sábado, 29 de julho de 2017

'Crime de ódio'

Travesti sofre ataque e tem corpo queimado em hotel da região metropolitana do Rio

Uma travesti de 23 anos sofreu uma tentativa de homicídio e teve parte do corpo queimada em um hotel de Alcântara, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Jéssica Dime entrou no estabelecimento acompanhada de um homem, ainda não identificado, para realizar um programa, na madrugada de sexta-feira. Hóspedes preocupados com as chamas no quarto acionaram a polícia, que encontrou a jovem caída no chão. Jéssica permanece internada em estado grave no Hospital Estadual Alberto Torres.
— Havia sinais de tentativa de esganadura, e o corpo estava parcialmente queimado. Já estamos verificando os funcionários que trabalharam naquela noite para ouvi-los já na segunda-feira. Principalmente, queremos ouvir a Jéssica, que está no hospital — destacou a delegada Carla Tavares, titular da 74ª DP (Alcântara).
Irmã da vítima, Joyce Pereira contou que a família soube do ataque por colegas de Jéssica. Naquele momento, porém, não imaginavam a dimensão dos ferimentos. A jovem nunca havia relatado qualquer ameaça à família. Na visita do hospital, porém, a mãe dela precisou ser amparada.
— Foi um choque na hora de ver. Só pode entrar um de cada vez. Minha mãe pensou que era uma pequena queimadura, como a gente queima em casa. Quando ela viu (a Jéssica), com aquele monte de aparelho, sedada, com a cara inchada, toda enfaixada do pescoço para baixo… Foi um choque porque estamos acostumados a ver ela toda alegre. Eu achei que era exagero da minha mãe, mas não. A gente sempre escuta a notícia em jornal, sabe que o risco corre, mas nunca acredita que vai acontecer com a gente — explicou Joyce.
Segundo Joyce, testemunhas relataram que o homem saiu para comprar bebida e voltou para o hotel. Jéssica estava vestida quando teve o corpo incendiado. No quarto, a televisão e a parede teriam ficado danificados, não a cama. O suspeito fugiu e trancou a porta, na qual a vítima bateu com força para pedir socorro.
— Como um cara sai do hotel, volta e não tem identificação dele? Vamos orar para a gente ter força nesse momento. Deus está no comando — frisou a irmã.
‘Crime de ódio’
A mãe de Jessica precisou ser medicada ao saber do crime. A irmã estava tão abalada que nem conseguiu prestar atenção às informações sobre o estado de saúde da irmã. Sabe apenas que Jéssica ainda corre risco de morrer, mas que a pouca idade e a saúde forte devem contribuir para a recuperação.
— Ele falou que as primeiras horas eram decisivas, que ela é nova e é forte, então pode sair bem dessa. A queimadura afetou as costas e, por isso, ela pode pegar pneumonia. Está isolada no CTI, queimou muito, só não pegou no rosto — relatou a irmã.
O coletivo Grupo Liberdade/Santa Diversidade acompanha as investigações e presta suporte à família. A ideia é solicitar a tranferência do caso da 74ª DP (Alcântara) para a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
— Isso tem fundo de crime de ódio motivado por transfobia. Quando a polícia foi acionada, o criminoso já tinha saído. Vamos tentar transferir o caso para a Deam porque a delegacia de Alcântara está lotada e é um caso de violência de gênero — explicou o fundador do grupo, Wells Castilhos.

Extra

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