Em Las Vegas, nos EUA, comprar uma pistola e um fuzil é mais barato que um celular
LAS
VEGAS — O novo iPhone 8 Plus, nos EUA, custa US$ 799 (R$ 2.520). Mas,
com este valor é possível, em Las Vegas, comprar uma pistola (US$ 350 ou
R$ 1.102) e um fuzil (US$ 450 ou R$ 1.418). O preço é mais ou menos
padrão em muitas das dezenas de lojas de armamento da cidade, que no
domingo viveu a maior chacina com armas de fogo na História moderna dos
Estados Unidos. Apesar do choque que ainda assusta parte da população
local, o movimento nestas lojas seguia normal.
— O que podemos fazer? Seria o mesmo que proibir a venda de caminhões e
carros na Europa depois dos ataques terroristas que ocorreram lá. Não
podemos mudar a nossa cultura por causa de uma fatalidade. Isso nunca
tinha ocorrido aqui antes — afirmou um comprador de munição na manhã de
quarta-feira ao GLOBO ao sair de uma loja de armas, mas com a condição
de anonimato. — Não quero dar meu nome pois o momento é de nervosismo,
mas logo tudo volta ao normal.
Isso se repetiu nas quatro lojas de armas que O GLOBO visitou na
quarta-feira: nenhum dos proprietários ou gerentes aceitou dar
entrevistas. Em todas elas, os argumentos eram praticamente os mesmos:
em face dos acontecimentos de domingo, em respeito às vítimas, os
proprietários das lojas decidiram não falar com a imprensa. Ao menos
dois gerentes confirmaram ao jornal, pedindo para não terem seus nomes
nem o de seus estabelecimentos citados, que não sentiram mudança no
movimento de clientes — a maior parte homens — desde a tragédia causada
por Stephen Paddock, que terminou com 58 mortes e mais de 520 feridos.
E o normal no estado é a facilidade no acesso às armas. Para residentes,
o processo é simples e rápido e permite que o eventual comprador saia
armado no mesmo dia — estrangeiros, contudo, não podem comprar, mas
muitas destas lojas oferecem estandes de tiros, que atraem turistas de
todo o mundo — inclusive crianças a partir de 10 anos podem praticar,
respeitando algumas condições.
Lei de restrição não aplicada
A população local aprovou um controle mais criterioso dos antecedentes
criminais para a análise de pessoas que querem comprar armas, mas ele
ainda não está em vigor. Mesmo tendo sido aprovadas num referendo que
ocorreu juntamente com a eleição de novembro do ano passado, as medidas
ainda não foram aplicadas, pois o governo local alega que a lei é
confusa e cria normas que não poderiam ser colocadas em prática. Desta
forma, a venda de armamento em Nevada segue como uma das mais simples
dos EUA.
E o mercado parece ser promissor. De acordo com um levantamento da Every
Town for Gun Safety (ONG contra a violência das armas que tem como
maior colaborador o bilionário e ex-presidente de Nova York, Michael
Bloomberg), há em Nevada, estado com três milhões de habitantes, 515
lojas que vendem armas e munição. Segundo a associação, 97,1% da
população do estado vivem a menos de 16 quilômetros de uma destas lojas.
O mesmo estudo indica que, entre 2006 e 2016, 1.036 pessoas foram
assassinadas no estado por armas de fogo, sem contar que 55% dos 2.795
suicídios do período foram causados por revólveres, pistolas e fuzis. A
associação indica que o custo para tratar os feridos por armas de fogo
somou US$ 246 milhões (R$ 775 milhões). Mas, para os compradores, nem a
tragédia nem estes números parecem importar muito.
Globo.com
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