Presidente croata cresceu jogando bola e já deu camisa da seleção local ao Papa Francisco
Kolinda Grabar-Kitarovic,
primeira mulher a ser presidente da Croácia, foi eleita pelo país em
janeiro de 2015. Três anos depois, ela se tornou um dos símbolos da
seleção finalista da Copa do Mundo na Rússia, com comemorações e
comportamentos que chamaram atenção e viralizaram na internet. Aos 50
anos, a chefe de Estado tem sido acusada em seu país de usar o sucesso
da seleção croata como trampolim político, mas sua ligação com o futebol
é antiga e conhecida. Ela foi jogadora na infância, é torcedora
fervorosa do clube campeão nacional em dois dos últimos três anos e já
presenteou até o Papa Francisco com uma camisa da seleção local.
Seis
meses após assumir a presidência do país europeu, Kitarovic teve
audiência com o líder mundial da Igreja Católica, religião que pratica. A
presidente croata conversou com o Papa em espanhol, pois aprendeu a
língua durante período de estudos na Universidade de Zagreb e estadas no
país, trocou presentes religiosos e por fim entregou uma camisa da
seleção nacional com seu nome em croata, “Papa Franjo” e o número 9,
eternizado por Davor Suker, um dos maiores ídolos do futebol local. Na
Rússia, ela também entregou mimos a Theresa May, primeira-ministra do
Reino Unido, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
Além
dos presentes, a presidente croata se destaca na Rússia por conta de um
comportamento bem diferente daquele de outros chefes de Estado que
acompanham in loco o Mundial. Ela usou a camisa da seleção nos jogos em
que esteve presente, comemorou gols e classificações, inclusive
fazendo high-five com Suker. Teve até um jogo em que estava nas
arquibancadas torcendo e foi orientada a se dirigir às tribunas de honra
da Fifa. Mesmo tentando se comportar como uma torcedora normal, ela
também faz uso de seus privilégios como presidente: esteve no vestiário
do estádio Olímpico de Sochi após a classificação sobre a Rússia nas
quartas de final, abraçou o técnico Zlatko Dalic e a cada um dos
jogadores, especialmente o capitão Luka Modric.
Kolinda ainda
custeou sua viagem à Rússia para ver a Copa do Mundo, pois os jogos não
fazem parte da agenda presidencial. Ela embarcou em voo comercial da
companhia Rossiya ao lado de outros torcedores comuns, e postou imagens
na internet. Ela estará na final deste domingo, às 12h, entre Croácia e
França. “Transbordo entusiasmo, não sei como vou aguentar até domingo.
Verei a final não como uma política, mas como torcedora apaixonada por
futebol e alguém que já jogou futebol”, disse a chefe de Estado croata.
Ela não esteve nas semifinais por conta de compromissos na cúpula da
Otan.
Futebol desde a infância
Nascida em
29 de abril de 1968 na cidade portuária de Rijeka, então parte da
Iugoslávia, Kolinda vivia em um povoado simples, cercado por natureza.
Seu pai trabalhava como açougueiro, sua mãe em serviços de limpeza, e
ela foi sozinha por alguns anos antes do nascimento dos irmãos. De
acordo com entrevista à revista “Ve’ernji”, em 2014, foi nesta época em
que começou a jogar futebol nos momentos de lazer. “Eu era uma criança
selvagem. Subia em árvores, ia à cachoeira, brincava com o estilingue e
jogava futebol com os meninos. Jogava bem”, ela disse.
Ela joga até hoje em dia
Kolinda Kitarovic não
abandonou a prática do futebol depois de adulta. Em 2014, quando estava
em campanha eleitoral, ela deu o pontapé inicial da partida de abertura
do Torneio Memorial Blago Zadro (nome em homenagem ao homem que foi
figura importante na guerra de independência da Croácia), na cidade de
Vukovar. Kolinda não se limitou ao pontapé inicial, e passou vários
minutos batendo bola no gramado, inclusive com Suker. Ela deu chutes,
lançou bolas e se divertiu antes da partida.
Time do coração se destaca
O
primeiro ano do mandato de Kolinda Kitarovic coincidiu com o primeiro
título nacional de primeira divisão da história do NK Rijeka, o clube
pelo qual ela torce. Da mesma forma que a seleção croata, ela também
aparece em boa parte dos jogos de seu time no estádio Rujevica. No ano
passado, quando a equipe abriu oito pontos de vantagem no tradicional
Dinamo Zagreb para se tornar campeã nacional, a presidente fez o mesmo
de sempre: foi ao estádio, torceu e visitou o vestiário. A imprensa
local reparou em uma curiosidade: os tênis que ela usava formavam a
frase “Krepat ma ne molat”, um dos lemas do clube, que significa algo
como “Morra, mas não se renda”.
Esporte na vida e na família
Katarina Kitarovic,
de 17 anos, é filha da presidente Kolinda e uma das principais
promessas da patinação artística do país. Além disso, a chefe de Estado
também acompanha o handebol e o basquete locais com afinco. Ela
incentiva os esportes locais e tem reuniões frequentes com
Vytenis Andriukitis, comissário europeu para saúde e segurança
alimentar. Ela buscou informações sobre a saúde pública na Croácia e
disse que se encarregaria pessoalmente de promover um estilo de vida
saudável, com atividade física e conscientização sobre consumo de álcool
e tabaco.
Alvo de fake news na Copa
Eleita
pela “Forbes” como a 39ª mulher mais poderosa do mundo, a presidente da
Croácia foi alvo de notícias falsas durante o período em que chamou
atenção internacionalmente na Copa do Mundo. Usuários de redes sociais
divulgaram pela internet fotos de uma mulher fisicamente parecida com
Kolinda Kitarovic usando biquíni na praia, em registros acompanhados de
piadas de cunho sexista. As fotos na verdade são da modelo americana
Coco Austin, esposa do rapper Ice T.
Kolinda é a quarta presidente
da Croácia desde a independência e teve carreira diplomática antes da
presidência, inclusive como embaixadora do país nos Estados Unidos entre
2008 e 2011. Ela pertence à União Democrática Croata (HDZ, na sigla do
país), que é um partido de linha nacionalista e anticomunista, mas é
considerada da ala moderada do partido, com participação em pautas como
uso medicinal da maconha, aborto e casamento homossexual. No futebol,
ela é conhecida como uma figura materna profundamente patriótica que se
preocupa muito com futebol e apoia fervorosamente sua equipe.
Uol
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