Prisão do ex-presidente Lula une PT e Palácio do Planalto contra segunda instância
Um dos objetivos é pressionar o ministro Alexandre de Moraes, nomeado pelo presidente Michel Temer para o Supremo
O PT e o Palácio do Planalto iniciaram uma aproximação para
tentar barrar a prisão após condenação em segunda instância no Supremo
Tribunal Federal. Conversas preliminares ocorreram há algumas semanas,
antes mesmo de a Corte negar o habeas corpus para o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas foram intensificadas depois da prisão do
petista, condenado na Operação Lava Jato.
Um dos objetivos é pressionar o ministro Alexandre de Moraes, nomeado
pelo presidente Michel Temer para o Supremo e que já se manifestou a
favor do início da execução penal após a segunda instância. A investida
está vinculada à incerteza envolvendo o voto da ministra Rosa Weber. A
expectativa é se ela manteria, numa nova análise do assunto, a posição
pessoal contra a prisão após segundo grau.
Nesta quarta-feira, 11, o presidente do PT-SP, Luiz Marinho,
pré-candidato ao governo paulista, e o ex-ministro Gilberto Carvalho –
ambos do círculo mais próximo a Lula – estiveram com os ministros
Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes para falar sobre o julgamento das
ações que tratam do tema no Supremo.
Um dia antes, Gilmar, que virou o voto e agora é favorável à prisão
apenas após o trânsito em julgado, almoçou com Temer. No almoço, o
ministro brincou que ele deveria convidar Moraes para o Ministério da
Defesa, o que o tiraria da Corte. Na avaliação de pessoas que estiveram
recentemente com Temer, o presidente tem demonstrado arrependimento com a
escolha. A crítica é que Moraes continua atuando no Supremo como chefe
da Polícia Federal. Antes de assumir vaga na Corte, ele foi ministro da
Justiça.
Em manifestação ao Supremo, a Advocacia-Geral da União (AGU) já
defendeu a execução da pena somente depois de esgotados todos os
recursos.
Para um interlocutor do ministro, o assunto com os petistas é um só:
“soltar Lula e dialogar”. Marinho confirmou o objetivo. “Queremos que as
ações sejam julgadas.” Apesar das tentativas, políticos dizem que é
impossível dissuadir Moraes. Um tucano relatou que tentou falar com ele
sobre a situação de dois deputados do partido, mas não conseguiu nem
iniciar a frase.
Procurado nesta quinta-feira, 12, Moraes justificou a audiência com
os petistas alegando que suas agendas “são todas públicas”. “Se a gente
recebe (no gabinete) quem entrou com a ação, para mim não tem
problema nenhum receber o outro lado. Eles também têm o direito”, disse.
Questionado se se sente pressionado, ironizou: “Demais, demais. Fico
assim, eu acho que vou até mudar o voto agora…”
Carvalho esteve no Planalto antes do julgamento do HC. Segundo
assessores de Temer, o petista disse ter ido visitar uma amiga, mas
acabou se encontrando com o presidente. O teor da conversa não foi
revelado.
O ex-assessor de Temer Sandro Mabel também foi chamado a colaborar na
busca de um acordo. Um político que participa das conversa disse que há
um temor no mundo político do “efeito Orloff” (propaganda que tinha o
slogan “eu sou você amanhã”) após a prisão de Lula.
‘Livre escolha’. Assessores palacianos afirmaram que
Temer fez um aceno ao PT em nota divulgada em 29 de março, quando seus
amigos e ex-assessores José Yunes e coronel João Baptista Lima Filho
foram presos. “No Brasil do século XXI, alguns querem impedir
candidatura. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpreta-se a
Constituição, as leis e os decretos ao sabor do momento. Vê-se crimes
em atos de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios
democráticos”, diz a nota.
Dias antes, o próprio Lula havia feito um afago em Temer ao elogiar a
postura do presidente durante a crise provocada pelos áudios do
empresário Joesley Batista, do Grupo J&F. “Sejamos francos: o que
tentaram fazer com Temer… A sordidez da mentira inventada, a troco de
conseguir mais um mandato para (Rodrigo) Janot e de levar o
atual presidente da Câmara a ser presidente da República foi uma coisa
sórdida. E ali sou obrigado a reconhecer historicamente que o Temer
soube se impor”, disse Lula em entrevista para o livro A verdade
vencerá, lançado uma semana antes da prisão dos amigos de Temer.
Em outra frente, emissários petistas tentam convencer parlamentares a
se posicionar contra a prisão em segunda instância (mais informações
nesta página). Um dos articuladores é o deputado Vicente Cândido
(PT-SP), mas alguns oposicionistas ao PT têm ajudado sob o argumento de
que, após a prisão de Lula, a Lava Jato deve se voltar contra outras
siglas para evitar a pecha de que atua de forma seletiva.
Estadão
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