Vander Lee e Luiz Melodia: um novo encontro (além da parceria musical)

Há um ano recebemos a triste notícia da partida de um grande talento
da MPB, o mineiro Vander Lee, dono de uma voz inconfundível e de
composições sublimes. Ao longo de 20 anos de carreira, o artista teve
várias de suas canções e parcerias gravadas por grandes e renomados
nomes da nossa música, como Gal Costa, Maria Bethânia, Elza Soares, Rita
Ribeiro, Zeca Baleiro e outros.
Um ano depois da morte de Vander Lee, que invertendo uma das suas
composições, viveu poeta e morreu menino, três meses depois de Belchior
sair de vez do nosso caminho, quem deixa a MPB mais aguda e com menos
brilho é Luiz Melodia, que eternizou sucessos como Pérola Negra e marcou
história nas páginas da nossa música. Nascido no morro do Estácio,
recebendo influências musicais do samba e outros estilos, Melodia afina
um estilo peculiar que parece moldar perfeitamente à sua forte presença
vocal.
Além de parceiros musicais, Vander Lee e Luiz Melodia compartilharam
projetos artísticos e acumularam participações especiais, a exemplo do
show de lançamento do CD “No Balanço do Balaio” que o mineiro realizou
no ano 2000, com a participação de Luiz Melodia. A parceria se repetiu
no mesmo ano com o projeto “Vander Lee convida Luiz Melodia”, realizado
no SESC do Rio de Janeiro como parte do projeto “Novo Canto”.
Depois de um ano de sua morte, amigos, fãs e familiares ainda tentam
de forma hercúlea lançar o DVD póstumo de comemoração dos 20 anos de
carreira do músico Vander Lee, gravado um mês antes da sua morte. Antes
da sua gravação, o artista já havia lançado uma campanha colaborativa na
internet que foi continuada e reforçada posteriormente. A última
previsão de lançamento é para novembro deste ano.
Nos resta literalmente fazer o que Cazuza nos ensinou e transformar o tédio em Melodia…
E torcer que a morte, cantada por Raul, tenha se vestido com a mais
bela roupa, talvez de cetim e revelado através dela, o segredo dessa
vida.
Afinal, será que nos interessa elaborar o luto, o desligamento de nós
mortais, àqueles que se foram? O artista e sua obra se confundem e
talvez este seja o momento em que os dois se diferenciem, por mais que
queiramos que se distanciem. A obra se eterniza e ganha substância e até
mesmo um tempero de resistência, em tempos sombrios e
de estrangulamento cultural, onde a segregação e a intolerância parecem
ganhar corpo, palco, cena…
E pra falar a verdade, talvez seja melhor que nossos ídolos continuem sendo os mesmos….
MaisPB - Por Bira Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário