Estudo aponta que xingar reduz a dor, não importa em que idioma
Xingar
quando se está com dor é praticamente um mecanismo de defesa dos seres
humanos. Soltamos os palavrões nestas situações quase sem perceber. Um experimento
de 2009 mostrou que fazer isso pode, na verdade, ser bom para nós:
xingar aparentemente diminui a dor que estamos sentindo. Agora, um
novo estudo mostra que isso é verdade em todas as línguas, mesmo
naquelas que possuem uma relação muito mais restrita com os palavrões.
O
experimento de 2009 fez os participantes (de língua inglesa) colocarem
uma mão em água gelada durante o tempo que pudessem suportar. Uma parte
dos voluntários estava autorizada a pronunciar os xingamentos que
quisesse para suportar a dor, enquanto outra parte só poderia pronunciar
palavras neutras. Aqueles que xingaram à vontade conseguiram manter a
mão na água gelada por mais tempo – 44 segundos mais entre os homens e
37 segundos a mais para as mulheres. Além disso, eles relataram sentir
menos dor do que aqueles sem a boca suja.
A
pesquisadora Olivia Robertson, que estudava no Japão na época em que
viu o estudo, ficou curiosa a respeito da eficácia dessa anestesia em
outras línguas – especialmente na japonesa, que não usa os xingamentos
como a maioria das línguas ocidentais. Ela então decidiu fazer um
experimento parecido, porém usando falantes das duas línguas, para
comparar os resultados.
Em um texto no portal The Conversation,
ela explica o processo. “A cultura japonesa valoriza muito a honra e o
respeito – uma ideia que é refletida em sua linguagem. Mas é também uma
linguagem que é abundante em maneiras coloridas e criativas de dar
ênfase ou insultar”, diz ela. “Na cultura britânica, xingar em resposta à
dor é um comportamento comum. Na cultura japonesa, no entanto, seria
completamente fora de lugar. Em vez disso, os japoneses usam
onomatopéias para descrever e expressar sua dor. Por exemplo,
“Zuki-zuki” descreve uma dor latejante moderada a severa e é
frequentemente usada para descrever a dor associada a enxaquecas. Ao
comparar os efeitos dos palavrões em resposta à dor em falantes nativos
de inglês e japonês, pude investigar como ocorre o alívio da dor
associado”.
Assim
como no experimento original, os voluntários tiveram que colocar a mão
na água gelada, mas destas vez eram nativos japoneses e ingleses. Metade
dos participantes foi convidada a repetir a palavra “copo” em seu
respectivo idioma. A outra metade foi convidada a xingar repetidamente.
“Os
falantes de inglês foram convidados a dizer “fuck”, enquanto os
japoneses repetiram a palavra “kuso” – uma palavra para fezes. “Kuso”
não é um palavrão em si mesma- não é censurada na TV e não seria incomum
que uma criança a usasse. Mas é uma palavra que seria inteiramente
inadequada para um adulto dizer na frente de um cientista que eles não
conhecem em um laboratório. Seria como um tabu social, como dizer a
palavra fuck”, explica Robertson.
Mais uma vez, os voluntários que
xingaram foram capazes de tolerar a dor causada pela água gelada por
mais tempo do que os participantes que não o fizeram. O mesmo resultado
valeu em ambos os idiomas. Quem xingava em inglês conseguiu suportar a
dor por 49% mais tempo do que os participantes ingleses sem palavrões.
Os participantes japoneses que diziam seu palavrão mantiveram sua mão
submersa na água gelada por 75% mais tempo do que aqueles que não
xingaram.
“Isso
sugere que xingar é mais do que uma ferramenta social que podemos usar
para ofender, ser profano ou expressar nossas emoções. É uma ferramenta
poderosa e atemporal que pode realmente mudar nossas experiências de
dor. Uma ferramenta que transcende a cultura, uma ferramenta enraizada
em nossa biologia. Xingamentos em japonês podem seguir regras
ligeiramente diferentes do que xingar em inglês. Mas, independentemente
do contexto cultural, o palavrão pode ser benéfico para todos nós quando
estamos com dor”, define Robertson.
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