domingo, 8 de julho de 2018

Resgate histórico

Em 1985, ex-governador João Agripino denunciava deputados ‘comprados’ pela CIA e os bastidores da ditadura militar 


JOÃO AGRIPINO e1530717608539 300x138 - RESGATE HISTÓRICO: Em 1985, ex-governador João Agripino denunciava deputados 'comprados' pela CIA e os bastidores da ditadura militar - OUÇA
O portal Polêmica Paraíba teve acesso, com exclusividade, a uma entrevista rara concedida pelo ex-governador da Paraíba, João Agripino, à imprensa de Cajazeiras no ano de 1985. Na época, ele exercia o mandato de deputado federal e fez revelações bombásticas, especialmente sobre a ditadura militar e o contexto político paraibano.
A entrevista histórica foi concedida ao jornalista Bosco Amaro, no programa ‘O Momento’, da difusora Cajazeiras, e repercutiu muito na época. A fita com a gravação foi entregue ao deputado estadual Gervásio Maia (PSB), neto de João Agripino, em uma visita recente do parlamentar ao sertão paraibano. Essa é a primeira vez que um portal de notícias publica a entrevista.
No áudio, Agripino conta como aconteceu a conspiração militar que derrubou o presidente João Goulart e descreve episódios polêmicos da ditadura, como a preferência de alguns generais pelo nome de Burity para governador da Paraíba. Ele também reafirma que tinha conhecimento de que a CIA (Central Intelligence Agency), agência de espionagem americana, havia bancado a campanha de alguns parlamentares.
Uma curiosidade registrada pelo locutor, é que o atual prefeito de Cajazeiras, José Aldemir, também estava presente na entrevista. Na época, ele era suplente de deputado estadual.
Leia abaixo os principais tópicos abordados na entrevista. O áudio completo encontra-se no final do texto.
A CIA e a compra de deputados
Após repercussão de uma denúncia feita por João Agripino na época, ele reafirmou durante a entrevista, que a campanha de alguns parlamentares tinham sido patrocinadas pela agência de inteligência americana, mas recusou-se a citar nomes. De acordo com ele, nem todas as pessoas beneficiadas estavam vivas.
Rompimento com Edmir Tavares
Na época, ainda repercutia o rompimento político entre o Agripino e seu ex-aliado, Edme Tavares. Durante a entrevista, o ex-governador disse que o afastamento de ambos se deu porque Edme havia permanecido no partido Arena, acomodando-se com a ditadura militar,  enquanto ele foi para o Partido Progressista (PP).
Distribuição de renda
Agripino deu a receita para diminuir a desigualdade. Na opinião dele, o caminho seria deixar de cobrar o imposto de renda da população que ganhava pouco, e cobrar mais dos que eram ricos.
Acordo do governo Geisel para que Antônio Mariz fosse indicado indiretamente governador da Paraíba 
O governo militar preferiu indicar Burity para assumir o Governo da Paraíba, em vez de Antônio Mariz, de acordo com Agripino. Ele afirmou que os generais ‘Almeida e Bandeira’ convenceram o presidente Ernesto Geisel nesse sentido, pois consideravam Mariz um comunista.
Rompimento com a ditadura
Ele admitiu que teve participação na conspiração que depôs o presidente João Goulart. De acordo com ele, o presidente Castelo Branco queria restituir o poder à sociedade civil, mas a linha dura do exército não permitiu. Agripino disse que cassações injustas o revoltaram, e ele passou a divergir dos militares. Ele afirmou que, quando foi governador, não admitia a interferência do exército e do SNI (Secretariado Nacional de Informação) no Governo da Paraíba, e vivia em permanente estado de tensão com a ‘revolução’.
Valeria à pena conspirar novamente?
Agripino disse que não valeria à pena outra ‘revolução’.
O povo brasileiro salvaria a si mesmo?
Ao ser questionado sobre a capacidade do povo de salvar a si mesmo, ele disse: “Depende do que você entender por povo. O povo, no conjunto,  como sociedade sim, a sociedade organizada é quem dirige o país. Tem os dirigentes e os dirigidos, o problema é saber quem são os dirigentes. Se o povo tiver a sabedoria de escolher bons dirigentes, portadores de espírito público e sensíveis aos problemas sociais, o povo se salva. Se o povo não tiver essa sabedoria, se deixar influenciar pelo poder econômico e por outras dádivas, contrariando a sua própria consciência, o povo não se salvará”.
A nova república poderia dar um basta à corrupção?
Ele foi questionado se a democracia poderia frear a corrupção na política, e disse com confiança: “Poderia, não. Deve dar. Se não der, não será nova República. Ou dá um basta à corrupção e à fraude, ou será pior do que a velha República e frustará todas as esperanças dos brasileiros.”
Ouça abaixo e na íntegra a entrevista com o ex-governador João Agripino. 
Biografia 
João Agripino Maia (1914-1988) foi um dos mais destacados políticos paraibanos, que exerceu os cargos de deputado federal, senador e Governador da Paraíba. Formado em Direito, ele começou a carreira política como procurador da prefeitura do Brejo do Cruz e depois como promotor público do Jardim do Seridó. Ele foi um dos fundadores do partido União Democrática Nacional (UDN), através do qual foi candidato a deputado federal em 1946, sendo eleito e reeleito sucessivas vezes até o ano de 1961. Em 1962, ele foi eleito para o Senado da República. Em 1964, apoiou o movimento militar, ao qual chamava de ‘revolução’. Foi governador da Paraíba entre os anos de 1966 e 1971. Ele também ocupou os cargos de diretor do Banco Industrial de Campina Grande e ministro do Tribunal de Contas. Em 1982, elegeu-se novamente para o cargo de deputado federal. Sua morte se deu em 1988, no Rio de Janeiro.
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Acima, a foto do momento em que o deputado Gervásio Maia recebe a fita com a gravação, em Cajazeiras
Fonte: Polêmica Paraíba - Créditos: Felipe Nunes

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