Em carta ao PT, Lula avisa: ‘ataques vão aumentar, temos que voltar às ruas’
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em uma carta dirigida
aos integrantes do PT que foi lida nesta sexta-feira (30) durante
reunião do Diretório Nacional da legenda, em Brasília que partido
precisa convocar o povo e ir para às ruas.
O documento foi lido
nesta sexta-feira (30) durante reunião do Diretório Nacional da legenda,
em Brasília. A leitura coube a Luiz Dulci, ex-ministro da
Secretaria-Geral e um dos fundadores do PT.
Em um trecho da carta o
ex-presidente diz que povo brasileiro os deu a missão de manter acesa a
chama da esperança, “da democracia, do patrimônio nacional, dos
direitos dos direitos dos trabalhadores”, o que segundo Lula, está
ameaçado pelo novo governo
“Temos
de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a
linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown.
Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível não
existe.”
Leia a carta na integra
Companheiras e companheiros,
Do
fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo
eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade
democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a cada
militante do nosso partido, pela generosidade e coragem diante da mais
sórdida campanha que já se fez contra um partido político neste país.
Agradeço
à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por
terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado
minha candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado
totalmente, com muita força, na candidatura do companheiro Fernando
Haddad.
Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter
se entregado de corpo e alma à missão que lhe confiamos. Ele enfrentou
com dignidade as mentiras, a violência e o preconceito. Saiu das
eleições como um líder brasileiro reconhecido internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.
Saúdo
os quatro governadores que elegemos, em especial a companheira Fátima
Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição, mas não desistiram
da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e deputados eleitos e
todos os que, generosamente, se lançaram candidatos, fortalecendo a
votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês
nos levou a alcançar 47 milhões de votos no segundo turno. Apesar de
toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT
continua sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E
isso nos coloca diante de imensas responsabilidades.
O
povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da esperança, o
que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos
direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa. Tudo isso está
ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os
retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a
companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma
eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem
desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa
farsa judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me
afastar do processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a
lei e desobedeceu uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em
tratado internacional, para impedir minha candidatura às vésperas da
eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras
no submundo da internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e
financiada por um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente
gigantescas. É simplesmente vergonhoso para o país e para a
Justiça Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido aprovadas
diante de tantas evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova da
seletividade de um sistema judicial que persegue o PT.
Se
alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sérgio Moro contra
mim e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da
Justiça de um governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro
não se transformou no político que dizia não ser. Simplesmente saiu do
armário em que escondia sua verdadeira natureza.
Eu não
tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a
perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos
arbitrários e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um
único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu
do palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para novos
ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e
denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições.
Jair
Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na
verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos
banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela
mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo
Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado
pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo
que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público,
foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve
coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco
suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos,
as políticas sociais, a política externa. E vai executar um programa
ultraliberal, de entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos
eleitores e muito menos aprovado nas urnas.
Ele explorou
o desespero das pessoas com a violência; a indignação com a corrupção e
a decepção com os políticos. Mas não tem respostas concretas para
nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para segurança é
armar as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo, porque
Sérgio Moro e a Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da
Petrobras. A maioria está solta ou em prisão domiciliar, gozando as
fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato, o representante
do sistema político tradicional, que controla a economia e as
instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram
Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas promessas que não vai
cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de estar
preparados para continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras
soluções para o Brasil, pois acredito que, por mais que queiram, não vão
conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição,
para defender a democracia e os direitos do povo, em tempos ainda mais
difíceis que os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer agora, com o
respaldo dos nossos 47 milhões de votos, com a responsabilidade de
sermos o maior partido político do país.
E como diz a
companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos grandes, se
foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos atuar em conjunto
com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo
democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos
de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a
linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown.
Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível não
existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva
Fonte: Polêmica Paraíba - Publicado por: Gerlane Neto
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