Professores beneficiados pela Máfia dos Concursos são soltos e responderão em liberdade
Os nove professores e técnicos em apoio administrativo da Secretaria
de Educação presos de forma temporária na última quarta-feira (28), na
3ª fase da Operação Panoptes, intitulada Magister, foram soltos e
responderão em liberdade. Segundo as investigações da Polícia Civil, os
servidores pagaram à Máfia dos Concursos pela aprovação no certame.
Cinco profissionais obtiveram liberação após confessarem as fraudes,
com detalhes da atuação da organização criminosa. Os outros quatro
deixaram a cadeia à 0h deste sábado (31/03). Ainda há um mandado de
prisão temporária em aberto. A professora Paula Vítor Bueno é
considerada foragida.
Apesar de soltos, os investigados não devem voltar às salas de aula.
Eles ficarão afastados dos cargos até a conclusão dos Processos
Administrativos Disciplinares (PADs) instaurados após a deflagração da
Magister.
A 3ª fase da Panoptes é a primeira com enfoque nos candidatos que
compraram aprovações. Eles responderão pelos crimes de organização
criminosa e fraude em certame de interesse público. As investigações
estão a cargo da Coordenação de Combate ao Crime Organizado, contra a
Administração Pública e a Ordem Tributária (Cecor).
Segundo os delegados responsáveis pelo caso, os servidores que
fraudaram o exame da Secretaria de Educação, realizado em janeiro de
2017, “não tinham conhecimento básico da língua portuguesa”. A vaga de
professor custava até R$ 120 mil. Já o posto de técnico em apoio
administrativo valia cerca de R$ 40 mil. Metade do montante era pago
antes do certame e o valor remanescente após a aprovação, no momento da
posse.
De acordo com depoimentos, os investigados eram orientados a
preencher poucos itens da prova objetiva e a escrever apenas as
primeiras linhas da redação com “uma caneta especial, cuja tinta apaga
quando aproximada ao fogo”. O ex-funcionário do Cebraspe Ricardo Silva,
então, as retiraria da sala cofre e disponibilizaria aos concursados
para a correta resolução.
A
Cecor deve indiciar os envolvidos. Após essa etapa, o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) oferece a denúncia à
Justiça. A Polícia Civil identificou fraudes em mais 12 certames, que
serão alvos de novas etapas da Panoptes. Outras dezenas estão sob
suspeita.
Fases iniciais
A Polícia Civil deflagrou a Operação Panoptes em agosto de 2017, com a
prisão de Hélio e Bruno Ortiz, Rafael Rodrigues e Johann Gutemberg. Os
três primeiros estão presos desde então. O último conseguiu liberação em
outubro, após admitir parte das fraudes. Denunciados pelo MPDFT, eles
respondem por organização criminosa, fraude à certame de interesse
público e falsificação de documento público. O processo está prestes a
ficar pronto para julgamento, dependendo apenas da apresentação das
alegações finais da defesa.
A segunda fase, que chegou às ruas em outubro de 2017, teve oito
alvos. Entre eles, o ex-funcionário do Cebraspe Ricardo Silva e seu
braço-direito, Antônio Filho. Os dois estão presos e são réus por fraude
à certame de interesse público e organização criminosa. Neste processo,
ainda não houve audiências de instrução e julgamento.
O papel de cada um
Segundo as investigações da Deco, Helio e Bruno Ortiz comandavam a
associação criminosa, escolhendo os aliciadores e os “pilotos” —
especialistas que realizavam as provas e repassavam os gabaritos a
concurseiros. Pai e filho também criavam os métodos de ação, compravam
os equipamentos necessários às fraudes, realizavam os pagamentos aos
integrantes da máfia, além de aliciarem estudantes.
Rafael Rodrigues, por sua vez, era braço direito de Bruno Ortiz, e
contribuía com a cooptação de concurseiros. Johann Gutemberg falsificava
certificados e diplomas, caso fossem necessários para que o cliente
assumisse o posto ou ganhar uma promoção.
As investigações tiveram início após uma denúncia sobre a fraude no
certame do Corpo de Bombeiros. Com o aprofundamento das apurações, a
Polícia Civil identificou os quatro modus operandi da organização
criminosa: envio de respostas por celular ou ponto eletrônico,
preenchimento das provas de forma posterior à aplicação do concurso e o
emprego de identidade falsa para que uma pessoa se passasse pelo
candidato.
Defesa
Ao Correio, Rubens dos Santos Pires, advogado de Hélio e Bruno Ortiz,
afirmou que “não teve acesso ao conteúdo dos depoimentos, mas nega as
alegações narradas”. “Hoje, a postura da Justiça é de quem já sentenciou
os acusados, mesmo sem a conclusão do processo. Não há verdade nas
alegações dos novos alvos. É muito fácil ser conduzido à delegacia e
culpar quem está preso”, argumentou. A reportagem não conseguiu contato
com as defesas de Antônio Alves e Ricardo Silva.
Fonte: Correio Braziliense - Publicado por: Gerlane Neto

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