“O Brasil não é a Venezuela” diz artigo do ex-senador Roberto Cavalcanti sobre a incoerência de Lula
O ex-senador e proprietário do Sistema Correio de Comunicação,
Roberto Cavalcanti, publicou mais um artigo nesse domingo (4), onde
critica arduamente a condução e a incoerência do PT e do ex-presidente
Luís Inácio Lula da Silva, com relação ao julgamento que confirmou a
condenação do juiz Sérgio Moro em segunda instância no TRF-4, em Porto
Alegre.
Cavalcanti, que era integrante do Senado Federal quando a Lei da
Ficha Limpa foi aprovada, fez relatos sobre conversas e orientações do
PT à época e mostra a incoerência de discursos adotada agora que a Lei
enquadra o maior ícone do partido.
Segundo o ex-senador, é inadmissível que os mesmos atores políticos
que agora combatem a procedência da lei, antes eram os seus maiores
defensores. Cavalcanti encerrou o artigo enaltecendo a igualdade de
direitos na democracia e dando graças que o Brasil não é a Venezuela.
Confira o artigo:
No meu período no Senado Federal, participei de muitas votações
importantes, mas tem uma que me deixou profundamente honrado. Aconteceu
numa quarta-feira, dia 19 de maio de 2010, e deu ao Brasil a Lei da
Ficha Limpa.
Tenho extremo constrangimento de escrever sobre temas que não domino.
É risco que evito. Estudo, pesquiso e ouço opiniões, para garantir uma
visão ampla e um posicionamento fundamentado.
Sobre Ficha Limpa, considero-me apto. À época, fiz questão de me
aprofundar nesse projeto de iniciativa popular, tanto pela importância
do tema, como pela raridade de sua autoria e obstáculos que superou até
ser incluído na pauta de votação.
O art. 61, § 2º da Constituição Federal diz: “A iniciativa popular
pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de
lei subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído
pelo menos por cinco Estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de
cada um deles”.
Ainda
tem que atender o que disciplina o Regimento Interno da Casa e passar
por análise da Comissão de Legislação Participativa, para só então ter
tramitação garantida. E depois seguir para o Senado.
É tão difícil, que nos últimos 30 anos apenas quatro propostas
viraram leis, e todas terminaram “adotadas” por parlamentares, para
superar a burocracia da conferência de assinaturas.
As “vencedoras” foram a que tornou hediondo o crime de homicídio
qualificado (Lei Daniella Perez), a que coíbe o crime de compra de
votos, a que criou o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, e a
Ficha Limpa.
Tão logo foi distribuído, li atentamente o texto buscando identificar
os pontos fundamentais e o objetivo, que era excluir do processo
eleitoral os que não se sentem na obrigação de cumprir as leis.
Como? Tornando inelegível por oito anos todo aquele que tiver sido
condenado em processo criminal em segunda instância, cassado ou que
tenha renunciado para evitar a cassação.
Para me certificar de todas as suas virtudes, procurei meu líder, o
então senador Marcelo Crivella, hoje prefeito do Rio de Janeiro. Ele
disse que o PRB apoiava a iniciativa da forma como apresentada, mas
diante do meu interesse, encaminhou-me ao líder do nosso bloco
partidário, o senador Aloizio Mercadante (PT).
Era ano de eleições gerais e o PT, que tinha Luiz Inácio Lula da
Silva na Presidência e Dilma Rousseff como candidata ao cargo, abraçou o
projeto, tendo Mercadante atuado fortemente a seu favor.
A Lei da Ficha Limpa foi aprovada por unanimidade, o que não deixa dúvida de nenhuma natureza sobre sua validade e necessidade.
Para meu espanto, agora vejo a regra que antes era a solução em um
país democrático, ser rotulada de antidemocrática e golpista. Mas isso
só aconteceu depois que passou a alcançar um que acha que as leis não se
aplicam a todos. Que pode escolher a decisão judicial que deve
respeitar.
É total a incoerência. Os mesmos atores políticos que agora combatem a lei são os mesmos que foram seus maiores defensores.
Para quem participou de todos os debates, como eu participei, é
inadmissível qualquer questionamento, a não ser para seu
aperfeiçoamento, especialmente pelo PT.
Era para ser aplicada apenas aos outros? Esqueceram que a igualdade é
um dos princípios da democracia, assim como o voto livre e soberano? O
Brasil não é a Venezuela. Graças a Deus!
Polêmica Paraíba - Publicado por: Leandro Borba
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