CPI da JBS pedirá o indiciamento e prisão de Janot, informa coluna do jornalista Lauro Jardim
Da coluna de Lauro Jardim no Globo:
A CPMI da JBS não acabou, mas o relatório final que os seus comandantes
planejam terá como peça de resistência o pedido de indiciamento e
prisão de Rodrigo Janot e do seu entorno na PGR.
Leia, abaixo, artigo do ex-ministro Eugênio Aragão sobre Janot:
A inconformação do ex-Procurador-Geral da República
Por Eugênio Aragão
Há pessoas que não sabem sair. Entram com pompa, empertigam-se com as
circunstâncias da função, exibem-se empavonados e querem ficar para
sempre. Gostam do cargo que creem talhado para eles. Acham-se
insubstituíveis. Quando chega a hora de passar o bastão, fazem beicinho e
não querem largar.
Saem meio que a fórceps. E ficam com raivinha do sucessor ou da
sucessora, que não é tão bom ou tão boa quanto se acham. Alguns até se
recusam a transmitir o cargo, ainda que esse passe a outras mãos dentro
da normalidade institucional. Acham um desaforo a escolha do sucessor
sem sua aquiescência. O sucessor só pode ser quem eles escolhem.
Por recém entrevista que deu, o ex-PGR parece se encaixar nesse
figurino, com vocação para alma penada, espírito que não toma
consciência de que desencarnou. Torna-se um encosto para os que ficam, a
quem enxerga como ingratos, por não lhe terem garantido mais vida, como
entende de seu direito. Um espírito obsessivo
Além da continha “oficial” no Twitter, que inaugurou para sua
posteridade, querendo sempre ser lembrado, assaca, agora, no jornal O
Globo, muito acima do tom, contra acertadíssima decisão do Ministro
Ricardo Lewandowski, de devolver acordo de delação ao MPF, porque
celebrado em evidente usurpação de função jurisdicional. Excessivamente
leniente com o investigado, o tal grupo de trabalho da “Lava Jato”,
subordinado ao ex-PGR, se arrogou o direito de despir de sentido a pena
de reclusão em regime fechado, convertendo-a, sem previsão legal, em
serviço à comunidade. Não só tungou a fixação da pena do juiz, como se
fez de legislador. Ou foi ignorância em direito penal, ou foi a
presunção vaidosa que cegou a turma em volta do ex-PGR.
Mas o ex-PGR foi mais longe. Sugeriu que a decisão de devolver o acordo
de delação ao MPF poderia ser consequência de desconforto do STF com os
“rumos indesejáveis” das investigações. Moralista tem dessas coisas.
Sempre se acha superior aos outros. Está sempre certo e quem não o
reconhece deve estar de má fé.
Talvez o ex-PGR devesse se lembrar que foi o Ministro Ricardo
Lewandowski que garantiu sua escolha para o cargo cuja perda tanto
pranteia. Insinuar publicamente má fé de quem procurou tão ansiosamente
quando precisou não é propriamente sinal de bom caráter. Mais
comedimento lhe seria recomendável, até porque, ainda na ativa, como
membro do MPF, não é esse o modo apropriado de se dirigir ao juiz que
negou pedido que formulou – não em caráter pessoal, mas quando ainda no
exercício do cargo de PGR. Quem pode, a esta altura, contestar, nos
autos, o teor do despacho é a sucessora Doutora Raquel Dodge. Atropelar
sua iniciativa com entrevista a periódico não é nem ético e nem
disciplinarmente aceitável.
Cada macaco no seu seu galho. Ao ex-PGR, já que não quis aposentar,
talvez por medo do ostracismo, cumpre agora apenas oficiar perante o
STJ, que é a parte que lhe cabe desse latifúndio. Que deixe o STF para
quem sabe e pode. A Doutora Raquel Dodge, em dois meses, mostrou
virtudes que não constatamos em quatro anos do antecessor:
profissionalismo e discrição, sem entrevistas indignadas, sem
envelopamento de edifícios e sem conta no Twitter.
Brasil 247
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