Policia Federal encontra provas de que a Odebrecht pagou terreno do Instituto Lula
Os documentos comprovam as declarações
do empresário Marcelo Odebrecht que, em delação premiada, afirmou ter
combinado com o ex-presidente do Instituto Paulo Okamotto e o pecuarista
José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
compra do terreno.
A perícia do sistema de
propina da Odebrecht identificou os pagamentos da empreiteira, no Brasil
e no exterior, para a compra do terreno do Instituto Lula. Os
documentos comprovam as declarações do empresário Marcelo Odebrecht que,
em delação premiada, afirmou ter combinado com o ex-presidente do
Instituto Paulo Okamotto e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a compra do terreno.
Nesta semana, a defesa de Marcelo
Odebrecht apresentou ao juiz Sérgio Moro 21 trocas de e-mails que
mostram como a empreiteira organizou os pagamentos. Num dos e-mails, o
ex-diretor da Odebrecht Realizações Imobiliárias Paulo Melo pede que
executivos do setor de propinas programem três pagamentos de R$ 1,057
milhão. São os mesmos valores que aparecem na planilha Italiano
relacionados à linha “Prédio IL”.
De acordo com as investigações da Lava
Jato, “italiano” é o ex-ministro petista Antonio Palocci, que já
confessou em depoimento ter gerenciado propinas ligadas ao PT.
A perícia encontrou, na contabilidade do
sistema “Drousys”, usado pela Odebrecht para controlar as remessas
ilegais, pagamentos para o condinome “Belluga”. De acordo com as
investigações, os repasses para “Belluga” tinham como destinatário
contas ligadas a DAG Construtora, empresa usada pelo empreiteira baiana
para comprar o terreno do Instituto. A perícia afirma que os pagamentos
tiveram como beneficiários as offshores Beluga Holdings LTD, Jaumont
Services Limited e a DAG Construtora.
A perícia ainda aponta a DAG
Construtora, o engenheiro Glaucos da Costamarques e o escritório
Teixeira, Martins Advogados como ‘beneficiários físicos’ dos repasses
atrelados ao codinome ‘Beluga’.
Em um dos trechos do documento, anexado
ontem pela Polícia Federal nas investigações de compra do terreno do
Instituto, a PF diz que há indícios de que parte dos repasses feitos a
DAG teriam tido como destino final o empresário Glaucos Costamarques. O
valor total retirado da conta de propina sob o codinome seria de R$
1,034 milhão e Glaucos da Costamarques teria recebido R$ 800 mil por
meio da DAG.
Costamarques é dono do imóvel alugado
pelo ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo (SP). A locação é
investigada na mesma ação em que foi anexada a perícia. De acordo com o
Ministério Público Federal, que denunciou Lula e Glauco da Costamarques
pela prática do crime de lavagem de dinheiro, o apartamento foi
adquirido para o ex-presidente e sua real propriedade foi dissimulada
por meio de um contrato de aluguel. O imóvel, avaliado em R$ 504 mil,
constituía parte do montante de R$ 800 mil provenientes da Odebrecht.
A defesa de Lula afirma que a cobertura
usada pelo ex-presidente é alugada de Glaucos Costamarques. Glaucos, no
entanto, disse em depoimento que nunca recebeu aluguel. O Instituto Lula
nunca usou o prédio comprado pela Odebrecht em nome da DAG e, em
depoimento, Lula afirmou que chegou a visitar o imóvel, mas considerou a
localização inadequada e, por isso, não aceitou. O juiz Sergio Moro deu
prazo de 15 dias para a defesa de Lula e para o MPF analisarem os
arquivos periciados.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, QUE DEFENDE LULA
“A perícia realizada pela Polícia
Federal nos autos da Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000/PR, não
estabeleceu qualquer vínculo entre contratos da Petrobras com os imóveis
indicados na denúncia e muito menos apontou o pagamento de qualquer
vantagem indevida a Lula, como sempre foi afirmado pela defesa do
ex-Presidente.
Lula jamais solicitou ou recebeu da
Odebrecht ou de qualquer outra empresa imóvel destinado ao Instituto
Lula, que funciona no mesmo local desde 1991. Tampouco solicitou ou
recebeu a propriedade do apartamento que é locado pela família, mediante
o pagamento de aluguéis.
Lula jamais praticou qualquer ato para
favorecer a Odebrecht ou qualquer outra empresa no cargo de Presidente
da República, tampouco pediu ou solicitou vantagens indevidas.
A mesma perícia destacou que não
conseguiu “colocar em funcionamento o sistema MyWebDay” e que a análise
foi realizada com base “fragmentos de relatórios financeiros, todos em
formato PDF” entregues pela Odebrecht, que não servem para fazer prova
de qualquer fato. Reforça esse entendimento os peritos da Policia
Federal terem identificado arquivos que foram modificados após o MPF ter
recebido o material da Odebrecht (página 82 do laudo)”.
CRISTIANO ZANIN MARTINS
CRISTIANO ZANIN MARTINS
Fonte: Estadão - Por Julia Affonso, Luiz Vassallo e Ricardo Brandt
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