Mais de 2 mil prefeitos descumpriram exigências da lei de responsabilidade fiscal
Destes, 715 deixaram para seus sucessores contas a pagar em valor maior do que os recursos em caixa, um rombo de R$ 6,3 bilhões

© DR - por Folhapress
Pelo
menos 2.091 prefeitos descumpriram exigências da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) em 2016, conclui estudo divulgado nesta
quinta (10) pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).
Destes, 715 deixaram para seus sucessores contas a pagar em valor maior
do que os recursos em caixa, um rombo de R$ 6,3 bilhões.
"Vivemos um verdadeiro
faroeste fiscal, com muitos municípios fora-da-lei", afirma o
economista-chefe da Firjan, Guilherme Mercês. O dado de 2016 é inflado
pelo fato de que anos eleitorais têm a exigência adicional de não
permitir o repasse das contas com rombo aos sucessores.
Ainda
assim, houve um grande número de prefeituras (575) que encerrou o ano
gastando mais com pessoal do que os 60% da receita corrente líquida
permitida em lei. O número é menor dos que o recorde de 740 verificados
no ano anterior, mas reflete a ajuda extra de R$ 8,9 bilhões recebida
com a repatriação de recursos no exterior.
Segundo Mercês, a verba
salvou 296 prefeitos de ultrapassar o limite de gastos com pessoal.
Além disso, ajudou outros 328 a entregarem a seus sucessores o caixa com
recursos insuficientes para cobrir os restos a pagar.
"Sem a
repatriação, o percentual de municípios em estado crítico seria
recorde", diz o economista-chefe da Firjan. O estudo divulgado nesta
quinta analisou as contas de 4.544 dos 5.570 municípios brasileiros.
Entre eles, 85,9% estão em situação difícil ou crítica, de acordo com o
Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF).
Segundo o ranking elaborado
pela Firjan, 28,4% das cidades fechou 2016 em situação crítica e 57,5%,
em situação difícil. Outros 1,38% foram classificados como boa gestão e
apenas 0,3%, como gestão de excelência.
O IFGF é calculado com
base na capacidade de geração de receita própria, os gastos com pessoal,
os investimentos realizados, o custo da dívida e a quantidade de
recursos em caixa, considerando os compromissos com restos a pagar.
A
edição referente ao ano de 2016 mostra que, assim como ocorre com os
estados, um número cada vez maior de municípios tem se "financiado" com a
rubrica restos a pagar. A estratégia consiste em empurrar para o ano
seguinte o maior volume possível de faturas e, assim, conseguir fechar
as contas.
Do
total de municípios pesquisados, 5,7% dos municípios analisados pela
Firjan descumpriram a determinação de entregar aos sucessores recursos
suficientes para cobrir a rubrica.
Embora a dívida não seja grande
preocupação das prefeituras brasileiras, a Firjan detectou 10 casos de
pagamento com custos da dívida acima do permitido pela LRF.
Outras
937 prefeituras não entregaram os dados à Secretaria do tesouro
Nacional dentro do prazo estabelecido pela lei. "É impressionante o
número de prefeituras que não entregou os dados", disse Mercês.
Na
média nacional o IFGF dos municípios em 2016 foi 0,4655 (quanto mais
perto de 1, melhor), acima dos 0,4432 verificados no ano anterior - que
foi o pior da série iniciada em 2006. Segundo a Firjan, a melhora pode
ser explicada, mais uma vez, pela repatriação.
Houve avanço nos
indicadores de liquidez e gastos com pessoal, justamente os mais
beneficiados pela injeção de recursos. Por outro lado, pioraram os
indicadores de investimentos e receita própria.
No caso do
investimento, diz Mercês, o desempenho em 2016 foi o pior desde o início
da pesquisa, em 2006. "O investimento é o que mais sofre com a crise,
já que o orçamento é bastante engessado com gastos de pessoal", comenta o
economista.Já o indicador de receita própria mostra que 82% dos
municípios brasileiros não geram nem 20% de suas receitas e são
extremamente dependentes de transferências governamentais.
RANKING
O
melhor município do ranking deste ano foi Gavião Peixoto (SP), que
subiu 409 posições entre 2015 e 2016. Para a Firjan, investimentos no
setor aeronáutico -a cidade sedia instalações da Embraer- podem
justificar o desempenho.
Já o pior foi Riachão do Bacamarte (PB),
com IFGFR de apenas 0,0858.Entre as capitais, o melhor desempenho em
2016 foi Manaus (AM) e o pior, de Campo Grande (MS). A primeira ficou na
33ª posição no ranking geral e a segunda, na 3.276ª.
A capital
paulista fechou o ano com o pior desempenho no índice desde 2006, com
IFGF de 0,6697, diante da queda nos investimentos e na folga de caixa em
2016. Foi oitava melhor capital e 229ª no ranking total.
O Rio
caiu para a 2ª posição entre as capitais e ficou na 66ª colocação entre
as cidades pesquisadas, com IFGF de 0,7329. Os dados da Firjan confirmam
que a cidade queimou caixa nos últimos três anos para investir em obras
de infraestruturaEm o caixa líquido da empresa (considerando o volume
de restos a pagar) ficou apenas 3% acima da receita corrente líquida. Em
2009, eram 42,1%.
"As duas cidades devem viver um
período de baixo investimento", conclui Mercês, ressaltando que PPPs
(Parcerias Público-Privadas) e concessões podem ser alternativas para
driblar a falta de recursos.
Notícias ao Minuto
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