O helicóptero do senador Zezé Perrella e as ações controladas
Os detalhes por trás da apreensão de 450 quilos de cocaína na aeronave de Zezé Perrella sugerem que o senador foi enganado. O problema agora é outro
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Helicóptero pertencente à família de Zezé Perrella apreendido pela polícia com mais de 400 quilos de cocaína no Espírito Santo - (PMES/Divulgação/VEJA/VEJA) |
A revelação, esta semana, de um grampo telefônico em que o senador Zezé Perrella (PMDB-MG) diz a Aécio Neves, em tom de piada, que “só trafica drogas”
ressuscitou a história da apreensão de 450 quilos de cocaína em um
helicóptero na cidade capixaba de Brejetuba, no final de novembro de
2013. O aparelho – um modelo Robinson R66 – era de propriedade da
família de Perrella. O caso pautou as eleições presidenciais de 2014,
pois Perrella era e é um grande aliado político de Aécio Neves, então
candidato. O próprio sobrenome Perrella virou, na boca dos adversários, o
equivalente brasileiro de “Escobar”. Quando ele foi indicado para a
comissão que analisou o impeachment de Dilma Rousseff no Senado, em
2016, os petistas ralharam, dizendo que um “traficante” não poderia
exercer tal função.
Apesar do flagrante, o escândalo do “helicoca”, como os
adversários dos tucanos apelidaram o episódio, não resultou em
indiciamento do senador. Pouco se falou nas razões para essa decisão da
PF de eximir Perrella de responsabilidade sobre a carga apreendida, mas o
relatório final da investigação traz bons indícios de que ele foi
enganado por seu piloto, Rogério Almeida Antunes.
Por ironia, Perrella foi salvo pelo mesmo tipo de
investigação que o fez ser descoberto como destinatário do dinheiro que
Aécio Neves, em conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, da
JBS, pediu para, supostamente, pagar advogados. Trata-se da modalidade
de “ação controlada”.
Em 2013, quando os traficantes foram presos em flagrante com
o helicóptero de Perrella, eles estavam sendo monitorados à distância
pela PF. A prisão foi o último ato da polícia depois de meses de
escrutínio da quadrilha.
Graças a escutas telefônicas, os policiais federais
conheciam em detalhes os passos dados pela quadrilha de traficantes
internacionais para aliciar Rogério Almeida Antunes, o piloto de
Perrella.
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Trecho do relatório final da investigação da PF sobre o caso do “helicoca” = (Reprodução/VEJA.com) |
Segundo a transcrição dos grampos, o helicóptero que
buscaria a carga de cocaína no Paraguai havia sofrido uma pane e
realizado um pouso de emergência em uma fazenda em Avaré, no interior de
São Paulo. Na busca por uma aeronave substituta, um dos pilotos que
trabalhavam para quadrilha, Alexandre Oliveira Júnior, sugeriu o nome de
um colega que ele havia conhecido em uma oficina no Aeroporto de
Congonhas.
Tratava-se de Antunes, piloto do senador. Júnior ligou para
Antunes e ofereceu a empreitada. Ele recebeu a oferta de 50.000 reais
para pegar o helicóptero à revelia de seus patrões e fazer a operação ao
longo de um dia.
Por orientação da quadrilha, Antunes disse aos Perrella que
precisava levar o helicóptero para manutenção em São Paulo. No dia 20 de
novembro de 2013, decolou rumo ao Paraguai para fazer o seu voo de
estreia no narcotráfico.
Ouvidos por VEJA, dois delegados que trabalharam no caso
afirmam que no caso do “helicoca” não havia qualquer indício de que o
senador José Perrella ou qualquer familiar dele estava envolvido. “Nós
já tínhamos conhecimento de cada passo da quadrilha”, diz o policial.
Há duas semanas, uma nova “ação controlada” colidiu com a
biografia do senador mineiro, mas dessa vez ele não aparece como vítima
de uma mal-entendido. Devido à colaboração dos executivos da JBS com a
Procuradoria Geral da República, descobriu-se que a conta de uma das
empresas de Perrella foi a destinatária de 2 milhões de reais, em quatro
parcelas, entregues pela JBS a pedido do senador afastado Aécio Neves. (Perrella negou que tenha recebido dinheiro do grupo empresarial.)
Entende-se a ironia no comentário grampeado do senador.
Veja
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