sábado, 23 de dezembro de 2017

Pai e filha afastados pelo álcool

“Meu presente de Natal”: pai e filha paraibanos se reencontram após 20 anos através da internet

Yiolanda Costa saiu da capital paraibana com 8 anos, e reencontrou o pai, Francineudo Pereira, após mensagem para Facebook da Prefeitura Municipal de João Pessoa

Francineudo e Yolanda

Família humilde, pai e mãe alcoólatras, quatro filhos, casamento conturbado, baseado em um relacionamento abusivo. Um cenário característico em diversas famílias brasileiras foi o responsável por distanciar um pai e uma filha por cerca de 20 anos. Distância essa que chegou a ser de mais de 1.500 quilômetros, e hoje é de quase 380. O pai é o servidor público Francineudo Pereira, de 52 anos, morador de João Pessoa. A filha é Yiolanda Costa, de 26 anos, que reside em Maceió, capital de Alagoas. O amor, a fé e o Facebook foram os encarregados de retomar o contato entre pai e filha.
Yiolanda entrou em contato com a Prefeitura Municipal de João Pessoa através da página oficial do órgão no Facebook na quinta-feira (21), e passou informações sobre o pai, informando que estava disposta a reencontrá-lo. Após um breve diálogo, e relato de dificuldade para encontrá-lo apenas com a informação de que seria servidor municipal, ela lembrou que o pai poderia ser servidor da Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana (Emlur), o que auxiliou na busca por seu paradeiro. “Lembrei que na época ele trabalhava no carro do lixo ou varrendo rua, aí foi o ponto chave, quando puderam procurar mais rápido por ele”, afirmou Yiolanda.
Com a informação em mãos, a assessoria da Emlur mostrou a foto a alguns servidores. Eis que um artesão da Oficina de Artes da autarquia crava: “É minha filha”.  E é. É Yiolanda Costa. Mesmo após quase 20 anos, Francineudo, carinhosamente apelidado de Chocolate, emocionado, reconheceu o rosto de mulher da filha que saiu de seu convívio aos 8 anos de idade. “Ele me reconheceu? Porque para ele me reconhecer, sai de lá com 8 anos, e hoje estou com 26. Que coisa maravilhosa”, questiona, também emocionada, Yiolanda.
Junto do reconhecimento da filha na imagem, veio o de que o alcoolismo foi o responsável por afastá-lo dos filhos que tanto ama. “Eu nem acredito nisso. Coisa de Deus. Que felicidade. Perdi eles por causa do alcoolismo, mas já estou livre dessa doença”, disse Francineudo enquanto passava seu contato à assessoria da autarquia para ser encaminhado a Yiolanda.
A jovem revelou uma tática de guerrilha e de esperança para chegar até o pai. Ela entrou em diversos grupos de João Pessoa no Facebook e adicionou pessoas da cidade que sequer conhecia. Tudo com a fé de que um dia encontraria seu pai. Foi assim que Yiolanda também reencontrou sua mãe, Lúcia Rodrigues, de 48 anos, que mora no Maranhão. “Hoje tenho contato com ela. Eu também reencontrei ela a cerca de quatro meses atrás, e também através das redes sociais”.
“Mandei o recado [para prefeitura] de manhã, saí para resolver uns problemas, e de tarde a boa notícia chegou para mim”, relatou Yiolanda. Invocando o espírito natalino, ela disse que queria estar na noite de Natal fazendo uma surpresa para seu pai e lhe dando um abraço. “Se tivesse condições estaria viajando para ver meu pai pessoalmente, e fazer uma surpresa para ele”, afirmou.
Também em clima de Natal, emocionado, Francieudo disse que recebeu o melhor presente de sua vida. “Graças a Deus meu presente de Natal está chegando. Foi um presente de Natal que estou ganhando com certeza”, disse.
A separação
Conforme Francineudo, o problema da separação foi seu alcoolismo, o que acarretava em diversos problemas e brigas com a mãe de Yiolanda. “O problema da separação da minha família foi porque sou alcoólatra. Estou em fase de recuperação. Mas aí teve essa separação. Ela voltou para o Maranhão, e eu fiquei com o [filho] mais velho, que vive comigo. Perdi contato com todos eles”, afirmou o artesão.
Quando Yiolanda tinha cerca de 3 anos de idade os pais se separaram, mas ela continuou em contato com o pai. Apenas com 8 anos ela se separou completamente do pai. Sua mãe, Lúcia Rodrigues, hoje com 48 anos, mudou-se para o Maranhão e indiretamente cortou o laço entre família.
“A partir do momento que minha mãe se separou do meu pai, a gente continuou morando em João Pessoa, mas minha mãe entrou em outro relacionamento. Um irmão meu ficou com meu pai, eu com minha mãe. Eu ficava com meu pai nos finais de semana, ele passeava com a gente. Mas quando fiz 8 anos minha mãe resolveu ir embora para o Maranhão, porque estava sem condições em casa, e foi aí que a gente se separou. Quando fui para o Maranhão perdi contato total com meu pai, nem mesmo por telefone”, relatou.
Francineudo lembra dos momentos de lazer com a filha. Segundo ele, levava Yiolanda para a praia, para o Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), e outros locais de lazer e diversão. “Sempre fui muito apegado a eles, mesmo com [o problema com] a bebida sempre fui muito apegado e carinhoso”, destacou.
O alcoolismo ter interferido na história de sua família como relatado pelo pai, é corroborado pela filha. Conforme Yiolanda, o histórico que lhe contam da relação entre seus pais é que por conta do vício é que aconteceu a separação do casal. “Minha mãe bebia, meu pai também. Minha mãe falava que meu pai batia nela, por isso que se separou”, disse resumidamente – preferindo não alongar.
Os quatro irmão foram divididos. Por falta de condições financeiras, eles foram se separando, de acordo com Yiolanda. Ela ficou com a mãe, Fábio, hoje com 30 anos, com o pai em João Pessoa, Fagner, de quem não soube precisar a idade, com uma família conhecida da mãe, e Fabiana, hoje com 29 anos, com outro casal de amigos da mãe. Em um breve resumo dos outros dois irmãos, Yiolanda informou que Fabiana está casada e morando no Mato Grosso. Já Fagner “vive no mundo, deu para coisa que não presta”.
Rotina longe do pai; preocupação com a filha
“Foi complicado em todos os termos. Ficamos separados, e quando cheguei no Maranhão peguei uma barra mais pesada ainda. Quando minha mãe se separou do meu pai, ficou sendo eu para tudo. Ela bebia, naquela época ainda era alcoólatra, ela parou agora. Eu também sumi da vida da minha mãe por causa do álcool”, contou Yiolanda.
Uma infância e adolescência turbulenta, foi assim que a filha de Francineudo resumiu sua fase de crescimento. Longe do pai, e convivendo com a mãe viciada em álcool, ela iniciou em trabalhos aos 9 anos para ajudar financeiramente em casa. “Sempre era eu para tudo. E sempre ficava tentando tirar minha mãe do alcoól, e ela insistia em continuar. Quando completei uns 15, 16 anos, sai de casa, deixei minha mãe, arrumei um parceiro para mim. Naquela época passei por maus bocados. Foi realmente muito complicado”, declarou.
A falta de informações sobre os filhos era angustiante para Francineudo. Ele disse que nos momentos de refeições, ao deitar para dormir, pensava nos filhos e que “sempre estiveram nas minhas orações”.
O artesão disse ainda que já chorou várias vezes por imaginar a situação em que seus filhos se encontrariam, e por não ter uma informação sequer. “Choro na hora da refeição por exemplo, pensando no que estão passando”, revelou. Ainda segundo ele, quer compensar o tempo perdido, e o que não pôde fazer na infância e adolescência fazer a partir de agora.
Franciléia
“O nome do meu pai é Francineudo, e o nome dela é Franciléia. Coloquei por causa do meu pai”. Yiolanda batizou sua filha em homenagem ao pai, a menina recebeu o nome de Franciléia, e hoje está com 9 anos. Ela mora com a mãe e o companheiro de Yiolanda, João Batista, de 38 anos.
Francineudo não sabia da neta, e ao ser informado pela reportagem sobre a homenagem, falou com a voz embargada: “Maior felicidade, que lindo. Não sabia. Uma benção. Como queria abraçar. Pedir perdão”.
Troca de mensagens
De: Yiolanda
Para: Francineudo
Pretendo dizer para meu pai, a primeira coisa, é que amo muito ele. Que nunca desisti, nunca esqueci dele em momento algum. Se tivesse condições hoje estaria viajando para ver meu pai pessoalmente, e fazer uma surpresa para ele. Estou muito ansiosa para falar com meu pai, poder abraçar ele, passar Natal com ele. Se pudesse já estaria viajando agora para poder reencontrar ele.
Quero ficar me comunicando com meu pai sempre. Agora mais do que nunca. Meu pai já está chegando em uma certa idade, quero ficar mais próxima. E assim que tiver uma condição financeira melhor quero ir ao encontro dele.
De: Francineudo
Para: Yiolanda
Amo meus filhos, são minha vida. Amo eles de paixão. Nunca esqueci deles. Gostaria de abraçar meus filhos neste Natal. Entrar em contato, pedir perdão por ter feito mal a eles por causa desse alcoolismo. Sinto muita saudade. Agora quero ser um pai, porque nunca fui um pai para eles. Quando estavam perto, até fui, mas quando ficaram distantes, não fui. Agora pretendo manter contato com certeza.
E quem sofrer com problemas com bebida, se conscientize. Peça força a Deus, tenha força de vontade, qualquer pessoa que tiver problema procure o Alcoólicos Anônimos. Hoje só estou vivo por causa de Deus, minha força, e o AA.
Blog do Gordinho - Por: Cógenes Lira

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