Na véspera da eleição, João Doria samba com passista e reclama de ‘campanha suja’
Em
seu último dia de campanha, João Doria virou a noite numa vigília
evangélica, fustigou o “conteúdo ideológico” em universidades, prometeu
processar um vereador, acusou seu rival de fabricar fake news, disse
passar “pela mais suja das campanhas políticas do Brasil”, fez seu sinal
de “acelera” a bordo de um jipe acelerado, desfilou entre militantes
com chapéus de tucano de pelúcia, sambou com uma passista e repetiu
tantas vezes quanto pode: Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro.
A horas
de sair a derradeira pesquisa Datafolha da temporada, que o mostrou
pela primeira vez atrás de Márcio França, mas na margem do empate
técnico (49% vs. 51%), o candidato do PSDB ao governo de São
Paulo definiu este ciclo eleitoral como “muito duro e muito sujo”.
E
seu estado, segundo ele, caprichou na dose. “A mais suja das campanhas
políticas do Brasil foi feita aqui”, afirmou na manhã deste sábado (27),
em ato com motoboys no Capão Redondo (zona sul paulistana).
Como
de praxe, ele buscou se associar ao presidenciável do PSL. “Foi muito
suja também em relação ao candidato Jair Bolsonaro.” A primeira de
muitas menções ao capitão reformado que, no fim das contas, se esquivou
de declarar voto ao tucano em São Paulo.
“É impressionante o grau
de maldade dos partidos aglutinados em torno do Márcio França, e com a
condescendência dele. Se ele não fez, permitiu que se fizesse”, disse
Doria, que vestia uma camiseta amarela onde se lia BolsoDoria, tudo em
frente a uma lanchonete chamada McChina.
Minutos antes, um carro
de som passou pela rua já lotada de motoqueiros com bandeiras da
campanha tucana, mas sem sinal do candidato, e o motorista falou no
megafone: “Pede um carro pro João, este tem dinheiro!”. Alguns dos cabos
eleitorais disseram estar ali mediante pagamento.
Doria afirmou que na segunda-feira (29) entrará com duas queixas-crime contra o vereador Camilo Cristófaro (PSB),
que chegou a apresentar o laudo de um perito para sustentar que um
vídeo em que Doria supostamente aparece fazendo orgia com várias
mulheres é verdadeiro.
O ex-prefeito tem outro parecer que afirma
se tratar de montagem. “O líder disso é um vereador do PSB, que tem uma
ficha criminal de mais de um metro. É o Camilo Cristófaro, que está
cassado.”
DORIA VAI À IGREJA
A comunidade evangélica está inquieta desde o vazamento do vídeo com o ex-prefeito supostamente envolvido no sexo grupal.
O
apóstolo Agenor Duque, da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus,
tinha boas relações com Doria e, em campanhas passadas, com outros
tucanos, como Geraldo Alckmin e José Serra.
Mas divulgou um vídeo
não só declarando apoio ao oponente do tucano neste pleito, como
classificando a participação (não comprovada) de Doria na orgia como
um “ato maligno, diabólico”. E ainda: “Quando o ímpio governa, o povo
geme”.
A equipe responsável pelo contato de Doria com igrejas
intensificou a agenda religiosa do chefe às vésperas da campanha. Na
sexta (26), o tucano foi a dois templos da Mundial do Poder de Deus, do
apóstolo Valdemiro Santiago, famoso por usar um chapéu de vaqueiro. Saiu
depois das duas da manhã.
Reuniu, ainda, vídeos de pastores
endossando a candidatura tucana —disparados para uma rede evangélica de
contatos. Um deles menciona a gravação da noite de sexo, chamada de
montagem.
Diz o missionário Ezequiel Pires: “Você pode ter certeza
que as pessoas ficam subestimando
a inteligência do povo. Ninguém acreditou naquele vídeo”.
Doria se voltou a um assunto caro a evangélicos:
o que chama de excessiva presença de “conteúdo ideológico” no ensino
brasileiro. “Quem faz política faz fora da escola”, afirmou.
O
ex-prefeito se alinha, assim, ao ideário pregado pelo projeto Escola
Sem Partido, que quer expurgar o que entende como infestação ideológica
no ensino. E isso em meio à polêmica das operações policiais em
universidades (que ele diz ser contra, por achar que é preciso ganhar
essa guerra “pelo convencimento”).
Disse o tucano: “Não é na
universidade nem na escola que se pode ter conteúdo ideológico.
Universidade é para aprender, estudar, qualificar, colocar as pessoas em
condições de serem profissionais, serem professores, serem cientistas,
não políticos”.
Se vitorioso amanhã, ele comandará o estado responsável pela maior rede estadual de ensino e pela universidade do Brasil, a USP.
Em
entrevista a jornalistas, o candidato a governador também comentou o
apoio que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa deu a Fernando Haddad
(PT), por sentir medo de um candidato, Bolsonaro, “pela primeira vez em
32 anos de exercício de voto”.
Doria, que constrói sua campanha em
torno do voto casado BolsoDoria, disse que “cada um faz a sua opção, e
eu não faço a opção pela esquerda, mas por Jair Bolsonaro”. Frisou, em
seguida, respeitar quem toma outra decisão eleitoral.
Fonte: UOL - Publicado por: Larissa Freitas
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