Após greve dos caminhoneiros, paraibano analfabeto cria moto movida a água
“Sandro
das antenas” ou “da moto movida a água”. É assim que o paraibano Sandro
Alves de Oliveira, de 37 anos, é conhecido pelos moradores da cidade de
Alagoa Nova, no Agreste da Paraíba, depois que inventou um sistema que
faz com que a motocicleta dele seja movida a água.
Sandro
diz que resolveu criar o sistema para fazer a moto funcionar com água
após a greve dos caminhoneiros na Paraíba, em maio deste ano. “Com a
falta de gasolina naquele tempo e com o alto preço do combustível,
decidi criar esse sistema com água para economizar”, explica ele.
Segundo
o inventor, a moto faz 1.000 km com apenas 1 litro de água. “Eu comecei
a desenvolver uns negócios aqui dentro de casa. Fiz uma célula de
hidrogênio, coloquei uma bateria, um produto dentro da água e a moto
explodiu, consigo andar na cidade toda com ela”, revela.
O sistema acontece através de um reator de alumínio, em que as moléculas de hidrogênio se tornam o combustível para a moto. Questionado sobre os experimentos serem perigosos, Sandro diz que fez o projeto com muito cuidado.
O sistema acontece através de um reator de alumínio, em que as moléculas de hidrogênio se tornam o combustível para a moto. Questionado sobre os experimentos serem perigosos, Sandro diz que fez o projeto com muito cuidado.
“Não
é perigoso quando a gente sabe exatamente a quantidade de produto que
precisa ser colocado junto com a água, eu fiz direitinho e deu certo”,
explica.
Mas antes de ficar conhecido na cidade pela invenção da
motocicleta movida a água, alguns moradores já sabiam quem era Sandro. O
primeiro trabalho do inventor foi desenvolver antenas para TV e é isso
que ele faz até hoje.
“Hoje em dia é tudo digital, eu comecei a
trabalhar fazendo antenas e tá dando certo. Eu criei minha própria
antena pra mostrar aos vizinhos e depois eles começaram a me pedir pra
fazer pra casa deles”, conta.
A
produção de uma antena dura cerca de 25 minutos. Além desse trabalho,
Sandro aprendeu sozinho a consertar eletrodomésticos e eletrônicos e
hoje é procurado pelos moradores para fazer esse serviço.
Genaldo
Gonçalves, que se mudou recentemente para a Avenida São Sebastião, onde
a casa de Sandro fica localizada, diz que conheceu o trabalho do
inventor através de amigos e das redes sociais. “Eu ouvi falar do Sandro
e das invenções dele, e o que impressiona é por ele não ter estudo e
desenvolver tão bem esse trabalho com eletrônicos. As pessoas da cidade
procuram consertar os aparelhos eletrônicos com ele, porque ele é muito
inteligente”, afirma.
Sandro
nasceu na zona rural do município e há dez anos mudou-se para o Centro
da cidade. O inventor nasceu com uma deficiência que compromete a fala.
Ele diz que não sabe ler, nem escrever, e que aprendeu sozinho a
consertar eletrônicos e criar suas invenções. “Eu só sei assinar meu
nome, porque eu tive problema de cabeça e nunca consegui estudar”,
explica.
O alagoa-novense conta que tem mais seis irmãos, mas que
mora sozinho com a mãe, Maria Alves de Oliveira, de 79 anos. Maria diz
que já está acostumada com as invenções do filho. “Ele começou com essas
coisas desde que a gente veio morar na cidade, há uns 10 anos atrás,
todo dia é um negócio diferente”.
Sandro
afirma que não consegue estudar porque, quando tenta ler ou escrever
algo, a cabeça dói muito. Mas diz que adora consertar os eletrônicos e
inventar novos projetos. “Há uns anos atrás eu até tentei estudar, mas
nunca deu certo. Já tentei ir a um psicólogo pra entender o que tenho na
cabeça, mas não consegui”, lamenta.
O
inventor não tem acesso à internet em casa e conta que aprendeu a mexer
nos eletrônicos e criar os projetos sozinho. “É tudo da minha cabeça,
eu não vi em canto nenhum. Fui aprendendo depois que comecei a mexer
nisso tudo”, diz Sandro.
“Eu me
preocupo com o meio ambiente e minhas invenções são feitas com materiais
que as pessoas acreditam que não servem mais para nada”, afirma Sandro
Alves.
Quem conhece Sandro pelas antenas ou pela moto movida a
água nem imagina a quantidade de outros projetos que o inventor já criou
com materiais recicláveis que ele encontra no lixo. E é dentro de casa
que Sandro trabalha. Ele tem um quarto reservado só para colocar os
materiais que irão ser utilizados nas novas invenções.
Mas
o quarto da casa já não é suficiente para guardar todo o material.
Sandro conta que quase todos os dias moradores vão até a residência e
entregaram eletrônicos velhos para que ele utilize em seus projetos.
Para
as criações, o inventor conta com a ajuda do amigo desenhista José
Carlos, de 30 anos. “Eu conheci o Sandro desde que ele veio morar aqui
na Avenida São Sebastião, aí a gente começou a inventar esses projetos.
Eu ajudo ele com os desenhos e na produção das antenas também”, diz José
Carlos.
Umas das primeiras invenções
de Sandro, que o amigo José Carlos ajudou a criar, foi a miniatura de
um trio elétrico com materiais recicláveis. O projeto chama a atenção
dos moradores da cidade, que querem vê de perto a criatividade do
inventor alagoa-novense. “Tem uns que eu ainda consigo consertar, mas os
que não servem mais eu desmonto e uso para fazer outras coisas”, diz
ele.
Um dos vizinhos de Sandro, Edvan Nascimento da Silva, diz que
sempre acompanha as criações do amigo. “Isso é uma coisa maravilhosa da
gente ver, eu fico sempre aqui do lado olhando as invenções dele. Esse
trio elétrico é uma coisa linda e essa invenção da moto movida a água
então… nem se fala! Isso poderia ajudar um monte de gente a economizar
na gasolina”, destaca.
Outras invenções criadas a partir de material reciclável
Além
das antenas e da moto movida a água, Sandro criou um projeto que ele
chama de “batedeira reciclável para doces”. “Esse aqui é pra quem gosta
de cozinhar. Eu coloquei um motorzinho, um pedaço de madeira e deu
certo. É como uma batedeira, dá pra mexer doce, mexer massa e tem muita
força”, explica o inventor.
Com um
secador de cabelo, por exemplo, e com a ajuda do amigo José Carlos,
Sandro criou uma miniatura de um parquinho. Ele conta que gosta de
inventar para todo mundo, inclusive para ver a alegria das crianças.
Para
os que gostam de música, os amigos fizeram um puff multifuncional.
“Esse puff aqui é pra quem gosta de sentar e poder ouvir música em
qualquer lugar. É só conectar o bluetooth do celular ou um pendrive
nele, além disso tem um isopor dentro pra colocar um cervejinha”,
explica o desenhista José Carlos.
Ainda
de acordo com Sandro, ele já criou um carregador de celular a base de
energia solar, mas deu a invenção de presente a um amigo engenheiro do
Rio de Janeiro.
“Ele é muito
inteligente, eu fico emocionada com as coisas que ele faz. Ele é uma
pessoa muita boa e é cheio de criatividade”, diz Maria Aparecida, prima
de Sandro.
O paraibano revela que até tem vontade de apresentar o
sistema da moto movida a água para alguma empresa da região que tivesse
interesse em aprimorar o projeto, mas que tem medo da reação das grandes
empresas de combustível com a ideia. “Eu poderia até mostrar a algum
empresário esse projeto, mas tenho medo. Por isso vou deixar essa ideia
só na minha moto mesmo, porque é complicado”.
O inventor
alagoa-novense diz que tem um sonho de criar um carro elétrico a base de
energia solar. “Essa moto movida a água foi só o começo. Eu quero fazer
um carro que funcione através da energia solar”, enfatiza.
Além
disso, Sandro conta que já tem um outro projeto em mente. “Eu também
tenho uma ideia na minha cabeça pra criar um gerador de energia eólica,
pra eu utilizar aqui na minha casa”, destaca.
“É
de uma alegria tremenda a gente ter Sandro como filho de Alagoa Nova,
mesmo com as limitações dele, por não sabe ler, nem escrever, não deixa
de ser esse fenômeno que a cidade ganhou por essas invenções que ele vem
criando”, diz Rivanildo Diniz, empresário na cidade.
Fonte: G1 - Créditos: Érica Ribeiro
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