O que os candidatos deverão fazer?
Em
uma eleição polarizada e atípica, a saída tanto para Haddad quanto para
Bolsonaro conseguirem vencer as eleições passa por um aceno ao eleitor moderado,
uma espécie aparentemente cada vez mais rara. A afirmação é do analista
político Creomar de Souza, da UCB (Universidade Católica de Brasília).
“Fundamentalmente,
o Haddad e Bolsonaro precisarão construir uma lógica discursiva mais ao
centro para conquistar os 50% dos votos mais um”, afirmou.
De uma certa maneira, ambos os candidatos já começaram a fazer esse movimento antes mesmo do fim do primeiro turno.
Em
seus últimos atos de campanha, Haddad fez questão de levar sua mulher,
Ana Estela Haddad, e de enfatizar que é casado há quase 30 anos com ela,
num aceno a segmentos mais conservadores religiosos do eleitorado.
Bolsonaro, por sua vez, mencionou ateus e gays em seu último discurso antes da votação do primeiro turno numa tentativa de se mostrar conciliador e próximo a esses dois públicos.
Creomar
afirma que apesar de a rejeição de Haddad ser levemente menor que a de
Bolsonaro, isso não significa que sua missão seja mais fácil.
“A
gente observou um quadro de muita fidelização do eleitor. Para o Haddad,
não basta ele conquistar os votos do Ciro Gomes (PDT). Ele precisa
avançar sobre os eleitores do Bolsonaro também se quiser vencer. Digamos
que a remada dele neste segundo turno terá de ser mais longa, mais
forte e mais rápida que a do Bolsonaro”, explicou.
Creomar também afirma que Haddad tem um desafio adicional em seu aceno ao centro: mostrar que “existe um Haddad fora de Lula”.
“Haddad
tem o desafio da identidade. Ao longo da campanha, ele se mostrou como
uma espécie de personificação de Lula. Isso é um complicador porque Lula
tem uma grande rejeição. Ele precisa mostrar que existe um Haddad fora do Lula”, afirmou.
Bolsonaro,
por outro lado, também terá de ir ao centro ao mesmo tempo em que,
segundo Creomar, terá que cuidar com o “fogo amigo”. “O Bolsonaro tem
que tender ao centro e tomar muito cuidado com declarações que sejam polêmicas. Se ele conseguir fazer essa modulação, vai ficar faltando muito pouco para ele conquistar a Presidência”, explicou.
O perigo das rejeições
Tanta rejeição pode ser tóxica à democracia brasileira.
A análise é de Carlos Melo. Segundo ele, diferentemente do que ocorre
em outros países democráticos e mesmo do que ocorreu no Brasil
recentemente, as eleições deste ano não se transformou em um debate
sobre como o país será administrado. Virou uma disputa sobre dois
projetos de sociedade.
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