domingo, 2 de dezembro de 2018

Haddad quer reverter o populismo de direita identificado no Brasil

Em Nova York, Haddad defende humildade para conter avanço da direita populista


Fernando Haddad em sua casa, durante entrevista a Folha

Reverter o atual populismo de direita identificado nos Estados Unidos, em países europeus como Áustria e Suécia e no Brasil será um desafio intelectual que vai exigir humildade, afirmou, na noite deste sábado (1º), Fernando Haddad (PT), candidato à Presidência derrotado nas eleições.
Haddad participou de seu terceiro evento público em Nova York, onde esteve para o lançamento da Internacional Progressista, aliança encabeçada pelo senador democrata Bernie Sanders, com quem se encontrou na sexta (30), em Vermont.
O objetivo declarado do grupo é defender uma visão compartilhada de democracia e conceitos como sustentabilidade e solidariedade.
Neste sábado, na faculdade de direito da Universidade Columbia, Haddad e o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis falaram sobre os desafios de conter o que chamam de direita populista. Ambos participaram da palestra “Challenging the new right populism” (“Desafiando o novo populismo de direita”).
“Temos um desafio intelectual muito grande pela frente”, afirmou.
“Não podemos ser arrogantes de imaginar que temos as respostas prontas para desafios tão complexos. Uma dose de humildade, mas uma humildade que não paralisa, que estimula a buscar alternativas rápidas que possam ser oferecidas a uma população que deseja um mundo novo. Ela só não sabe qual.”
Para o ex-ministro da Educação, o que a aliança progressista tem a oferecer é muito melhor “do que o que está sendo escolhido hoje nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo”.
Na conversa com Varoufakis, Haddad afirmou que o desafio de conter a direita populista é global.
“Há uma preocupação das forças democráticas mundiais sobre o que se passa na América do Sul, na Europa Oridental, e agora a gente vê que vai chegando nos EUA e mesmo na Europa Ocidental sinais já marcantes na Áustria, na Suécia e, agora, na Itália, de que há problemas de toda ordem acontecendo”, disse.
Segundo Haddad, há uma preocupação com as eleições europeias do próximo ano.
“Se eles utilizarem os mesmos métodos que utilizaram no ‘brexit’ [saída do Reino Unido da União Europeia], aqui na eleição do [presidente Donald] Trump, da eleição do Bolsonaro, nós podemos ter problemas em países que são a última fronteira democrática que ainda resiste. E ninguém quer um mundo obscurantista”, afirmou.
O ex-ministro das Finanças grego defendeu que a aliança progressista não cometa os erros do passado. “Não vamos ficar encantados conosco. Nós estamos perdendo o jogo e temos muito trabalho a fazer”, afirmou.
Na Europa, ele atribuiu a ascensão do populismo à deflação, que “aumentou o medo do outro, não importa quem seja esse outro.”
“A sociedade se encontra desnorteada e se vira para populistas fascistas que prometem resolver todos os problemas. Isso toma formas diferentes em lugares diferentes.”
Ele falou que uma forma de conter o avanço do populismo é discutindo a redistribuição de renda.
“A esquerda focou em renda, enquanto a direita focou em riqueza, em aproveitar terras e riqueza, como se discutíssemos besteira”, afirmou. “Uma abordagem gradual de reforma sempre vai favorecer os ricos. Nós precisamos discutir redistribuição de riqueza”, afirmou.
Varoufakis foi ministro das Finanças no governo de Alexis Tsipras em 2015. Ele assumiu com a perspectiva de afrouxar as medidas de austeridade que a Grécia enfrentava, ainda em decorrência dos efeitos da crise global de 2008. Ficou no cargo de janeiro a agosto, quando renunciou.
Na conversa com o grego, o petista voltou a falar sobre o fim da dicotomia democracia x ditadura, “porque na verdade não se trata mais disso”. Como fez no evento de quinta (29), Haddad ressaltou que a democracia está sendo solapada por dentro das instituições.
“Do mesmo jeito que os indígenas estão inseguros, que os tratados internacionais sobre meio ambiente estão em risco, que a comunidade LGBT está em risco, hoje você não tem, no Brasil, segurança de liberdade de cátedra”, diz.
“Ou seja, há ações judiciais neste momento sendo movidas contra associações de professores, no caso do Ceará, por terem feito um grupo de combate ao fascismo.”
Fonte: Folha de S. Paulo - Publicado por: Ivyna Souto

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