segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Depressão e suicídio

MÃE DECLARA: “TENTEI DE TUDO, MAS NÃO CONSEGUI EVITAR QUE MINHA FILHA DE 24 ANOS TIRASSE A PRÓPRIA VIDA”



Ana Luísa era uma menina querida e doce, que estava prestes a se formar na faculdade de moda e sonhava em abrir o próprio negócio, como a maioria das garotas de 24 anos, planejava se casar e já tinha um namorado.
A garota muito linda queria viver, mas sentia dentro de si uma dor que não a deixava ser feliz, seu coração pulava do peito e os desmaios eram frequentes.
A jovem sofria tanto que nas últimas semanas de vida, já não dormia. Não queria mais tomar os reméfios para dormir, porque os pesadelos e as lembranças vinham à tona sempre que fechava os olhos.
A mãe fazia de tudo e nunca a deixava sozinha, a levava para o trabalho sempre e fazia tudo o que podia para ajudar sua filha.
Ana Luísa passou a ter crises tão fortes de ansiedade que seu coração saltava do peito e ela desmaiava, os pais pensavam que era por causa da faculdade, mas mesmo assim a levaram ao neurologista e cardiologista, mas os exames não deram nada, os pais então entenderam que estava acontecendo alguma coisa que ela não queria contar.
As férias chegaram e, no ano seguinte, o menino não estava mais na escola. Ana Luísa voltou à Educação Física sem pestanejar. Depois disso ela ia à escola com uniforme masculino, roupas largas, que não mostravam o corpo.
Um dia, ela disse a mãe que um coleguinha do colégio comentou que meninos não gostam de meninas que usam roupas largas. Por isso, ela passou a usar. Não queria que ninguém olhasse para ela, daí vieram às roupas pretas, cabelos descoloridos, ela tentava apagar de vez a imagem da garotinha de dez anos que sofreu calada abusos no banheiro, lembranças que ela nunca esqueceu.
Mas a jovem começou a namorar e os gatilhos das lembranças vieram à tona, embora o namorado se preocupava demais com ela, Ana Luísa começou a reviver em sua mente os horrores dos abusos que viveu.
Quando assistia cenas de abuso em filmes ela chorava e gritava. Se automutilava, cortava braços e pernas. Fazia cortes tão profundos que precisava levar pontos, na maioria das vezes. Fazia isso para aliviar a dor que sentia. Em suas últimas duas semanas de vida ela leu uma notícia de um estuprador que estava atacando mulheres em São Paulo e não dormiu mais.
Ana Luísa tentou se suicidar por duas vezes tomando altas doses de medicamentos e seus pais passaram a esconder os remédios. No dia que tudo aconteceu a mãe a deixou na casa da avó, esperou ela entrar no condomínio e foi para o trabalho, uma hora depois seu marido ligou dizendo que ela não chegou lá, sua mãe desesperada achou impossível, pois ela havia visto a filha entrar.
Ana Luísa deixou uma mensagem de agradecimento e despedida para a psicóloga, o pai, a mãe e o namorado, disse que não era culpa deles, mas ela não aguentava mais viver com a dor das lembranças. Quando a mãe soube do sumiço dela, já imaginou o que tinha acontecido.
Ao analisar as câmeras de segurança do prédio, ela viu que ela entrou, sentou no sofá do hall de entrada e ficou parada por um tempo. Pegou o celular, mandou as mensagens, e saiu. Foi à última vez que ela viu sua filha.
A mãe não quis divulgar a forma que a filha fez para tirar a própria vida, porque isso pode estimular outras pessoas, ela conta que o abusador sabe escolher suas vítimas, aquela que não vai abrir a boca, ele dizia que se ela contasse ele iria matar seus pais e a menina aguentou tudo calada e sozinha.
Hoje seus pais fazem parte de um grupo que ajuda pessoas abusadas, e pedem aos pais que acreditem em seus filhos, mostre que eles podem confiar em vocês. Quando eles descobriram o que tinha acontecido com sua filha, a depressão já tinha matado Ana Luísa por dentro. Se ela tivesse compartilhado isso com os pais antes, talvez eles tivessem conseguido salvar a vida dela.
Depois de passar por muitos psicólogos ela finalmente se identificou com uma e contou tudo o que aconteceu com ela alguns meses antes do suicídio. A jovem havia sido abusada sexualmente aos dez anos de idade, na escola particular onde estudava em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
Ela revelou isso à psicóloga e pediu para que a especialista contasse a sua mãe e ao pai dela. Foi quando a mãe descobriu que sua menina foi estuprada por seis meses por um garoto seis anos mais velho, no banheiro da escola nas aulas de Educação Física. Por alguns meses, ela relutava e chorava, pedia para não participar das aulas esportivas. Os pais não entendiam. Mesmo sem saber o que estava acontecendo, eles conseguiram um atestado médico que a liberou das aulas.
Jornal do País

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