Tribunal de Justiça da Paraíba mantém condenação de ex-prefeito de São José de Princesa por fraude em empréstimos
A
Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba manteve, por
unanimidade e em harmonia com o parecer do Ministério Público, a
sentença, proferida no regime de mutirão para cumprimento da Meta 4 do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que condenou o Banco Matone S/A
(atual Banco Original S/A), o ex-prefeito de São José de Princesa,
Sebastião Roberto do Nascimento, e mais 10 pessoas ligadas à Prefeitura
pela prática de atos de improbidade administrativa, pela realização de
fraudes na concessão de empréstimos consignados, que resultou num
prejuízo de R$ 415,6 mil ao erário. A Apelação Cível de nº
0000096-78.2011.815.0311 teve como relator o desembargador Luiz Silvio
Ramalho Júnior.
De acordo com o
relatório, o ex-prefeito de São José de Princesa e a ex-secretária de
Finanças, Ângela Rúbia Diniz Morais, foram condenados a ressarcir o
erário municipal pelos empréstimos contraídos irregularmente, cujo
montante ainda será apurado em liquidação de sentença; tiveram seus
direitos políticos suspensos por oito anos; e foram condenados, ainda,
ao pagamento de multa civil, equivalente ao triplo da remuneração
percebida, atualmente, pelo prefeito e secretários, respectivamente.
Eles foram proibidos, também, a contratarem com o poder público ou
receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, pelo prazo de
cinco anos.
Na mesma sentença, os
servidores Silvânia Alves de Sousa dos Santos, Eliete Marques Freire,
Erivonaldo Benedito Freire, Marizarde Geraldino dos Santos, Alba Romina
Diniz Morais, Flávio Pereira Leite, Igleidejane Alves Barbosa, José
Charles Cavalcante e Juliano Diniz Morais foram condenados a ressarcir o
erário; tiveram os direitos políticos suspensos por cinco anos; e
deverão pagar multa civil, equivalente ao dobro da remuneração percebida
pelo atual prefeito e por um atual secretário municipal, bem como foram
proibidos, pelo prazo de três anos, de contratarem com o poder público
ou receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
Já
o Banco Matone S/A foi condenado a ressarcir o erário, em valor a ser
apurado em liquidação, e ficou proibido de contratar com o poder público
pelo prazo de 10 anos.
Investigação
Ao investigar o caso, o Ministério Público da Paraíba constatou que, no
ano de 2006, o então prefeito Sebastião Roberto foi procurado pela
instituição financeira, que lhe propôs a realização de um convênio,
efetivamente formalizado sem a autorização do parlamento local, com a
finalidade de permitir a concessão de empréstimo pessoal consignado aos
servidores daquela edilidade. Ainda de acordo com a denúncia
Ministerial, verificou-se a existência de um acerto informal entre o
ex-prefeito, o Banco e a ex-secretária (que detinha poderes específicos
para atestar a margem consignável) e servidores mais próximos, ocupantes
de cargos de comissão, visando lesionar o tesouro.
O
esquema consistia no aumento fictício dos vencimentos, ampliando-se a
margem consignável e cada funcionário pode contratar um empréstimo no
valor de R$ 20 mil, com parcelas a pagar de R$ 1,8 mil. A quitação do
empréstimo tinha como suporte o próprio erário que, por disposição
expressa, ficara como garantidor em caso de inadimplência. Com isso,
teve que arcar com um prejuízo no valor de R$ 415.603,45.
Recursos
O Banco Matone S/A recorreu da decisão judicial, alegando cerceamento
do direito de defesa, pelo indeferimento de uma prova testemunhal, o
que, segundo ele, teria resultado na condenação da instituição. No
mérito, pediu a absolvição, afirmando que teria sido a maior vítima da
situação. Disse que sempre agiu corretamente e confiou na legitimidade
dos atos administrativos e nas informações fornecidas pelo prefeito e
pela ex-secretária. Subsidiariamente, pugnou para que a condenação fosse
limitada ao efetivo do prejuízo do Município, conforme for apurado em
liquidação.
Por
sua vez, os outros apelantes pleitearam, em preliminar, a apreciação de
agravo retido interposto contra decisão que indeferiu a realização de
prova testemunhal. Suscitaram o cerceamento de defesa. No mérito,
sustentaram não ter havido prejuízo ao erário, ofensa aos princípios da
Administração Pública, bem como a existência de dolo. Disseram que o
magistrado sentenciante não teria enfrentado os argumentos da defesa e
que a condenação teria sido equivocada no que se refere à suspensão dos
direitos políticos, que foi fixada em oito anos, quando o máximo é de
cinco anos, e à proibição de contratar com o poder público pelo prazo de
cinco anos, sendo o máximo três anos.
Ao
final, requereram que o Agravo Retido fosse conhecido e provido,
anulando-se a sentença. Subsidiariamente, pugnaram pelo provimento do
apelo, reformulando-se a sentença com a absolvição, ou que a condenação
fosse redimensionada.
Voto
Em seu
voto, o desembargador Luiz Silvio afirmou que a preliminar suscitada
pelo Banco não devia ser reconhecida, afirmando que, embora a
instituição financeira tenha protestado pela realização de prova
testemunhal, não atendeu ao despacho no processo para manifestar o seu
interesse em produzir prova em audiência, indicando sua necessidade e
pertinência. Tampouco, o Banco teria ingressado com Agravo Retido,
quando do julgamento antecipado do feito.
O
relator desproveu o Agravo Retido e as Apelações Cíveis. Ele afirmou
que, ao indeferir a prova testemunhal, o juiz sentenciante observou que
os apelantes não apresentaram justificativa da sua necessidade e
pertinência. Destacou, ainda, que os autos traziam vasta prova
documental, de modo que a elucidação do caso dispensava a colheita de
depoimentos.
No mérito, o
desembargador-relator disse estar evidente que o convênio firmado sem a
prévia autorização do legislativo municipal não passou de um engodo para
lesar o erário, pois, sem base legal, o Município assumiu a
responsabilidade do pagamento dos empréstimos que não fossem quitados.
“As
condutas dos apelantes, devidamente provadas nos autos, constituem atos
dolosos de improbidade administrativa que, a um só tempo, geraram
enriquecimento ilícito por parte do Banco Matone S/A, que lucrou com os
empréstimos realizados, bem como dos próprios servidores que com ele
contrataram, gerando a correspondente lesão ao erário municipal,
responsável pelos pagamentos respectivos, o que também implicou em
violação dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e
publicidade, tudo isso, mediante a facilitação, permissão e o concurso
direto do então prefeito e da ex-secretária de Finanças, que também era
mutuária, incumbidos da indicação da margem consignável e da irregular
liberação da verba”, arrematou o desembargador Luiz Silvio.
Fonte: Polêmica Paraíba
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