funeral tradicional, agora nem estas podem ser feitas em todos os
estados do país. Em Zulia, por exemplo, como reportou a Reuters,
Angelica Vera, 27, não pôde cremar o pai, por falta de gás no cemitério
local.
“Essas coisas fazem que a
tragédia da morte continue acentuando a tristeza da ausência de um
parente”, conta Herrera, enquanto mostra, caminhando pelo cemitério
caraquenho, algumas sepulturas com o cartaz: “Esta aqui já foi violada”.
“Quase
coloquei um cartaz assim na nossa. Porque não basta recolocar as
placas, reformar sepulturas, se você pode ter de enfrentar isso tudo de
novo”, disse Herrera. Com a inflação projetada pelo FMI em 1.000% para
este ano e a crise gerada pela falta de papel-moeda no mercado, há uma
busca extra por metais e pedras preciosas.
Além
da migração para as regiões de mineração do país, outra fonte para
obtê-los é por meio do roubo de joias, pedras preciosas, bancos que
guardam ouro e, por que não, violação de sepulturas e roubos de placas
em lápides.
Fonte: Notícias ao Minuto - Créditos: Folhapress - Publicado por: Anderson Costa
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