No Brasil de hoje, ser conservador é a atitude mais digna que um ser humano pode ter
Qualquer um que viva na sociedade contemporânea tem conhecimento de
uma de suas mais acentuadas tendências: o fascínio pelo moderno, pelo
novo — por tudo, enfim, que seja up-to-date.
Basta reparar, por exemplo, no uso da tecnologia: antes restrita a círculos profissionais, agora é item de uso ordinário.
Esse fascínio pelo novo também se manifesta no culto à juventude, tão presente na cultura de massa e na onda fitness, e que se baseia na suposição de uma idade mágica entre os 20 e os 30 anos.
É fato reconhecido, aliás, que o adolescente e jovem adulto médio dos
dias de hoje conhece escassamente o passado, mesmo em suas áreas de
interesse. O tempo dos jovens é o tempo da cultura de massa, das redes
sociais, do Youtube — nos quais as tendências e os ídolos mudam em
poucos meses ou mesmo semanas.
Compare-se os filmes dos 1970 e os de hoje: antes, os protagonistas
(e os atores que os interpretavam) tinham em sua maioria mais de 35
anos; hoje predomina o protagonista jovem adulto, adolescente ou
criança.
O fascínio pelo novo não se limita porém à tecnologia ou cultura. No
debate público, propostas que prometem “avançar” a sociedade —
legalização do aborto e das drogas, criminalização de opiniões tidas
como preconceituosas etc. - são cercadas por aura quase mística, e quem
ousa apontar equívocos em tais projetos é acusado de "reacionário" e,
termo mais em moda nesses dias radicais, “fascista”. Policy makers se sentem lisonjeados ao serem chamados de "progressistas", enquanto rejeitam como ofensivo o termo “conservador”.
No debate público, os formadores de opinião concedem aos
progressistas o benefício das boas intenções — enquanto lançam aos
conservadores a suspeição imediata de interesses ocultos, até que provem
o contrário.
Esse culto ao novo (como acontece com cultos em geral) ampara-se na
simplificação excessiva. Desconsidera as nuanças. Lança o facho de luz
sobre um único aspecto, relegando tudo o mais às trevas.
Mas, a verdade oculta nas sombras é: em tudo devemos algo ao passado.
Nossa língua, nosso modelo político, nossa religião.... Em cada um de
nós estão presentes os traços gerais da cultura em que nascemos,
crescemos e vivemos — e todos remetem ao passado. A Psicologia inclusive
reconhece que a história familiar, mesmo a de gerações pregressas ao
nascimento do indivíduo, exerce influência importante sobre a conduta
humana. Até mesmo o caráter de um povo, ou seja, seus traços
distintivos, remete à sua formação e evolução — o que pode ser
comprovado na leitura atenta das literaturas nacionais. Nada é
plenamente compreensível a partir do atual, do imediato; mas somente com
visão retrospectiva, a mesma que o homem moderno minimiza ou mesmo
rejeita.
O homem moderno que menospreza o passado é como um peixe que
menosprezasse a água que o rodeia. Agindo assim, retrocede — embora se
considere evoluído e rotule os que prestam contas ao passado como
"conservadores" ou "reacionários". Mal sabe ele (sequer suspeita) que
menosprezar o passado, o antigo, o arcaico é perder aquilo que o ser
humano tem de único, se comparado às demais espécies animais.
De fato, somente a espécie humana é capaz de registrar suas
experiências e transmiti-las a outrem. Este senso histórico, por assim
dizer, ajuda-a não repetir os mesmos erros. O acúmulo de experiências
permite ainda realizações grandiosas demais para uma única geração.
Dizemos que grandes inventores criaram artefatos ou elucidaram processos
da natureza — mas o trabalho deles só foi possível por conta dos
registros acumulados pelos que os antecederam. Não é exagero considerar o
senso histórico como uma das vantagens humanas decisivas em relação às
demais espécies animais.
O repúdio ao passado é o repúdio a esse legado humano único: o
acúmulo de lições e valores por meio da História. Ao tentar suplantar o
passado, relegando-o como se ele jamais existira, o moderno ou
progressista opta — para usarmos uma figura de Ortega y Gasset — por
descer e agir como orangotango. É uma postura anti-humanista,
obscurantista.
Como uma postura assim pode ter se disseminado na sociedade brasileiro, a ponto de entranhar-se no debate público?
Isso só foi possível porque a base de valores tradicionais de nossa
sociedade já está em alguma medida enfraquecida — já por processos
naturais de modernização, já (e isso é o mais grave) por processos
implementados deliberadamente por agentes de mudança social. Estes
últimos, imbuídos de Marxismo cultural, estão a serviço de uma "guerra
cultural", cujo objetivo é a destruição dos valores greco-cristãos sobre
os quais nossa sociedade foi constituída.
Esses agentes do progresso, com presença na educação e nas políticas
sociais, constroem um passado imaginário, falsificado, que não merece
estudo sério ou reconhecimento. Expostas a isso, as novas gerações
crescem num presente constante, incapazes sequer de imaginarem todo o
universo de referências que lhe foge do alcance. Se os jovens de ontem
eram ingênuos por acreditarem numa História repleta de heróis e seus
grandes feitos, os de hoje são cínicos justamente por não acreditarem
mais nisso. Acham-se “críticos” aos acreditaram (de modo ingênuo) numa
História em que uma burguesia onipresente impediu, a todo instante e a
qualquer propósito, a Pasárgada prometida pelo Marxismo, essa religião
de ateus.
Num contexto assim, no Brasil de hoje, a quem cabe defender o legado humano?
A nós, conservadores.
Afinal, o conservador, livre da moda de menosprezar o passado, está
apto a incorporá-lo no presente, reforçando o papel do homem civilizado e
mostrando-se assim à altura do legado compartilhado pela sociedade
humana.
No Brasil de hoje, ser conservador é a atitude mais digna que um ser humano pode ter.
Minto: é a única atitude digna que um ser humano pode ter.
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