Escavações para colocação de trilhos no Rio de Janeiro revelam ponto de venda de escravos
Enquanto
a cidade caminha em direção à modernidade – com a implantação de mais
uma linha do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – o passado do Rio se
revela numa parada história na atual Rua Miguel Couto, no Centro do Rio.
Em escavações para a colocação dos trilhos do VLT, foram achados
alicerces e poços de uma loja de venda de escravos, que funcionou
provavelmente nos anos 1860 e 1870.
A descoberta foi inicialmente noticiada pelo jornal O Globo em sua edição desta quinta-feira (9).
Os
arqueólogos da empresa Artefato – contratada pelo Consórcio VLT, já que
o subsolo do Centro, onde a cidade começou a nascer, um terreno fértil
em sítios arqueológicos – encontraram também uma bola de ferro, usada
para colocar nos pés dos escravos para que eles não fugissem e outros
vestígios da ocupação urbana do Rio a partir do século XVII.
“Estamos
há cerca de um mês trabalhando nesse sítio, coletando material, fazendo
levantamento da antiga cartografia do Centro, buscando a história da
ocupação daquela região, que incluía a Pequena África (nome dado à
região do Centro e Zona Portuária). Acreditamos naquele trecho se
encontrava loja de comercialização de escravos, que deve datar do
período entre 1860 e 1874”, explicou a coordenadora da pesquisa, a
arqueóloga Maria Dulce Gaspar.
Todo
o material está móvel está sendo recolhidos e enviado para um
laboratório para análise. A empresa está fazendo a curadoria e os
relatórios relativo aos achados que depois serão encaminhados para uma
instituição para de guarda do Iphan. Segundo Maria Dulce, a escavação
corre em paralelo com a obra do VLT. Ou seja, não há o risco de atraso
na obra, até porque os alicerces dos imóveis encontrados estão 40 metros
abaixo do assentamento dos trilhos.
“Toda
a estrutura arqueológica será preservada. Trata-se de um período
importante da nossa história, das reformas feitas por Pereira Passos.
Essas descobertas contam muito da evolução urbana do Rio de Janeiro”,
frisou Maria Dulce.
A
arqueóloga Cristina Leal, do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), disse que todo o trabalho de pesquisa está
sendo fiscalizado e documentado. Inclusive, o local está sendo
documentado com fotos com alto nível de definição.
“A
estrutura está sendo estudada. Como está abaixo da área que vai receber
o VLT, ela não será impactada. Não foi necessário determinar nenhum
desvio no projeto da Linha 3, já que adaptações estavam previstas e
foram feitas para a preservação da estrutura. O Centro do Rio, que foi
por onde começou a colonização da cidade, é uma área muito rica em
história. Novas escavações ao longo da linha podem nos trazer mais dados
para que possamos contar a nossa história”, enfatizou Cristina.
As
obras da Linha 3 do VLT (Central – Aeroporto Santos Dumont) passando
pela Avenida Marechal Floriano foram retomadas em maio, depois de uma
paralisação de três meses. Segundo o consórcio, as obras dependiam de
licença do Iphan para a escavação no local.
De
acordo com o projeto, a Linha 3 do VLT começará na Central do Brasil e
terá três estações: Duque de Caxias (na Praça Cristiano Otoni), Camerino
(próxima à rua de mesmo nome) e Santa Rita (que ficará na última quadra
da Avenida Marechal Floriano, próximo ao Largo de Santa Rita). O prazo
previsto para a conclusão da obra é dezembro de 2018.
G1
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