Ministério Público aponta interferência em gravações do dia em que Garotinho relata agressão
No período em que esteve preso na Cadeia de Benfica, em novembro do ano passado, o ex-governador informou que foi agredido no joelho, por um agente penitenciário, com um taco de basebol
Como as imagens mostram também a galeria onde estava Garotinho, o laudo será também anexado ao inquérito policial criminal que apura a agressão sofrida pelo ex-governador - (Foto: Reprodução) |
O sistema de câmeras da Cadeia Pública José Frederico
Marques, em Benfica, na zona norte do Rio tem falhas. Esta foi a
conclusão de um trabalho realizado por peritos da Divisão de Evidências
Digitais e Tecnologia da Coordenadoria de Segurança e Inteligência
(Dedit/CSI) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a
partir de imagens cedidas pela Vara de Execuções Penais (VEP). No fim
do texto do relatório, os peritos apontaram que “há fortes indícios de
interferência humana na gravação do fluxo de imagens por ocasião da
suposta agressão ao ex-governador Anthony Garotinho”.
No período em que esteve preso na Cadeia de Benfica, em novembro
do ano passado, o ex-governador informou que foi agredido no joelho, por
um agente penitenciário, com um taco de basebol. Por isso, Garotinho
foi transferido para o Presídio Bangu 8, no Complexo Penitenciário de
Gericinó, na zona oeste do Rio, passou por exames para comprovar as
agressões e prestou depoimento à Polícia Civil do Rio para relatar o que
teria ocorrido. Ele chegou a fazer um retrato falado do suposto
agressor.
A perícia indicou ainda que conforme o exame das imagens “é possível
concluir pela inadequação do sistema de CFTV utilizado para
monitoramento da unidade prisional, o uso de sistema doméstico não é
indicado para ambientes de grande circulação e risco”. O trabalho
pericial foi realizado pelo MP-RJ para apurar regalias concedidas ao
ex-governador Sérgio Cabral e outros presos especiais das operações Lava
Jato, Calicute e seus desdobramentos. As imagens mostram movimentações
nas diversas galerias da unidade prisional. Os que eram relacionados a
Lava Jato estavam presos na Galeria C e Garotinho na Galeria B.
Inquéritos
De acordo com o MP-RJ, as imagens foram obtidas após um pedido de
compartilhamento feito ao juiz corregedor da VEP, no inquérito civil que
serviu de base para o pedido de afastamento do secretário de estado de
administração penitenciária, Erir Ribeiro; o subsecretário adjunto de
Gestão Operacional, Sauler Antonio Sakalen; o diretor da Penitenciária
Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu VIII), Alex Lima de Carvalho; o
subdiretor da unidade, Fernando Lima de Farias; o diretor da Cadeia
Pública José Frederico Marques, Fabio Ferraz Sodré; e o subdiretor da
unidade, Nilton Cesar Vieira da Silva. Todos são acusados de
favorecimento ao grupo de Cabral.
Como as imagens mostram também a galeria onde estava Garotinho, o
laudo será também anexado ao inquérito policial criminal que apura a
agressão sofrida pelo ex-governador.
Regalias
O laudo destacou ainda que o fluxo de pessoas e objetos na Galeria C
destaca-se das demais e, em vários momentos, são vistos presos abrindo
as grades do portão do local e tendo acesso livre ao pátio. “Diferente
das demais galerias, o portão da Galeria C não conta com chapa metálica
de proteção”.
Ainda conforme o laudo, a galeria C conta com uma “área que funciona
‘como antessala’ e que serve de ambiente de interação entre presos e
agentes sem que se observe diferenciação de comportamento entre eles.
Somente o fato de uns usarem uniforme de detento e outros de agente é o
que permite diferenciá-los”.
O laudo destacou também a diferença de tratamento entre os presos das
diferentes galerias. Informou que a rotina de fornecimento de
alimentação das galerias A e B é a mesma, com fornecimento de quentinha
padrão no mesmo horário, enquanto na galeria C não há qualquer movimento
de entrada de quentinhas.
“A galeria C recebe grande fluxo de itens diversos, sacolas grandes e
pequenas e sacos de gelo sem que haja qualquer rotina de horário e
muitas vezes sem acompanhamento de agentes”, conforme trecho do
documento.
O laudo é assinado pelos assistentes periciais João Souza e Marcos
Cropalato; pela técnica pericial Eline Portela e pela diretora do
DEDIT/CSI, Maria do Carmo Gargaglione. A Agência Brasil procurou uma
declaração da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap)
e da defesa de Garotinho, mas até o fechamento desta matéria não obteve
resposta.
Agência Brasil
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