França e Brasil investigam propina para escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos
Um grupo de procuradores franceses se reuniu na manhã
desta segunda-feira (8) com procuradores brasileiros para trocarem
informações em uma investigação conjunta sobre suposta compra de votos
para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016.
Após a reunião, o representante do Ministério Público Financeiro da
França, procurador Jean-Yves Lourgouilloux, disse que a parceria visa a
troca de informações com investigadores brasileiros para saber se alguém
no Brasil poderia estar interessado em pagar para trazer a Olimpíada
para o país.
A investigação na França já verificou o pagamento de ao menos US$ 2
milhões (cerca de R$ 6,4 milhões, na cotação atual) dias antes da
escolha do Rio como sede, em 2009, para membros do Comitê Olímpico
Internacional (COI).
Segundo o francês, o valor pode ser maior e a propina pode ter
viabilizado a compra em bloco de votos de alguns continentes, que votam
juntos na escolha. Ele evitou dar mais detalhes, já que a investigação
corre em sigilo.
Pelo lado brasileiro, o coordenador da cooperação internacional da
Procuradoria Geral da República (PGR), Vladimir Aras, confirmou reuniões
de trabalho para troca de dados de inteligência e aprofundamento das
investigações, e disse que elas estão concentradas no Rio e em Brasília.
“Há uma intensa cooperação com a França em função da proximidade
geográfica e territorial inclusive com a Guiana Francesa”, disse Aras,
sem dar mais detalhes.
Nesta terça, procuradores brasileiros responsáveis pelo caso vão se
reunir com seus pares franceses para mais trocas de informações.
Empresário brasileiro
Em março, o jornal francês “Le Monde” revelou que um empresário
brasileiro pagou US$ 1,5 milhão ao filho do ex-presidente da Federação
Internacional de Atletismo, três dias antes da votação para escolha da
sede da Olimpíada de 2016.
De acordo com a publicação, o pagamento foi feito por Arthur Cesar
Menezes Soares Filho, que é ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, a
Papa Diack, filho do senegalês Lamine Diack. Lamine era membro do Comitê
Olímpico Internacional (COI) e foi um dos que votaram no Rio como sede
dos Jogos de 2016.
Arthur era dono da Facility, grupo de empresas que presta serviços ao
governo e à prefeitura do Rio em diversas áreas, como saúde, limpeza,
alimentação e até no Departamento de Trânsito do Estado do Rio de
Janeiro (Detran). No início de fevereiro, ele prestou depoimento ao
Ministério Público Federal do Rio.
Para os procuradores, ele pode ter envolvimento no esquema de
corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Arthur negou que
tenha pagado qualquer vantagem indevida para que suas empresas fossem
contratadas pelo governo.
Ainda segundo o jornal “Le Monde”, o pagamento ao filho de Diack
teria sido feito através da empresa de Arthur César, com sede nas Ilhas
Virgens britânicas, a Matlock Capital Group.
O jornal afirma também que um segundo depósito, de US$ 500 mil, teria
sido feito numa conta na Rússia do filho de Diack. Pai e filho são
investigados na França.
A defesa de Arthur César de Menezes Soares Filho diz que seu cliente
desconhece o assunto e que jamais teve qualquer notícia sobre o fato
divulgado pelo jornal francês.
Ainda em março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) divulgou uma
nota à imprensa em que afirma que está colaborando com as investigações
na França e já afastou Lamine Diack das funções em novembro de 2015.
Após perder por duas tentativas a sede (para Atenas, em 2004, e
Londres, em 2012), o Rio venceu, em 2009, a escolha para os Jogos de
2016. A diferença de 29 votos contra Madri foi apenas no terceiro turno
da eleição, realizada na Dinamarca.
No primeiro turno, o Rio ficou em segundo, atrás da capital espanhola
(28 votos). Após a eliminação de Chicago, o Rio teve 46 votos, contra
29 de Madri e 20 de Tóquio.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário