Deboche safadão: cantor Luiz Caldas, o rei do Carnaval baiano nos anos 1980
Como Luiz Caldas dominou a cena musical baiana e revolucionou o Carnaval
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| Luiz Caldas: 'Em casa, só os clássicos me fazem a cabeça' (Mario Cravo Neto/VEJA) |
Reportagem de VEJA desta semana mostra a rotina do cearense
Wesley Oliveira da Silva, o Wesley Safadão. Ao contrário do que o nome
possa sugerir, o cantor não se apresenta ostensivamente como um símbolo
sexual: faz o gênero amigão malandro. Quando longe dos palcos – o que é
raro, dada a agenda de trinta shows mensais –, Safadão revela-se um
sujeito família e cristão. Há trinta anos, VEJA estampava em sua capa um
fenômeno pop mais despudorado: Luiz Caldas, que falava em passar batom
cor de violeta na boca e na bochecha (Fricote), fazer zum-zum na cama e gemer sem sentir dor (Haja Amor) e tira, tira, bota, bota (Lá vem o Guarda).
Chamou-se deboche o gênero popularizado por Caldas. “Depois
de batizar a dança, deboche passou a significar, por extensão, uma
música híbrida que tem como ingredientes o batuque negro da Bahia, o
ritmo balançado da salsa, do merengue, do reggae e outros gêneros do
Caribe, e as guitarras importadas do rock”, explicava a reportagem de
VEJA de 4 de março de 1987.
Com Fricote e outros hits do deboche, o carnaval de
Salvador experimentava sua mais importante renovação desde a invenção
do trio elétrico, nos anos 1950. “Até o ano passado”, dizia a reportagem
de VEJA, “o prato principal que os trinta trios da cidade ofereciam aos
foliões que os seguem pelas ruas era o frevo, transmutado pelas
guitarras num ritmo puladinho que se tornou o próprio símbolo do
Carnaval baiano”. O fenômeno do deboche transformou a cena musical
baiana e, por fim, brasileira, sob o rótulo de “axé music”, do qual
Caldas é justamente considerado pioneiro.
“A Bahia retomou um processo de efervescência cultural
através, sobretudo, dessa nova música”, avaliava em entrevista a VEJA
Antonio Risério, estudioso da cultura baiana. “Luiz Caldas conseguiu
fazer uma ponte entre o Carnaval e a música pop”, elogiava Gilberto Gil,
apontando a perfeita união entre a música baiana e a caribenha. “Ele é
um grande talento, bom instrumentista e soube reunir os elementos certos
na música”, acrescentava Moraes Moreira. “Luiz Caldas é um retrato da
riqueza musical do Brasil”, emendava Beth Carvalho.
A VEJA, Caldas falava das origens do deboche: “Quando eu
tocava apenas frevo nos trios, notava que nem o conjunto nem os foliões
aguentavam pular por muito tempo sem relaxar por alguns minutos, e
nesses momentos todos dançavam com mais swing, relaxando, de uma forma
debochada, daí nasceu o deboche”.
A reportagem também narrava a suada trajetória de Caldas até
o estrelato. “Nascido em Feira de Santana, filho de um vigilante
rodoviário, ele chegou a tocar nas ruas de São Paulo para sobreviver, em
1974, quando sua mãe emigrou para o sul depois de se separar do marido.
Na época, seu grande sonho era conseguir se apresentar no Programa Silvio Santos.
Não conseguiu. De volta à Bahia, dedicou-se a imitar Michael Jackson em
bailes do interior.” Com os anos, iniciou carreira de crooner e
guitarrista. “Não há melhor escola do que tocar em bailes, pois tem-se
que aprender a tocar de tudo”, dizia.
No auge do sucesso, Caldas ainda mantinha hábitos singelos,
como jogar futebol, ver filmes de terror e ouvir sua coleção de música…
clássica. “Em casa, só os clássicos me fazem a cabeça.”
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| Capa de VEJA de março de 1987. Clique para ler a reportagem no Acervo Digital - (Reprodução/VEJA) |


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