domingo, 4 de fevereiro de 2018

As cores da zebra

Animais selvagens: para que servem as listras brancas e pretas das zebras?


Existem cinco motivos diferentes para que as zebras tenham desenvolvido sua coloração contrastada, mas nenhum deles é unânime entre os pesquisadores


Zebras-da-planície – da subespécie Equus quagga burchellii – bebem água em uma poça no Parque Nacional Etosha, na Namíbia (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Zebras-da-planície – da subespécie Equus quagga burchellii – bebem água em uma poça no Parque Nacional Etosha, na Namíbia - (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Para começo de conversa, a zebra seria um animal branco com listras pretas ou, pelo contrário, um equídeo preto com listras brancas? Se considerarmos que seu ventre é branco, a tendência seria responder que esta seria sua cor de base. Mas, segundo os últimos estudos do paleontólogo californiano Donald Prothero, os embriões de zebra comprovam que seu corpo é originalmente preto e as manchas brancas aparecem depois.
Mas se esta discussão sobre a cor original do animal pode parecer improdutiva, uma questão continua assombrando os zoólogos: por que, na complexa cadeia de evolução dos mamíferos, as zebras decidiram se vestir com faixas verticais alvinegras tão vistosas e chamativas?
cinco hipóteses principais para que a espécie tenha evoluído com esse desenho corporal. A primeira suposição é que as tiras serviriam como camuflagem e que o animal poderia melhor se esconder entre arbustos, árvores e gramas altas, que também possuem uma geometria vertical. Mas nenhum pesquisador se convenceu que essa razão pudesse ser a mais importante, principalmente quando se sabe que zebras são encontradas mais em campos abertos do que dentro de matas.
A segunda hipótese, um pouco mais sólida, é que uma manada de zebras, com cada animal exibindo um padrão único de listras, acaba criando um emaranhado de linhas, o que provocaria uma grande confusão visual nos potenciais predadores. Graças a esta camuflagem grupal (e não individual), o predador teria mais dificuldade para definir a velocidade e até mesmo a direção de um animal perseguido.
Quando em grupo, zebras-da-planície podem confundir seus predadores com a confusão criada pelas linhas verticais  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Outra opção seria que as listras – cada uma diferente da outra – poderiam ajudar as próprias zebras a reconhecerem seus pares e parentes na mesma tropa. Mas contando com um olfato extraordinário, provavelmente essa identificação visual não seria necessária – além disso, não há nenhuma prova científica que zebras usem esse tipo de reconhecimento entre si.
A quarta possibilidade para a existência das faixas é que o desenho poderia criar um mecanismo de refrigeração do corpo, uma vez que as partes pretas absorvem mais calor enquanto que as frações brancas refletem os raios de sol. Mas, novamente, não há nenhuma comprovação que essa busca de harmonia da temperatura aconteça.  
Finalmente, a quinta alternativa está relacionada com moscas, mosquitos e outros malditos que mordem o dorso da zebra, trazendo desconforto e até mesmo doenças. Uma pesquisa comprovou que o padrão zebrado afugenta esses perversos insetos, fazendo com que os animais listrados sejam menos picados e, em consequência, possam ter uma saúde mais vigorosa. Mas o estudo foi feito na Europa e não na África – o que invalida grande parte da pesquisa.
Concluindo, existem várias suposições – algumas podem até ser parcialmente válidas –, mas nenhuma delas chega a ser uma resposta conclusiva.
Existem cinco teorias sobre a existência das faixas brancas e pretas das zebras, mas nenhuma delas é definitiva (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Zebras-da-planície – uma das três espécies existentes, Equus quagga – estão espalhadas por diversos países do leste e do sul da África. O território original das zebras-da-planície cobria quase toda África subsaariana – com exceção da África do Oeste – e ia do sul da Etiópia (no leste) até a República Democrática do Congo e a Namíbia (no oeste). Atualmente a área de distribuição é menor e considera-se que o animal esteja extinto na Somália, em Burundi e em Lesoto. Os pesquisadores catalogaram a espécie em seis subespécies, dependendo de sua distribuição geográfica. Uma delas – Equus quagga quagga – já foi extinta.
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), existiriam cerca de 600 mil zebras-da-planície em 16 países africanos. Três deles – Tanzânia, Quênia e Botsuana – hospedam 80% das manadas. Quase metade das zebras do mundo vivem no Parque nacional Serengeti, na Tanzânia, participando da grande migração anual. No segundo grupo de países, com uma população média de 50 mil animais em cada, estão a África do Sul e a Namíbia, sendo que, neste último, a população tende a crescer.
Quase metade das zebras-de-planície da África – da subespécie Equus quagga boehmi – vivem no Parque Nacional Serengeti, na Tanzânia (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Quase metade das zebras-de-planície da África – da subespécie Equus quagga boehmi – vivem no Parque Nacional Serengeti, na Tanzânia - (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Calcula-se que a população de zebras em Botsuana – da subespécie Equus quagga chapmani – é de cerca de 100 mil animais; este número tem-se mantido estável na última década (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Calcula-se que a população de zebras em Botsuana – da subespécie Equus quagga chapmani – é de cerca de 100 mil animais; este número tem-se mantido estável na última década - (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Desde a época da colônia, as zebras sofreram nas mãos do homem moderno. Por não passar despercebido, o animal elegante e listrado foi forçado a se comportar como um cavalo doméstico, carregando cavaleiros e até mesmo puxando carruagens. A caça também transformou suas peles chamativas em dezenas de milhares de tapetes. Mas o maior impacto foi a perda de seu habitat natural. Savanas e planícies transformaram-se em fazendas agropecuárias e os animais domésticos passaram a competir com a fauna selvagem pela mesma água. O resultado é que hoje raramente encontram-se zebras fora de áreas protegidas: elas sobrevivem apenas dentro de parques e reservas.
Fotografei várias subespécies de zebras-de-planície pelos diferentes países africanos visitados nos últimos dez anos. O animal, por ser extremamente fotogênico, sempre atrai a atenção de minha câmera. Donas de relinchos espetaculares e caretas fenomenais, as zebras acabam rendendo imagens engraçadas.
Uma zebra no Parque Nacional Etosha dá um relincho e mostra os dentes (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Uma zebra no Parque Nacional Etosha dá um relincho e mostra os dentes - (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Uma fêmea permite que seu filhote menor se alimente do leito materno (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Uma fêmea permite que seu filhote menor se alimente do leito materno - (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Dois jovens machos travam um embate onde valem mordidas e coices (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Quando estão em manadas – que podem chegar a ter dezenas de animais – os jovens machos também praticam a briga esportiva, um treinamento para quando o macho tiver de enfrentar outro em defesa de seu harém.
Mas as zebras não possuem uma vida fácil e segura. Sua carne tenra torna-a um alvo atrativo para predadores como leões, guepardos, leopardos, hienas e matilhas de cachorros-selvagens. Em uma ocasião, cheguei a ver uma zebra com o dorso rasgado e ensanguentado, resultado das garras de um caçador que quase atingiu seu objetivo final.
No Parque Nacional Serengeti, na Tanzânia, já no final de um longo dia de safári, encontramos um guepardo escondido na grama alta. Imóvel, ele estava de olho em um grupo de zebras que pastava a sua frente. Cercado e protegido pela manada, havia um filhote de zebra. Tive uma pena tremenda: um ataque certeiro do guepardo poderia ser fatal. Mas o guepardo sabia que o tempo estava a seu favor, a medida que a luz diminuía. E continuou parado ali. Quando o céu escureceu, fomos embora. Mas o guepardo continuou na espreita.
No Parque Nacional Serengeti, um guepardo vigia um grupo de zebras, enquanto uma zebra adulta, ao fundo, toma consciência da presença do predador (Foto: © Haroldo Castro/Época)
ÉPOCA - HAROLDO CASTRO (TEXTO E FOTOS)| DA NAMÍBIA, TANZÂNIA E BOTSUANA


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