Conheça as mulheres convidadas para a equipe de transição do governo Bolsonaro
Três militares e uma economista integram equipe de transição de Bolsonaro
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Após
um primeiro anúncio de 28 nomes para a equipe de transição de governo
em que constavam apenas homens, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL)
convidou quatro mulheres para compor o time.
Três delas têm
experiência na carreira militar e uma é economista com especialização em
meio ambiente. As nomeações ainda não foram publicadas no Diário
Oficial e a assessoria da equipe de transição não confirmou como elas
atuarão e se terão remuneração.
Segundo apuração da BBC News
Brasil, a economista Clarissa Gandour atuará como voluntária, enquanto a
tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal Márcia
Amarílio da Cunha Silva ficará cedida pela corporação, mantendo seu
salário atual.
Na quarta-feira, Bolsonaro anunciou também a
primeira mulher que será ministra de seu governo. A deputada Tereza
Cristina (DEM-MS) comandará a pasta da Agricultura, que não deve mais
incorporar o Ministério do Meio Ambiente, como originalmente anunciado.
“Não
estou preocupado com a cor, sexo ou sexualidade de quem está na minha
equipe, mas com a missão de fazer o Brasil crescer, combater o crime
organizado e a corrupção, dentre outras urgências”, escreveu o
presidente eleito em seu Twitter.
Nesta quinta, a assessoria da
equipe de transição divulgou foto de uma reunião geral em que havia
apenas homens, entre eles os futuros ministros Onyx Lorenzoni (Casa
Civil), Paulo Guedes (Fazenda) e Sergio Moro (Justiça).
A expectativa é de que mais mulheres sejam anunciadas para a equipe de transição. Confira abaixo o perfil das quatro primeiras.
Márcia Amarílio da Cunha Silva
Primeira
mulher convidada para a transição, Márcia Amarílio da Cunha Silva é
tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Ela passou a
colaborar na construção da candidatura de Bolsonaro há cerca de um ano.
Silva
participava das reuniões semanais organizadas pelo general da reserva
do Exército Augusto Heleno, que deve assumir o GSI (Gabinete de
Segurança Institucional) no próximo governo. Bolsonaro costumava
comparecer até sofrer um atentado em Juiz de Fora (MG), em setembro.
A
tenente contou à BBC News Brasil que, nessas reuniões, participou dos
grupos de educação, meio ambiente e segurança pública, levantando
informações para subsidiar a campanha e o plano de governo.
Com
25 anos de Corpo de Bombeiros no DF, ela hoje comanda o Centro de
Ensino de Altos Estudos Oficiais da corporação, que cuida da formação de
capitães e coronéis. Tem também vasta experiência na área política,
tendo atuado por 15 anos – sete deles como chefe – na equipe de
assessoria parlamentar do Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros
Militares do Brasil.
Ela está, por enquanto, colaborando com a
equipe de transição na área de educação e ficará cedida pelo Corpo de
Bombeiros, mantendo seu salário atual, sem acumular nova remuneração.
Na
sua visão, a imprensa se precipitou ao destacar a falta de mulheres na
equipe quando os primeiros nomes da equipe de transição foram
anunciados. “Acho importante a participação de mulheres porque o Brasil é
feito de diversidade”, ressaltou.
Clarissa Costalonga e Gandour
Clarissa
Costalonga e Gandour é economista especializada em monitoramento da
eficácia de políticas públicas para preservação do meio ambiente. Ela
tem graduação, mestrado e doutorado na faculdade de economia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Atualmente, é
analista sênior do escritório carioca do CPI (Climate Policy
Initiative), onde coordena o desenvolvimento de projetos estratégicos.
Junto com seu professor na PUC-Rio e chefe no CPI, Juliano Assunção, e
outros pesquisadores, realizou um estudo que levantou o impacto
bem-sucedido de ações de preservação ambiental durante o governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo esse
levantamento, políticas públicas como o acompanhamento contínuo do
desmatamento via satélite, fortalecimento das operações de fiscalização,
criação de novas unidas de preservação e restrição do acesso ao crédito
rural por fazendeiros na região amazônica evitaram aproximadamente 62
mil km2 de área desmatada entre 2005 e 2009.
Em vídeo disponível
no YouTube, Gandour explica as conclusões do estudo em inglês fluente,
em intervalo da conferência da ONU sobre o clima de 2012 em Doha, no
Catar.
À BBC News Brasil, a pesquisadora confirmou por email ter
sido “convidada a contribuir com a transição em caráter voluntário no
grupo de trabalho de meio ambiente”.
“Ela
é uma economista com treinamento excepcional em avaliação de políticas
públicas”, afirmou à reportagem seu professor Juliano Assunção.
“Acho
que a participação da Clarissa só faz sentido se o governo desejar
aprimorar as políticas de combate ao desmatamento, porque todo o
trabalho que ela fez ao longo da trajetória profissional dela diz
respeito à mensuração do impacto dessas políticas e mecanismos sob os
quais essas políticas podem ser aprimoradas”, acrescentou.
Silvia Nobre Waiãpi
A
tenente Silvia Nobre Waiãpi, primeira indígena a ingressar no Exército,
tem uma história de superação e versatilidade – é artista, atleta e
fisioterapeuta.
Entrou para as Forças Armadas em concurso de 2010 e
hoje é chefe do Serviço de Medicina Física e Reabilitação em
Fisioterapia do Hospital Central do Exército no Rio de Janeiro.
Nascida no interior do Amapá, deixou a aldeia de seu povo, os Waiãpi, para o Rio após ser mãe aos 13 anos.
“Vim
sozinha. Não conhecia ninguém, dormi nas ruas por alguns meses. Eu
tinha uma pedra, que acreditava que era sagrada, e a vendi para comer.
Com aquele dinheiro eu consegui comer uns dois dias. Depois, comecei a
vender livros de porta em porta”, contou ao portal UOL em 2011.
Ainda
segundo essa reportagem, Waiãpi se interessou por poesia ainda
adolescente. Depois, passou a escrever e foi premiada com a medalha
Cultural Castro Alves, a medalha Monteiro Lobato e também um prêmio de
jovem escritora da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.
Mais
recentemente, atuou na minissérie da Rede Globo “Dois Irmãos”,
transmitida em janeiro de 2017. Ela interpretou a personagem indígena
Domingas, que é tirada de sua tribo para trabalhar como doméstica.
À
reportagem do UOL em 2011, Waiãpi contou também ter voltado poucas
vezes a sua aldeia. “Quero abrir uma nova ponte para mulheres índias no
Brasil, não só nas Forças Armadas, mas em outros segmentos. Já tenho
amigas que disseram que agora vão se preparar para entrar nas forças”,
afirmou.
A coordenadora executiva da Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil (APIB) e candidata à vice-presidente pelo PSOL na
eleição deste ano, Sônia Guajajara, disse à BBC News Brasil que a
nomeação de Waiãpi não altera em nada sua visão de que o governo
Bolsonaro representa uma ameaça aos índios.
“Ela
(Waiãpi) tem origem indígena, mas não é uma liderança, nem fala em nome
dos povos indígenas. Isso (a nomeação) de jeito nenhum vai significar o
apoio dos povos indígenas a esse governo. Somos um dos alvos
prioritários”, ressaltou.
A BBC News Brasil fez contato com Waiãpi
por meio de sua página oficial no Facebook, mas ela disse que não
poderia conceder entrevista sem autorização do Exército.
Liane de Moura Fernandes Costa
Liane
de Moura Fernandes Costa é mais uma mulher da equipe de transição
egressa da carreira militar. Formada em 2007 no curso de Engenharia
Ambiental da Fundação Universidade Federal do Tocantins, com
especialidade em construções sustentáveis, ingressou em 2009 no
Exército, onde atuou na seção de meio ambiente do Departamento de
Engenharia e Construção (DEC).
Deixou a instituição há pouco,
depois de concluir o tempo máximo de oito anos de serviço nesse tipo de
contratação, e está atuando como estagiária na área de engenharia do
Ibama. É hoje tenente da reserva.
Costa possui também licenciatura
em Educação Profissional pelo Instituto Federal de Brasília (IFB) e já
foi professora substituta do Curso Técnico em Controle Ambiental na
mesma instituição, ministrando aulas de Tratamento de Água, Introdução
ao Controle Ambiental e Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
A
tenente da reserva costuma participar em Brasília de ações voluntárias
de coleta e reciclagem de resíduos. Entre vídeos de Carnaval de rua no
interior do Tocantins e sobre práticas ambientais, também curtiu em seu
canal no YouTube um registro do ano passado em que o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL) rebate fala de uma líder estudantil crítica ao projeto
Escola Sem Partido em audiência na Câmara dos Deputados.
Costa
atendeu ligação da reportagem, mas explicou que estava orientada a não
conceder entrevistas sem prévia autorização. Disse apenas que foi
convidada a prestar assessoria na área ambiental.
Fonte: BBC News - Créditos: Mariana Schreiber - Publicado por: Ivyna Souto
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