Jair Messias Bolsonaro é eleito novo presidente da República e vai comandar o país a partir de janeiro
Foto: Folha de São Paulo |
Jair
Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil no segundo turno da eleição
realizado neste domingo (28) e passa a comandar o país a partir de
janeiro. Bolsonaro teve mais de 55% dos votos, enquanto Fernando Haddad
aparece com 44,66%. Mais cedo, quando votou, o capitão reformado disse
que estava na expectativa da vitória: “O que eu vi nas ruas ao longo dos
últimos meses: vitória.”
Desde o período pré-eleitoral, sem o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa, o mestre em
saltos da brigada paraquedista do Exército, Jair Messias Bolsonaro,
candidato da coligação PSL-PRTB, liderou todas as pesquisas de intenções
de voto para a Presidência da República. E venceu o primeiro turno, e
conquistou a presidência no segundo turno com mais de 55% dos votos
válidos.
Com apoio até de defensores da monarquia, o capitão da
reserva, nascido em Campinas (SP) há 63 anos, fez uma campanha popular,
que reuniu grandes grupos de simpatizantes nas ruas, mas também foi alvo
de muitas críticas e contraofensivas.
Ocupando o espaço de principal rival do PT,
Bolsonaro firmou-se como defensor de propostas que se enquadram no arco
da extrema-direita e nunca se intimidou com os limites impostos pelo
politicamente correto. Sua trajetória parlamentar é marcada pela
virulência de seus discursos – que ele considera como livre opinião,
protegida pela imunidade parlamentar.
Fez, por exemplo, declarações consideradas ofensivas e discriminatórias contra negros e quilombolas. Em 11 de setembro,
o STF julgou Bolsonaro por acusação de racismo – inocentando-o por um
placar de 3 a 2 na Primeira Turma. Publicamente, se opôs às ações
afirmativas, como a adoção de cotas étnicas para o ensino superior.
Demonstrou
também ser contrário às leis de proteção ao público LGBT. Como
deputado, combateu sem trégua, em 2011, quando Fernando Haddad (PT) era
ministro da Educação, o que chamou de “kit gay” – um material didático
contra homofobia que seria distribuído pelo governo para as escolas
públicas.
Bolsonaro sempre se insurgiu ainda contra a proteção que
os direitos humanos conferem aos que estão sob custódia do Estado. Já
disse ser a favor da pena de morte e contra o Estatuto do Desarmamento.
Condena a descriminalização das drogas e quer que o cidadão comum possa
se armar, em legítima defesa, contra ação de bandidos. Esse foi o seu
principal recado aos eleitores na área de segurança.
Durante a
campanha, seu discurso foi se tornando mais moderado. Teve inclusive que
enviar carta ao STF para prestigiar a Corte depois que seu filho, o
deputado federal Eduardo Bolsonaro (SL), apareceu em vídeo dizendo que
“bastava um cabo e soldado para fechar o STF”. Jair Bolsonaro condenou a
violência entre eleitores e conclamou os brasileiros à pacificação.
Mulheres
Com
o sucesso de suas propostas e de sua pregação, Bolsonaro virou um
fenômeno de massa, mas encontrou resistência, segundo demonstraram as
pesquisas de opinião, no eleitorado feminino. Ele afirmou considerar
questão de mercado a diferença salarial entre homens e mulheres –
posição da qual mais tarde recuou.
O candidato já foi condenado no
Superior Tribunal de Justiça (STJ) por apologia ao estupro. Em 2014, da
tribuna da Câmara, ele disse à colega deputada Maria do Rosário (PT-RS)
que ela não merecia ser estuprada. Ele recorreu e o caso aguarda
julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Por causa dessa decisão do
STJ, ele se elege como o primeiro presidente que é réu na Justiça.
Memória
Um fato rumoroso marca o início da vida pública de Bolsonaro. Em 1987, reportagem publicada pela revista Veja informou
que havia um plano denominado “Beco Sem Saída” para explodir bombas em
banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em
Resende (RJ), quartéis e locais estratégicos do Rio. O objetivo seria
protestar contra os baixos salários. O então capitão publicara um artigo
em que reivindicava a melhoria dos soldos – o que lhe rendeu,
posteriormente, punição disciplinar.
Na ocasião, Bolsonaro foi
identificado como fonte da reportagem, que exibia croquis feitos a mão
supostamente pelo próprio militar. Ele negou as acusações, recorreu ao
Superior Tribunal Militar (STM) e foi absolvido. Em 1988, foi para
reserva. Já conhecido e identificado inicialmente como porta-voz de
reivindicações militares, iniciou então a carreira política no Rio de Janeiro.
Com
a pauta ampliada para segurança e temas “contra a ideologia
esquerdista”, foi eleito sete vezes deputado federal, permanecendo quase
três décadas no Congresso Nacional, período em que apresentou mais de
170 projetos, mas teve apenas dois aprovados. Foi o mais votado no Rio
para a Câmara em 2014, obtendo 464 mil votos.
Corrida Presidencial
Na
corrida ao Palácio do Planalto, o candidato teve dificuldade para
ampliar alianças e negociar um nome para vice-presidente – cargo
entregue ao polêmico general Mourão (PRTB), que trouxe consigo o apoio
de alas da elite das Forças Armadas. Bolsonaro já negou várias vezes que
tenha existido golpe militar e tortura política no Brasil.
Desde o
início, ele apresentou o banqueiro Paulo Guedes como o fiador de seu
programa econômico. Com o aumento de sua popularidade e a entrada de
Guedes na campanha, cresceu também o apoio de setores empresariais e
financeiros ao PSL. Fiel ao discurso anticorrupção, diz que vai
combatê-la acabando com ministérios e estatais.
Casado três vezes,
tem cinco filhos, dos quais três estão na vida política – Carlos é
vereador no Rio, Flávio é deputado estadual no Rio e Eduardo é deputado
federal por São Paulo. O PSL é o seu nono partido. À Justiça Eleitoral,
declarou patrimônio de R$ 2,3 milhões.
Atentado
Com apenas
oito segundos de propaganda eleitoral, o candidato e seus filhos, que
costumam criticar a imprensa, usaram as redes sociais intensamente e
terminaram acusados pelos adversários de liderarem a produção de fake news nessas
eleições. Denúncia sobre o uso impulsionado de mensagens em
aplicativos, supostamente pago por empresários pró-Bolsonaro, está sendo
investigada pela Justiça Eleitoral. Pelas redes, detalharam até o
estado de saúde de Bolsonaro quando esteve hospitalizado durante o
primeiro turno, alvo de atentado a faca – algo que nunca aconteceu a
presidenciáveis em campanha, após a redemocratização no Brasil. Ferido
em 6 de setembro quando
participava de ato público em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro passou 22
dias internado, recuperando-se de uma hemorragia e de duas cirurgias no
intestino. Ele foi atacado pelo desempregado Adélio Bispo – que hoje é
réu por “atentado pessoal por inconformismo político”. Nos últimos dias
de campanha, Bolsonaro, que votou com colete à prova de bala e forte
esquema de segurança, voltou a dizer que não acredita que Adélio agiu
sozinho.
MaisPB com Agência Brasil
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