Tiroteio mobiliza quase mil militares em cerco à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
(Foto: Gabriel Paiva) |
O
ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta sexta-feira (22) no
Palácio do Planalto, depois de uma reunião com o presidente Michel
Temer, que 950 homens das Forças Armadas – dos quais 700 da Polícia do
Exército – e pelo menos dez blindados vão participar a partir das 15h do
cerco à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Ele deu a
informação pelo Twitter depois de uma entrevista coletiva na qual tinha
anunciado inicialmente 700 homens da Polícia do Exército.
Na manhã
desta sexta, o Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio fez uma
nova operação na Rocinha, a quinta em cinco dias. Houve um intenso
tiroteio entre policiais e criminosos. Traficantes fizeram disparos da
área de mata da Rocinha contra policiais que cercavam a comunidade.
Jungmann
disse que os militares vão participar do cerco a fim de liberarem os
policiais do Rio possam subir o morro para fazer o enfrentamento com as
quadrilhas de traficantes de drogas que dominam a comunidade. “Exército
não substitui polícia”, afirmou Jungmann.
De acordo com o
ministro, a partir “das 15h, 15h30”, os homens estariam se deslocando
das suas unidades militares para realizar esse cerco.
Segundo o
ministro, estão no Rio de Janeiro aproximadamente 30 mil militares, dos
quais 10 mil, operacionalmente, podem ser moblizados, de acordo com a
necessidade.
“Neste momento, por se tratar de uma demanda de urgência, você desloca com mais velocidade a Polícia do Exército”, disse
O pedido
para que os militares fossem acionados partiu do governador do Rio,
Luiz Fernando Pezão e do secretário de Segurança Pública do estado,
Roberto Sá. O secretário afirmou que, desde o último domingo 17, quando a
Rocinha foi invadida por criminosos ligados ao traficante Nem, as
polícias civil e militar monitoram a situação na comunidade. Ele afirmou
que somente nesta sexta foi identificada a necessidade do auxílio das
Forças Armadas.
O ministro afirmou que, na reunião com Temer, o
presidente “reiterou sua disposição de manter” o apoio das forças
federais nas ações que estão em curso, inclusive do ponto de vista
orçamentário.
“Até hoje não tivemos nenhuma escassez, não deixou
de faltar qualquer recurso para realizar qualquer operação no Rio de
Janeiro”, disse Jungmann.
Ação social e força-tarefa
O
ministro Raul Jungmann também informou que nos próximos dias Temer e o
ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, irão ao Rio de Janeiro
para anunciar um “amplo pacto na área social”.
Antes do encontro
com Temer, Jungmann se reuniu por cerca de uma hora com a
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a quem propôs a formação
de uma força-tarefa integrada por procuradores e representantes do
governo federal.
Segundo ele, o objetivo da força-tarefa será
“combater não só o crime organizado, mas o estado paralelo, ou seja,
aquelas instituições do estado capturadas pelo crime organizado”.
A
Procuradoria Geral da República informou que Raquel Dodge pediu ao
ministro da Defesa para formalizar uma proposta, com a indicação do
papel de cada órgão na força-tarefa.
Segundo Jungmann, a
procuradora-geral sugeriu a instalação de parlatórios dentro das
penitenciárias e dos presídios federais como forma de intermediar as
comunicações entre presos e advogados.
O ministro defendeu a
instalação desses parlatórios em unidades prisionais, maior parte das
quais administradas pelos estados. Conforme o ministro, o preso ficaria
separado por um vidro do advogado ou familiar e se falariam por
telefone, com as conversas registradas. Jungmann declarou que há
resistência à medida, sobretudo de advogados criminalistas.
Questionado
se o plano nacional de segurança fracassou ao não impedir a comunicação
entre criminosos dentro da prisão e seus comparsas na rua, o ministro
afirmou que o governo federal faz apenas as varreduras nas prisões.
“Fizemos as varreduras. Agora, mantê-las limpas [as cadeias]
evidentemente é trabalho dos estados”.
“Nós fizemos até agora 30
varreduras e encontramos dentro destes presídios um fato extremamente
preocupante: 1 em cada 3 presos está armado em presídios e
penitenciárias do país. Lá dentro, encontramos celulares, televisor,
tudo o que vocês imaginarem. Boa parte do nosso sistema prisional é uma
peneira”, declarou.
Os conflitos
Logo cedo,
o Batalhão de Choque da Polícia Militar fez um nova operação na região
da Rocinha, a quinta em cinco dias. Desde as 9h30 desta sexta-feira, a
favela enfrenta um intenso tiroteio entre policiais e criminosos.
Traficantes fizeram disparos da área de mata da Rocinha contra policiais
que cercavam a comunidade.
O tiroteio entre traficantes e
policiais foi relatado por moradores da favela em redes sociais e foi
registrado em vídeos que circulam na internet. Segundo relatos, os
criminosos tentaram fugir pelo Alto da Boa Vista, passando pela Vista
Chinesa, um dos principais cartões postais da região.
Devido à
operação policial na Rocinha, a autoestrada Lagoa-Barra foi fechada
entre o Fashion Mall (desvio) e a Praça Sibelius na manhã desta sexta. A
autoestrada é a principal ligação entre a Zona Sul e a Zona Oeste da
cidade. O túnel Zuzu Angel também foi fechado em razão dos conflitos.
Durante
o tiroteio, um ônibus da linha 538 foi incendiado na Estrada da Gávea. A
informação é de que o ato foi criminoso, segundo o repórter Pedro
Figueiredo, da TV Globo.
Quase 2,5 mil alunos da rede municipal de
ensino ficaram sem aula na Rocinha na manhã desta sexta. São estudantes
de duas creches, um espaço de desenvolvimento infantil e cinco escolas.
De
acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, todas as cinco unidades de
saúde da Rocinha foram fechadas e estão com o atendimento suspenso.
Houve
relatos de tiros em outras favelas do Rio de Janeiro, como o complexo
de favelas do Alemão, Dona Marta, Vila Kennedy e Chapéu Mangueira. Uma
criança foi baleada na Fazendinha, favela do Complexo do Alemão.
G1
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