Ex-governador Jaques Wagner articula para ser candidato a vice-presidente de Ciro Gomes
O
ex-governador da Bahia Jaques Wagner comunicou ao ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva que, caso a candidatura do petista seja rejeitada
pela Justiça, pretende se apresentar como candidato a vice-presidente,
endossando cabeça de chapa de outro partido. Wagner refutou a
possibilidade de ser o candidato alternativo do PT, o chamado plano B,
com o provável impedimento de Lula em razão da Lei da Ficha Limpa — que
veda a inscrição na disputa eleitoral de candidatos condenados em
segunda instância. Wagner defende que, na impossibilidade legal do que
chama de plano L, o PT deveria abraçar o plano C — de Ciro Gomes,
candidato do PDT à Presidência.
Aos 67 anos, Wagner é formalmente
candidato ao Senado pelo PT da Bahia. Pesquisas apontam que atinge 35%
das intenções de voto, liderando a disputa das duas vagas para o cargo
no estado. Só abriria mão de eleição em que lidera em nome de uma
coalizão ampla à Presidência, com possibilidade real de chegar ao
segundo turno. Acredita que o prazo de transferência de votos de Lula
para um candidato indicado por ele — na reta final da campanha — seria
apertado demais. O apoio a um nome fora do PT limitaria danos do
desgaste sofrido pela legenda com o impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff e com o escândalo do petrolão apurado pela Operação Lava Jato.
Na
semana passada, Jaques Wagner telefonou ao coordenador do programa de
governo petista, Fernando Haddad, informando-o de sua decisão. Pediu que
o ex-prefeito paulistano reforçasse com Lula a estratégia que defende,
de se postar como candidato a vice, com o PT abrindo mão da cabeça de
chapa. Formado em Direito, Haddad foi incluído no rol dos defensores
legais do ex-presidente. Ele tem acesso livre à cela em que Lula cumpre
pena de 12 anos de prisão, condenado por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Surpreso com o telefonema do ex-governador baiano, Haddad
sugeriu que o próprio Wagner tratasse do tema com Lula. Avaliou que não
seria o canal adequado, porque parte do PT — em especial lideranças mais
jovens — acredita que o ex-prefeito deve ser o plano B. Wagner, no
entanto, é o candidato alternativo de lideranças petistas mais
tradicionais e importantes, como o ex-ministro José Dirceu. Haddad
preferiu se manter neutro diante da articulação que Wagner sinalizou
iniciar.
“A tese é que, não sendo Lula, o PT não deve indicar o
substituto. A discussão não inclui necessariamente a questão de vice, a
menos que o PT queira estar na chapa. Não estou tratando de Ciro, mas do
conceito”, disse Wagner a ÉPOCA.
Interlocutores de Wagner
afirmaram que o ex-governador se preocupa com desdobramentos policiais
caso assuma a disputa à Presidência. Ele é investigado em inquérito da
Polícia Federal por supostamente ter recebido R$ 82 milhões das
empreiteiras OAS e Odebrecht pelo superfaturamento do contrato de
reconstrução e gestão do estádio Fonte Nova, em Salvador. Wagner nega as
acusações, mas teme que, ao assumir-se candidato a presidente, estimule
o que considera “perseguições judiciais” contra si e o PT.
O PT
faz a convenção neste sábado, dia 4, para confirmar Lula como candidato a
presidente. Deve transferir para a Executiva Nacional a escolha do nome
do vice na chapa do partido. Registrará então sua chapa completa em 15
de agosto, podendo sofrer impugnação a partir dessa data, mas com
possibilidade de múltiplos recursos ao TSE e ao STF. No cenário mais
otimista dos petistas, os recursos podem postergar a avaliação do mérito
da situação de Lula até dezembro. No cenário mais pessimista, já em
agosto a candidatura de Lula seria indeferida e sua participação no
horário eleitoral gratuito impedida. Nesse caso, aumentaria a pressão
para que Lula anunciasse de imediato seu plano B, porque a disputa de
2018 será a mais curta da história. O horário eleitoral gratuito — marco
da popularização dos candidatos — será de 31 de agosto a 4 de outubro,
totalizando apenas 34 dias de campanha e seis horas de transmissão
política na TV.
Petistas com acesso a Lula afirmam que são
pequenas as chances de o ex-presidente aceitar a ideia de o PT abrir mão
da cabeça de chapa na disputa presidencial. Na quarta-feira, PT e PSB
fizeram acordo em que os socialistas se apresentarão como neutros na
disputa presidencial em troca de alianças com os petistas em 11 estados.
O acordo isola Ciro Gomes, enfraquece-o e o afasta ainda mais do PT.
Petistas
apontam que Ciro Gomes poderia receber o apoio de Lula como plano B se
tivesse se oferecido ao ex-presidente como candidato a vice-presidente.
Assim, com o impedimento legal de Lula, o movimento natural seria o
petista apoiar Ciro como candidato a presidente. Desde 2003, Lula e Ciro
mantinham relação próxima e de confiança. No decorrer da pré-campanha
deste ano, petistas apontaram declarações erráticas de Ciro como motivo
do desencanto de Lula com o agora candidato do PDT.
Quando o nome
de Lula aparece na lista de candidatos, o petista atinge 30% dos votos,
de acordo com pesquisa Datafolha, mantendo-se à frente da corrida
sucessória. A taxa daqueles que afirmam que o apoio de Lula a um
candidato pode levá-los a escolher esse nome está em 46% dos
entrevistados. Essa parcela de eleitores é cobiçada tanto por Ciro Gomes
como pela candidata da Rede à Presidência, Marina Silva — nomes que as
pesquisas mostram com chances de herdar votos lulistas, no caso da
ausência do ex-presidente.
Lula tem lembrado a petistas que por
duas vezes cogitou a possibilidade de apoiar um não petista na cabeça de
chapa presidencial. No começo do segundo mandato, em 2007, discutiu com
peemedebistas a possibilidade de estimular a filiação de Aécio Neves ao
MDB. O tucano era então visto como líder jovem, com quem Lula tinha
boas relações e que poderia ser sua opção como candidato presidencial em
2010. Não passou de uma sondagem, com Lula escolhendo, já em 2008,
investir na candidatura de Dilma, então ministra da Casa Civil.
Em
2014, ainda durante a pré-campanha, reuniu-se com o então governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Diante de Renata Campos, mulher do
pessebista, prometeu que apoiaria Campos em 2018 caso este desistisse de
disputar a Presidência em favor de Dilma Rousseff, candidata à
reeleição. Campos rejeitou o acordo, saiu candidato, mas morreu em um
acidente aéreo em agosto de 2014, quando estava em terceiro lugar nas
pesquisas.
Meses atrás, Lula chegou a conversar sobre a
possibilidade de uma chapa com Jaques Wagner candidato a presidente e o
dono da Coteminas, Josué Gomes, como vice.
Nos últimos dias,
aumentou a pressão para que os tribunais superiores antecipem sua
decisão sobre a candidatura de Lula. O petista segue preso e repetindo o
mantra que adotou: “Afaste de mim esse cale-se”, inspirado na canção
“Cálice”, parceria de Chico Buarque e Gilberto Gil. No final da semana
passada, os artistas interpretaram a música no festival Lula Livre,
realizado na Lapa, no Rio de Janeiro. O encontro gerou imagens que
emocionaram Lula, segundo interlocutores. Mas pode não ter outra
utilidade além dessa.
Época
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