Em 1985, ex-governador João Agripino denunciava deputados ‘comprados’ pela CIA e os bastidores da ditadura militar
O portal Polêmica Paraíba
teve acesso, com exclusividade, a uma entrevista rara concedida pelo
ex-governador da Paraíba, João Agripino, à imprensa de Cajazeiras no ano
de 1985. Na época, ele exercia o mandato de deputado federal e fez
revelações bombásticas, especialmente sobre a ditadura militar e o
contexto político paraibano.
A
entrevista histórica foi concedida ao jornalista Bosco Amaro, no
programa ‘O Momento’, da difusora Cajazeiras, e repercutiu muito na
época. A fita com a gravação foi entregue ao deputado estadual Gervásio
Maia (PSB), neto de João Agripino, em uma visita recente do parlamentar
ao sertão paraibano. Essa é a primeira vez que um portal de notícias
publica a entrevista.
No áudio,
Agripino conta como aconteceu a conspiração militar que derrubou o
presidente João Goulart e descreve episódios polêmicos da ditadura, como
a preferência de alguns generais pelo nome de Burity para governador da
Paraíba. Ele também reafirma que tinha conhecimento de que a
CIA (Central Intelligence Agency), agência de espionagem americana,
havia bancado a campanha de alguns parlamentares.
Uma
curiosidade registrada pelo locutor, é que o atual prefeito de
Cajazeiras, José Aldemir, também estava presente na entrevista. Na
época, ele era suplente de deputado estadual.
Leia abaixo os principais tópicos abordados na entrevista. O áudio completo encontra-se no final do texto.
A CIA e a compra de deputados
Após
repercussão de uma denúncia feita por João Agripino na época, ele
reafirmou durante a entrevista, que a campanha de alguns parlamentares
tinham sido patrocinadas pela agência de inteligência americana, mas
recusou-se a citar nomes. De acordo com ele, nem todas as pessoas
beneficiadas estavam vivas.
Rompimento com Edmir Tavares
Na
época, ainda repercutia o rompimento político entre o Agripino e seu
ex-aliado, Edme Tavares. Durante a entrevista, o ex-governador disse que
o afastamento de ambos se deu porque Edme havia permanecido no partido
Arena, acomodando-se com a ditadura militar, enquanto ele foi para o
Partido Progressista (PP).
Distribuição de renda
Agripino
deu a receita para diminuir a desigualdade. Na opinião dele, o caminho
seria deixar de cobrar o imposto de renda da população que ganhava
pouco, e cobrar mais dos que eram ricos.
Acordo do governo Geisel para que Antônio Mariz fosse indicado indiretamente governador da Paraíba
O
governo militar preferiu indicar Burity para assumir o Governo da
Paraíba, em vez de Antônio Mariz, de acordo com Agripino. Ele afirmou
que os generais ‘Almeida e Bandeira’ convenceram o presidente Ernesto
Geisel nesse sentido, pois consideravam Mariz um comunista.
Rompimento com a ditadura
Ele
admitiu que teve participação na conspiração que depôs o presidente
João Goulart. De acordo com ele, o presidente Castelo Branco queria
restituir o poder à sociedade civil, mas a linha dura do exército não
permitiu. Agripino disse que cassações injustas o revoltaram, e ele
passou a divergir dos militares. Ele afirmou que, quando foi governador,
não admitia a interferência do exército e do SNI (Secretariado Nacional
de Informação) no Governo da Paraíba, e vivia em permanente estado de
tensão com a ‘revolução’.
Valeria à pena conspirar novamente?
Agripino disse que não valeria à pena outra ‘revolução’.
O povo brasileiro salvaria a si mesmo?
Ao
ser questionado sobre a capacidade do povo de salvar a si mesmo, ele
disse: “Depende do que você entender por povo. O povo, no conjunto,
como sociedade sim, a sociedade organizada é quem dirige o país. Tem os
dirigentes e os dirigidos, o problema é saber quem são os dirigentes.
Se o povo tiver a sabedoria de escolher bons dirigentes, portadores de
espírito público e sensíveis aos problemas sociais, o povo se salva. Se o
povo não tiver essa sabedoria, se deixar influenciar pelo poder
econômico e por outras dádivas, contrariando a sua própria consciência, o
povo não se salvará”.
A nova república poderia dar um basta à corrupção?
Ele
foi questionado se a democracia poderia frear a corrupção na política, e
disse com confiança: “Poderia, não. Deve dar. Se não der, não será nova
República. Ou dá um basta à corrupção e à fraude, ou será pior do que a
velha República e frustará todas as esperanças dos brasileiros.”
Ouça abaixo e na íntegra a entrevista com o ex-governador João Agripino.
Biografia
João
Agripino Maia (1914-1988) foi um dos mais destacados políticos
paraibanos, que exerceu os cargos de deputado federal, senador e
Governador da Paraíba. Formado em Direito, ele começou a carreira
política como procurador da prefeitura do Brejo do Cruz e depois como
promotor público do Jardim do Seridó. Ele foi um dos fundadores do
partido União Democrática Nacional (UDN), através do qual foi candidato a
deputado federal em 1946, sendo eleito e reeleito sucessivas vezes até o
ano de 1961. Em 1962, ele foi eleito para o Senado da República. Em
1964, apoiou o movimento militar, ao qual chamava de ‘revolução’. Foi
governador da Paraíba entre os anos de 1966 e 1971. Ele também ocupou os
cargos de diretor do Banco Industrial de Campina Grande e ministro do
Tribunal de Contas. Em 1982, elegeu-se novamente para o cargo de
deputado federal. Sua morte se deu em 1988, no Rio de Janeiro.
Acima, a foto do momento em que o deputado Gervásio Maia recebe a fita com a gravação, em Cajazeiras |
Fonte: Polêmica Paraíba - Créditos: Felipe Nunes
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