Estratégia tucana se frustra, e Geraldo Alckmin chega à reta final da eleição encolhido
O candidato chega às vésperas da eleição sem mudar de patamar de intenção de voto
© REUTERS/Sergio Moraes
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O candidato chega às vésperas da eleição sem mudar de patamar
de intenção de voto, com uma candidatura politicamente encolhida após
sucessivos abandonos de aliados e pouca perspectiva de sobreviver ao
primeiro turno.
O prazo estipulado por Alckmin para esboçar reação
se estreitou. Era depois da Copa. Passou para agosto. Meados de agosto.
Só em setembro. Segunda quinzena de setembro. Últimos 15 dias. Últimos
sete dias. Últimos três dias. Em seu entorno ainda se fala em
reviravolta, mas há pouca convicção.
O ambiente mudou. Antes do
dia 6, cercado pela confiança de aliados e equipe, o tucano montava um
arsenal para avariar a guarda do capitão reformado. Alckmin concentrava
esforços em articulações políticas e em gravações para a propaganda de
TV.
Suas agendas públicas eram majoritariamente feitas de
encontros com lideranças e simpatizantes, em ambientes minimamente
controlados.
Aliados lotavam sua caixa de e-mails. Em Pelotas
(RS), no final de agosto, divertiu-se ao reler mensagem sugerindo que
atravessasse o rio São Francisco a nado. "Em campanha, todo mundo é
técnico de futebol. Tem algum palpite para dar", constatou.
Dias
depois, com uma semana de horário eleitoral na televisão e no rádio, o
dono da metade do tempo disponível para a propaganda política começava a
ver seus esforços surtirem efeito.
Ainda que não tivesse subido
nas pesquisas, a ofensiva aprofundava a rejeição a Bolsonaro, segundo a
campanha. A aposta era que Fernando Haddad, depois de finalmente
oficializado candidato do PT, encostaria no candidato do PSL, levando a
uma recuperação do voto antipetista pelo PSDB. Aí veio a facada.
Como
os demais postulantes, o tucano suspendeu os ataques a Bolsonaro. Foram
cerca de dez dias de trégua, até que a impaciência tomou aliados. O
capitão estava estável, e Alckmin mantinha sua habitual ponderação.
Pressionado,
o tucano concordou em subir o tom. Foi para o estúdio gravar
propagandas apontando o risco de venezuelização do Brasil, com
descontrole econômico e social e autoritarismo.
Intensificou
agendas de rua. Caminhadas por calçadões se tornaram diárias,
especialmente em São Paulo, o estado que o elegeu três vezes governador,
duas no primeiro turno. Queria, nos minutos diários em que o noticiário
na TV dedica à agenda dos candidatos, aparecer com o povo.
Moças e
moços de calça verde e camiseta amarela fecharam contrato por pouco
mais de R$ 1.000 para um mês de campanha. Com coreografias feitas para
os jingles tocados em espiral, aguardavam o candidato chegar sob chuva
(Guarulhos) ou no calor de 30ºC (Santo André). Os atrasos viraram piada:
até José Serra estava mais pontual.
As agendas não atraíram
multidões. Militantes do PSDB deram volume aos atos, mas a receptividade
nas ruas foi, em geral, calorosa. Se fotos dessem votos, brincava-se, o
tucano finalmente deslancharia.No bairro da Liberdade, na capital
paulista, dias atrás, uma simpatizante entregou a Alckmin um pacote de
pão de mel. Ele comemorou. "A última vez que almocei foi no mês de
agosto", brincou.
Mesmo entre aliados, o tucano não dá sinais de
abatimento. Bolsonaro se mantém isolado na liderança, seguido por
Haddad. Estrategistas da campanha do PSDB duvidam de vitória no primeiro
turno. Mencionam a vantagem de votos que o deputado precisaria abrir e o
bom desempenho esperado do PT no Nordeste.
Interlocutores
ensaiam teses sobre a campanha. Elencam, primeiro, o palanque duplo em
São Paulo. O argumento decisivo de Alckmin para conquistar o apoio do
centrão, em julho, era que seus 30% de votos paulistas o garantiam no
segundo turno. Entregou até agora metade disso.
O segundo
problema, apontam, é o desgaste do PSDB e seus constrangimentos semanais
com operações policiais, prisões e traições. Um dos fundadores do
partido, Xico Graziano esperou a última semana da eleição para anunciar
sua desfiliação e declarar voto em Bolsonaro.
Ex-chefe de gabinete
e aliado de Fernando Henrique Cardoso, Graziano alegou decepção com o
pragmatismo de Alckmin ao se aliar ao centrão. "Decisão dele,
naturalmente. Trabalhou comigo, não trabalha mais. Cada um é cada um.
Repito: meu voto será em Alckmin", disse FHC.
A terceira questão
apontada pela campanha tucana é o PT, que se desobrigou de atacar
Bolsonaro e se refugiou no que veem como vitimismo decorrente da prisão
de Lula.
Por fim, concluem, o perfil do candidato parece ter se provado
moderado demais para o momento do país.
Política ao Minuto com informações da Folhapress
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