Cássio Cunha Lima: da ascensão política nacional à queda estadual nas urnas
Cássio Cunha Lima conquistou tamanho no centro do poder; o estrelato custou a perda de força entre os conterrâneos |
Se
estiver num restaurante em São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro, o
senador Cássio Cunha Lima (PSDB) será fatalmente cumprimentado por
clientes. Gente que passou a conhecê-lo mais pelo desempenho nas
tratativas nacionais, especialmente, no epicentro da crise e do
impeachment, com aparições frequentes na mídia nacional e lugar
reservado no alto clero do Congresso e da cúpula tucana. Foi de líder do
PSDB a vice-presidente, no Senado.
Na Paraíba, o sucesso não se
repetiu nas urnas. O Estado, de ampla maioria de simpatia petista, não
viu com bons olhos o desempenho parlamentar ascendente do paraibano na
cena nacional. Compreensível. O destaque serviu para tirar Dilma
Roussef, um desastre consensual, e empoderar Michel Temer, cujo governo
virou sinônimo de rejeição desde quando explodiu a delação da JBS.
A
tentativa de desassociação ao governo Temer, meta de sua campanha de
marketing, não foi suficiente ao ponto de desapartar as imagens, apesar
do rompimento, das críticas e da defesa de investigação do presidente
nas duas denúncias apresentadas contra o emedebista pela Procuradoria da
República.
Esse, claro, não foi o fator único da derrota
assistida, com ares de surpresa e bocas abertas Paraíba afora, nesse
domingo último.
Durante os últimos quatro anos, Cunha Lima virou
alvo preferencial, renitente e sistemático do governador Ricardo
Coutinho e toda sua articulação política. Religiosamente, o socialista
atacava e desqualificava o adversário. Quando não era perguntado sobre
Cássio, Ricardo puxava-lhe para o centro do ringue com exaustivos socos
verbais.
Coutinho focou na derrota daquele a quem um dia foi
aliado e venceu junto as eleições de 2010, numa aliança rompida em 2014,
com vitória do governador e derrota cassista. O insucesso da eleição
passada também somou bastante para deteriorar a liderança de Cássio em
rincões e colégios eleitorais onde predominou por muito tempo.
No
mais, a queda é resultado do acúmulo de desgaste ao longo de mais de
três décadas de exercício de mandatos, sem interrupção, no instante em
que o eleitor optou por renovação e novas apostas. Cássio não fora a
única vítima. O povo mandou para casa os caciques Romero Jucá, Edison
Lobão e Eunício Oliveira e até políticos da estampa de Cristovam Buarque
(PPS), Miro Teixeira (PDT) e Chico Alencar foram à guilhotina. O tucano
entrou no redemoinho também.
No cômputo geral, um paradoxo: a
opção pela duríssima e combativa oposição aos governos do PT, que deu a
Cássio tamanho nacional e respeito no centro da política, foi a mesma
que teve peso decisivo na sua queda estadual, onde a maioria do eleitor
– à semelhança de todo o Nordeste – tem lembrança afetiva e gratidão a
Lula. Foi o preço.
MaisPB - Por Heron Cid
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