quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Interrogatório de Lula

Com movimentação menor que em interrogatórios anteriores, Lula deixa Polícia Federal pela primeira vez em 7 meses


Lula não sai da PF em Curitiba desde 7 de abril, quando se entregou e foi preso
Nesta quarta-feira (14), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai deixar a Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba pela primeira vez em 222 dias. Preso desde 7 de abril, o petista será levado, em um trajeto de cerca de cinco quilômetros, até a sede da Justiça Federal na capital paranaense, onde será interrogado como réu pela juíza federal substituta Gabriela Hardt no processo do sítio de Atibaia (SP).
No processo do sítio, Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-presidente é acusado de ter recebido propina na forma de quase R$ 1 milhão em reformas pagas pela Odebrecht, OAS e pelo pecuarista José Carlos Bumlai na propriedade. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o dinheiro veio do esquema de corrupção na Petrobras. O MPF também acusa Lula de ter atuado para beneficiar a Odebrecht e a OAS em contratos com a estatal.
Ao marcar o interrogatório, o juiz federal Sergio Moro, que era o titular da ação na época, já havia solicitado à Polícia Federal “as providências necessárias para a realização de escolta” dos presos. Foi o que aconteceu na última sexta-feira (9), quando o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e o ex-diretor da mesma empreiteira Agenor Franklin de Magalhães Medeiros foram levados da PF, onde também estão presos, para prestar esclarecimentos à juíza.
Por razões de segurança, a PF não dá detalhes sobre como será feito o transporte de Lula, que cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão pelo processo do tríplex de Guarujá (SP). A PM (Polícia Militar) do Paraná fará a escolta do veículo com Lula durante o trajeto, além de interditar o trânsito na região da Justiça Federal durante o interrogatório.
A primeira saída de Lula após sete meses deve voltar a movimentar o bairro de Santa Cândida, onde está localizada a Superintendência. À época da prisão, a Prefeitura de Curitiba e moradores da região chegaram a pedir formalmente a transferência do ex-presidente para outro local. A juíza federal Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena de Lula, ainda não tomou uma decisão a respeito. Esse processo está parado desde maio.
13nov2018   carros da policia militar ja se posicionam em frente ao predio da justica federal em curitiba um dia antes do interrogatorio do ex presidente lula no processo da operacao lava jato sobre o 1542135143177 615x300 - Com movimentação menor que em interrogatórios anteriores, Lula deixa PF pela 1ª vez em 7 meses
Carros da PM em frente ao prédio da Justiça Federal em Curitiba um dia antes do interrogatório de Lula
Movimentação menor
A movimentação em torno da audiência desta quarta, porém, não chega nem perto das registradas nos dois primeiros interrogatórios de Lula, realizados em maio e setembro do ano passado. Nas duas ocasiões, o esquema de segurança para a região da Justiça Federal era conhecido com cerca de uma semana de antecedência. No primeiro depoimento, moradores chegaram a ter de se cadastrar junto à PM para acessar suas residências no entorno do prédio da Justiça.
Desta vez, poucos moradores e frequentadores da região da Justiça Federal têm demonstrado saber que o ex-presidente será interrogado mais uma vez. “Muita gente nem está sabendo dessa vez. Tem quem ache que vai ser semana que vem”, disse a vendedora de uma loja que teve de fechar as portas em setembro do ano passado. Nesta quarta, a loja funcionará normalmente, assim como outros pontos comerciais consultados pela reportagem.
O próprio esquema de segurança é menor. No interrogatório de maio de 2017, cerca de 1,7 mil agentes foram destacados pela corporação para garantir a segurança no local. Quatro meses depois, foram mobilizados cerca de 1,5 mil agentes. Para esta quarta, a PM só diz que “contará com efetivo suficiente para atender a comunidade e os órgãos constituídos durante os trabalhos”. A reportagem verificou que veículos da PM só chegaram à região da Justiça Federal no começo da tarde de terça-feira (13)
Os dias anteriores e posteriores aos primeiros interrogatórios também eram marcados por atos promovidos pelo PT e seus aliados em favor de Lula. O próprio ex-presidente chegava a discursar, após as audiências, em uma praça no centro da capital paranaense. Desta vez, nada do mesmo porte está previsto.
A previsão é de que poucas lideranças petistas estejam em Curitiba. Há certeza apenas a respeito da presença da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, e do líder do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta.
Antes de ser levado para a Justiça Federal, Lula deverá receber a visita do candidato derrotado do PT a presidente, Fernando Haddad, que também é um de seus advogados. Haddad, porém, não participará da audiência do interrogatório, onde Cristiano Zanin Martins liderará a defesa do ex-presidente. Outra diferença em relação ao ano passado é que Zanin, ao contrário dos dois primeiros depoimentos de Lula, não tem previsão de conceder uma entrevista à imprensa após a audiência.
Na última segunda-feira (12), após reuniões com o grupo do comitê “Lula Livre” em Curitiba, Gleisi convocou apoiadores do ex-presidente a fazerem concentração nesta quarta em frente à PF e ao prédio da Justiça Federal. “Nós precisamos ter muita gente aqui”, disse a senadora. “Temos que resistir, contar a verdade para o povo. Nós queremos tirar o Lula dali”.
Local e dinâmica
O interrogatório, como nas vezes anteriores, será realizado na sala de audiências 2, localizada no segundo andar do prédio da Justiça Federal, a alguns passos do gabinete da 13ª Vara Federal, onde atua a juíza Gabriela Hardt. Além de Lula, será ouvido o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista que, segundo a acusação, teria ligação com obras no sítio de Atibaia.
Na sala, cabem cerca de 30 pessoas. Além da magistrada, de um assistente de audiência e do ex-presidente, poderão participar advogados dos outros 12 réus, um representante da defesa da Petrobras e membros da força-tarefa da Operação Lava Jato. Devem estar presentes na audiência os procuradores Athayde Ribeiro Costa e Jerusa Burmann Viecilli. Desta vez, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não deve ter representante na audiência, já que não houve solicitação por parte de nenhum dos réus até o momento.
Nos interrogatórios dos outros processos, Moro proibiu a entrada de celulares na audiência. Não se sabe se a juíza substituta fará o mesmo nesta quarta. Nas audiências anteriores do caso do sítio, ela permitiu. “Mas o sinal lá, quando existente, é horrível”, comentou um dos advogados consultados pelo UOL.
Outra mudança é em relação à quantidade de câmeras. Nos primeiros interrogatórios de Lula, estavam instaladas duas, a pedido da defesa do petista, que se incomodava com o fato de a gravação focalizar apenas o réu. Desta vez, a câmera adicional não está prevista, segundo fontes.
A juíza será a primeira a fazer questionamentos a Lula. Depois, perguntam os procuradores da Lava Jato e os representantes da defesa da Petrobras. Na sequência, os advogados dos réus podem questionar Lula. Os advogados do petista, se quiserem, serão os últimos a perguntar. A magistrada pode voltar a questionar o ex-presidente a qualquer momento. No final do interrogatório, Hardt abrirá espaço para que Lula faça suas últimas considerações.
Não há um limite de tempo para a audiência. A primeira, de maio, durou cerca de cinco horas. Em setembro, com Lula já condenado pelo processo do tríplex, mas ainda em liberdade, o interrogatório durou cerca de duas horas.
Segunda aparição pública desde a prisão
Desde que foi preso, Lula só teve uma aparição pública, em 5 de junho, em depoimento via teleconferência como testemunha de defesa do ex-governador Sergio Cabral (MDB). A oitiva, tomada pelo juiz Marcelo Bretas, foi marcada por piadas e uma revelação do magistrado, que contou ter ido a um comício do petista em 1989.
O interrogatório desta quarta seria o primeiro encontro entre Lula e Moro desde que o petista foi preso por decisão do juiz, mas o magistrado deixou os processos da Lava Jato este mês após ter aceitado o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para ser ministro da Justiça. Assim, Lula vai depor pela primeira vez a Gabriela Hardt, substituta de Moro.
Fonte: UOL - Publicado por: Amara Alcântara

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