Caravana migrante acelera o passo no México para chegar à fronteira com os Estados Unidos
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AFP / Guillermo Arias |
A
caravana migrante que saiu há um mês de Honduras acelerava
vertiginosamente o seu passo nesta quarta-feira (14) para chegar à
fronteira com os Estados Unidos, a qual alguns centro-americanos que
começaram a chegar desde o domingo já cruzaram momentaneamente,
constatou a AFP.
Um grupo de quase 100 transexuais e alguns
homossexuais chegou à cidade de Tijuana, no estado de Baja Califórnia,
no domingo; na terça-feira, chegaram outros 350 migrantes, todos
integrantes da grande caravana.
Emocionados, correram até a praia
para tomar um banho e colocavam a cabeça entre as grades metálicas da
fronteira para vislumbrar seu sonho dourado.
Dois pularam a alta
cerca metálica que divide os dois países e escreveram na areia do lado
americano a palavra “catracho”, que significa hondurenho, e poucos
minutos depois voltaram para o território mexicano.
O objetivo dos
migrantes é que o governo americano lhes dê o status de refugiados
devido à extrema violência e pobreza que vivem em seus países, mas para
consegui-lo, devem passar por um acesso oficial, de acordo com um
decreto assinado pelo presidente Donald Trump.
“Sinto emoção
porque é um desejo poder estar aqui depois de cruzar todo o México”,
disse Lester Velázquez, de 39 anos, originário de Comayagua, Honduras,
onde trabalha como pedreiro, soldador e barbeiro.
Lester e outros
migrantes observam o morro Nido de las Águilas (Ninho das Águias),
cortado por um trecho da cerca metálica que divide o México dos Estados
Unidos.
“Espero fazer o mesmo ou o que for possível do outro
lado”, acrescenta, ao ser perguntado sobre seus planos ao cruzar para o
país vizinho.
A centenas de quilômetros dali, o grosso da
caravana, que deixou em 13 de outubro a cidade hondurenha de San Pedro
Sula acelerava o passo pelo estado de Sinaloa.
Pela primeira vez desde que começaram seu périplo, os migrantes não passaram a noite de terça-feira em um acampamento.
Após
ultrapassarem muitos obstáculos, chegaram no entardecer de terça-feira à
guarita da estrada de La Concha, em Sinaloa, onde existe um grande
estacionamento para os trailers que passam.
Esse espaço, com
banheiros e luz elétrica, poderia servir de acampamento, mas os
migrantes preferiram enfrentar o intenso frio noturno desta região do
México, com forte presença do narcotráfico, para continuar sua rota ao
norte.
Próxima escala: Navojoa, em Sonora, um vasto estado fronteiriço com os Estados Unidos.
– Chegar o quanto antes –
“Queremos
chegar o quanto antes, o mais rápido possível, estamos há mais de um
mês fora do nosso país”, disse à AFP Saúl Rivera, salvadorenho de 40
anos, um dos primeiros a chegar a La Concha e que conseguiu subir em um
dos muitos ônibus oferecidos por um sacerdote ativista.
Orquestrando
a complicada logística da operação junto com a polícia local, o
sacerdote Miguel Ángel Soto assegurou que o trajeto até Navojoa, de mais
de nove horas de estrada, é “o mais longo que empreendeu de ônibus”
desde que a caravana foi formada.
Após percorrer 2.500 km a partir
de Honduras, os migrantes amanheceram nesta quarta-feira viajando nos
ônibus de La Concha, uma viagem que durou a noite inteira.
Com a
iminente chegada da caravana, os Estados Unidos fecharam parcialmente
com barricadas e cercas de arame farpado as guaritas fronteiriças de San
Ysidro e Otay Mesa, que levam à Califórnia.
Em 9 de novembro, o
presidente Donald Trump decretou o fim dos pedidos de refúgio para os
que entram ilegalmente nos Estados Unidos, em uma tentativa de dissuadir
os centro-americanos que buscam seu sonho americano para escapar da
pobreza e da violência em seus países.
“Temos informações sobre
isso, mas viemos na luta (…) Trump pode colocar o que quiser, mas para
Deus não há obstáculos, nem para nós”, desafiou Rivera, que em abril
trabalhava como pedreiro e motorista em seu país.
Apesar de sua
fé, o sacerdote Soto é menos otimista: “Vão determinados, mas não vão
passar. Será feito um afunilamento em Tijuana, e não estão preparados
para receber tantas pessoas”.
– ‘Queremos trabalhar’ –
Trump
chamou os migrantes de “criminosos” e acusa a caravana de impulsionar
uma “invasão”. Para contê-los, enviou até 9.000 soldados para sua
fronteira sul.
Victor de Leon, um migrante guatemalteco que já
está em Tijuana, disse que “99% são pessoas de bem, e estamos esperando
para fazer as coisas em paz, que Donald Trump se dê conta da necessidade
real que temos, que não estamos vindo para prejudicar. Mas para
encontrar uma oportunidade que nossos países negaram”.
Enquanto isso, Rivera destacou que “o que queremos é trabalhar. Roubar, não”.
Para
este pai que já tentou atravessar a fronteira 10 vezes, “os Estados
Unidos estão bem porque os gringos diretamente não gostam de trabalhar, a
mão de obra é nossa”, dos latinos.
A caravana chegou a somar
7.000 integrantes, segundo as Nações Unidas, mas muitos desistiram
durante o caminho, até atingir os 6.011 (dos quais 902 são crianças) que
chegaram a Guadalajara, segundo dados das autoridades locais.
Além
dos hondurenhos, juntaram-se migrantes de Chile, Colômbia, Costa Rica,
El Salvador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Venezuela.
Esta grande caravana é seguida por outras duas à distância, com cerca de 2.000 migrantes cada.
AFP
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