Desembargadora que criticou vereadora Marielle Franco pede desculpas
A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - (Foto: Reprodução/ Facebook) |
A
desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) Marília
Castro Neves escreveu um pedido de desculpas para a professora Débora
Seabra, a primeira professora com síndrome de Down no país.
Na
postagem original, a magistrada questionava o que professores com
síndrome de Down podem ensinar a alguém. O pedido de desculpas também
foi estendido a vereadora Marielle Franco – sobre a qual a
desembargadora reproduziu mentiras – e ao deputado federal Jean Wyllys.
“E,
de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, de quem em
um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a
maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de
pré-conceitos”, destacou a desembargadora na carta.
A
postagem original já havia rendido protestos de movimentos de
defesa das pessoas com síndrome de Down e uma resposta na qual a
professora Débora dizia que seu papel como professora é o de ensinar as
crianças a não ter preconceito.
Alguns
dias após a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson
Gomes, ela também postou no Facebook que ela estava “engajada com
bandidos” e teria sido eleita por uma facção criminosa do Rio. Em outra
postagem, ela sugeriu que o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) fosse
fuzilado.
Por
causa das declarações o corregedor do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), João Otávio de Noronha, determinou no dia 20 de março a abertura
de um procedimento para apurar a conduta da magistrada.
Em
entrevista ao Jornal Nacional no dia 19 de março, Marília Castro Neves
já havia afirmado ter divulgado de maneira “precipitada” informações que
circulavam nas redes sociais sobre Marielle Franco.
Veja a íntegra da carta de desculpas da desembargadora Marília Castro Neves.
“Prezada professora Débora,
Estou
escrevendo para agradecer a carta que você me mandou e lhe dizer que
suas palavras me fizeram refletir muito. Bem mais do que as centenas de
ataques que recebi nas últimas semanas. Desculpe a demora na resposta,
mas eu precisava desse tempo.
Tenho
sofrido muito desde que fui atropelada pela divulgação de comentários
meus, postados em grupos privados – restritos a colegas da magistratura.
Mas alguém resolveu torná-los públicos. Alguns haviam sido postados há
tanto tempo que eu nem me lembrava deles. A repercussão foi imensa.
Desde então, decidi me recolher. Chorei, fui abraçada e pensei muito.
E,
de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, de quem em
um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a
maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de
pré-conceitos.
Minhas
posições pessoais jamais interferiram nas minhas decisões, conhecidas
por serem técnicas e, por isso mesmo, quase sempre acompanhadas
unanimemente pelos meus colegas de turma julgadora.
Hoje,
contudo, percebi que, mesmo quando meu corpo despe a toga, a mesma me
acompanha aonde eu for. As opiniões pessoais de um magistrado, uma vez
divulgadas, sempre terão peso, pouco importando ao tribunal das redes
sociais que tenham elas sido ditas em caráter público ou privado e que
opinião não seja sentença.
Magistrados também erram e, quando o fazem, incumbe-lhes desculparem-se. Esta carta é justamente isso: um pedido de perdão.
Perdão,
Débora, por ter julgado, há três anos atrás, ao ouvir de relance, no
rádio do carro, uma notícia na Voz do Brasil, que uma professora
portadora de Síndrome de Down seria incapaz de ensinar. Você me provou o
contrário.
Aproveito
o ensejo para também me desculpar à memória da vereadora Marielle
Franco por ter reproduzido, sem checar a veracidade, informações que
circulavam na internet. No afã de rebater insinuações, também sem
provas, na rede social de um colega aposentado, de que os autores seriam
policiais militares ou soldados do Exército, perdi a oportunidade de
permanecer calada. Nesses tempos de 'fake news’ temos que ser cuidadosos.
Estendo esta reflexão ao deputado Jean Wyllys. Sempre me oporei às suas
ideias e às do PSOL, nada mudará isso, mas é evidente que não desejo mal
a ninguém.
Obrigada, Débora, por ter me ensinado tanto.
Marilia de Castro Neves Vieira”
G1
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