Nova Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio exigirá mudanças para professores
Foto Ilustrativa |
O
sucesso da implementação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
do Ensino Médio passará por mudanças na formação de professores e
adaptações nas escolas, apontam especialistas ouvidos pela Agência
Brasil. O documento, que vai orientar os currículos dessa etapa e
estabelecer as habilidades e competências que devem ser desenvolvidas
pelos alunos ao longo do ensino médio em cada uma das áreas, foi
entregue na última terça-feira (3) pelo Ministério da Educação (MEC) ao
Conselho Nacional de Educação (CNE).
A BNCC do ensino médio é
organizada por áreas do conhecimento: linguagens, matemática, ciências
da natureza e ciências humanas. Apenas as disciplinas de língua
portuguesa e matemática aparecem como componentes curriculares, ou seja,
disciplinas obrigatórias para os três anos do ensino médio. Os alunos
deverão cobrir toda a BNCC em, no máximo, 1,8 mil horas. O tempo
restante deve ser dedicado ao aprofundamento no itinerário formativo de
escolha do estudante.
Para o diretor do Instituto Ayrton Senna,
Mozart Neves Ramos, essas mudanças vão exigir muito investimento na
formação de professores e um “repensar da formação de professores no
Brasil” para que haja uma integração entre as disciplinas.
“Quando
você faz um trabalho por área de conhecimento que reforça o caráter da
interdisciplinariedade, você tem que investir muito na formação de
professores. Hoje, como o professor de química é formado sem ter um
diálogo direto com o professor de física ou biologia, que fazem parte da
mesma área de conhecimento, por exemplo, agora para dar conta desse
novo ensino médio, eles terão que se integrar já dentro da
universidade”, diz.
Segundo ele, a mudança vai ter impacto nos
currículos das licenciaturas. “As coordenações dessas áreas vão ter que
sentar e repensar. Não é que não vai mais ter professor de química,
física e biologia, mas vai ter que haver um esforço para integrar esses
conhecimentos”, diz.
A formação dos professores deve ser
priorizada também na visão da pedagoga Anna Helena Altenfelder. “Não só
os professores, mas toda a estrutura da escola que hoje é pensada por
disciplina e não por área de conhecimento. Então, temos um desafio
grande”, diz a presidente do Conselho de Administração do Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Ela
também aponta um possível acirramento das desigualdades na educação
como um dos riscos da nova base para o ensino médio. “Sabemos que os
estados têm condições diferentes tanto técnicas como financeiras para
construir seus próprios currículos. Então, a questão dos itinerários
deve ser melhor definida em um apoio maior para os estados”, diz. O MEC
se comprometeu a elaborar um guia de orientações para ajudar os estados
na elaboração dos itinerários formativos.
Aperfeiçoamentos
A
BNCC do ensino médio deverá ser analisada e aprovada pelo CNE e
homologada pelo MEC antes de o documento começar a valer. O conselho irá
fazer uma consulta pública em plataforma digital e audiências para
colher sugestões da sociedade antes de submeter o texto à avaliação dos
conselheiros.
A presidente executiva do movimento Todos pela
Educação, Priscilla Cruz, considera que o CNE deve especificar melhor a
forma como as redes vão se organizar, além de estabelecer o que é
obrigatório ou não e deixar mais clara e objetiva a redação das
habilidades previstas para serem alcançadas pelos alunos.
“Há uma
impressão que o ensino médio está ‘menor’ pela falta de objetividade nas
habilidades, é muito dependente da implementação pelos estados, não há
um plano de implementação progressiva que ajude as redes a se
ajustarem”, diz. No entanto, ela considera positivo fato de o texto
prever a formação mais integrada, “direcionando para mais profundidade,
recomendando outros espaços de aprendizagem e formatos de aula, dando
características juvenis ao ensino médio”.
O conselheiro do CNE
Cesar Callegari, presidente da comissão que vai analisar a BNCC, também
considera que o colegiado terá que complementar o texto entregue pelo
MEC. “A base está incompleta, está um documento bastante genérico e, no
meu modo de entender, não atende às expectativas e necessidades do
ensino médio no Brasil”, diz.
O Ministério da Educação já
instituiu o Programa de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum
Curricular para apoiar os estados no processo de revisão ou elaboração e
implementação de seus currículos alinhados à BNCC. Segundo o MEC, no
primeiro ano de execução, serão repassados às secretarias estaduais
cerca de R$ 100 milhões para a implementação da base.
Agência Brasil
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