João Santana e Mônica Moura abrem caixa-preta de campanhas municipais do PT
Marqueteiro recebeu 38,6 milhões de reais de caixa dois nas campanhas de Marta Suplicy, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad e Patrus Ananias
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Gleisi Hoffman, Marta Suplicy, Fernando Haddad e Patrus Ananias - (Edilson Rodrigues/Ag. Senado, LiadePaula/MinC, Alessandro Dantas e Lula Marques/PT) |
Em suas delações premiadas fechadas com a Procuradoria-Geral da República e tornadas públicas nesta quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, detalham como receberam, via caixa dois, 38,6 milhões de reais das campanhas municipais dos candidatos petistas Marta Suplicy (hoje no PMDB) e Gleisi Hoffmann, em 2008, e Fernando Haddad e Patrus Ananias, em 2012.
Veja o que o casal disse sobre cada um deles em suas delações:
Marta Suplicy (São Paulo, 2008)
João Santana declarou à PGR que a hoje senadora pelo PMDB
paulista participava ativamente das tratativas relativas ao
financiamento de sua campanha em São Paulo em 2008 e tinha conhecimento
dos pagamentos de caixa dois intermediados pelo ex-ministro Antonio
Palocci.
Segundo Mônica Moura, a comunicação política da campanha de
Marta à prefeitura paulistana naquele ano custou 18 milhões de reais,
dos quais 10 milhões de reais pagos “por fora”, sem declaração à Justiça
Eleitoral. “Como usualmente acontecia, Antonio Palocci exigiu que
Mônica Moura recebesse parte deste valor por fora: uma parte em dinheiro
em espécie entregue em São Paulo e uma parte seria paga pela empresa
Odebrecht que, novamente, exigiu que fossem realizadas transferências no
exterior”, diz a delação.
O dinheiro do caixa dois entregue em espécie em São Paulo
foi repassado aos marqueteiros, de acordo com Mônica, por Edson
Ferreira, então tesoureiro do PT paulista, e Juscelino Dourado,
ex-assessor de Palocci. Os valores pagos pela empreiteira foram
depositados na offshore Shellbill, mantida pelo casal na Suíça.
Os 7,5 milhões de reais restantes devidos pela campanha da
senadora, por orientação dela própria e de Palocci, teriam sido
encaminhados por Ferreira e declarados ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Santana também relatou à PGR um pedido “curioso” de Marta
Suplicy: que ele contratasse o então marido dela, o argentino Luis
Favre, “que precisava de emprego regular por ser estrangeiro”. De acordo
com o delator, Marta disse a ele que o salário pago pela empresa de
marketing político a Favre a título de consultoria, 20.000 reais ao
longo de um ano, seria compensado no dinheiro “por fora” pago ao
marqueteiro.
Gleisi Hoffmann (Curitiba, 2008)
João Santana relatou aos procuradores que não queria
trabalhar na campanha da senadora Gleisi Hoffman à prefeitura de
Curitiba em 2008 porque a petista “não tinha chances de vitória” e ele
já estava comprometido com a campanha de Marta Suplicy, mas que acabou
convencido por Antonio Palocci e o ex-ministro Paulo Bernardo, marido de
Gleisi e responsável pela interlocução com os marqueteiros em assuntos
financeiros.
De acordo com o delator, seu trabalho na campanha de Gleisi
custou 6 milhões de reais, dos quais 1,35 milhão de reais foi pago
oficialmente e os 4,6 milhões de reais, por caixa dois. Santana e Mônica
disseram em seus depoimentos que, embora não fosse tão ativa nas
tratativas quanto Marta, Gleisi Hoffmann também sabia dos pagamentos não
declarados.
Mônica Moura detalhou recebeu dinheiro “por fora” das mãos
de assessores da campanha de Gleisi em locais variados, como o
escritório de um advogado da petista, a produtora onde a equipe dos
marqueteiros trabalhava, e em um hotel.
Fernando Haddad (São Paulo, 2012)
Os delatores também relatam pagamentos não declarados à
Justiça Eleitoral na vitoriosa campanha do ex-prefeito de São Paulo
Fernando Haddad. O valor do caixa dois na campanha de Haddad destinado a
Santana e Mônica é o maior entre os candidatos petistas a prefeituras
delatados pelo casal: 20 milhões de reais, que teriam sido acertados
pelo ex-ministro Antonio Palocci e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto. Dez milhões de reais foram pagos e declarados ao TSE, dizem os
marqueteiros.
Dos 20 milhões de reais pagos em caixa dois, 15 milhões de
reais ficaram a cargo da Odebrecht, que usou seu departamento de
propinas para pagar 5 milhões de reais em dinheiro vivo em hotéis ou
flats da capital paulista e depositou 10 milhões de reais, cerca de 5
milhões de dólares, na offshore Shellbill, controlada pelo casal.
Os 5 milhões de reais restantes de caixa dois combinados por
Palocci e Vaccari foram pagos em 2013, dizem os delatores, pela OGX,
petroleira do empresário Eike Batista, graças a uma articulação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro foi depositado a
Santana e Mônica por meio de um contrato fictício de consultoria firmado
entre a Shellbill e a Golden Rock, offshore controlada por Eike no
Panamá.
Patrus Ananias (Belo Horizonte, 2012)
João Santana assumiu a campanha do então ministro do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome à prefeitura de Belo Horizonte
depois de um pedido de Dilma Rousseff. Na capital mineira, ao contrário
de São Paulo e Curitiba, contudo, o dinheiro de caixa dois não foi
intermediado por Antonio Palocci, mas pelo então ministro do
Desenvolvimento e atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel
(PT), procurado pelo casal de marqueteiros após orientação de Dilma.
Mônica Moura narra em sua delação premiada que combinou com
Pimentel que os serviços de Santana na campanha de Ananias custariam 12
milhões de reais, dos quais 4 milhões de reais “por fora” e 8 milhões de
reais “por dentro”.
Segundo a delatora, depois de alguns pagamentos em espécie
em Belo Horizonte e muitas cobranças por atrasos nos repasses, Fernando
Pimentel levou São Paulo 800.000 reais em dinheiro vivo, alocados dentro
de uma maleta. Em seus depoimentos, Mônica declarou ter ponderado com
Pimentel que não teria como levar o dinheiro de modo seguro da capital
paulista à mineira, onde tinha pagamentos a fazer.
“Fernando Pimentel, então, se dispôs a transportar o
dinheiro em espécie de São Paulo para Belo Horizonte. Ela soube que
Fernando Pimentel levou os R$ 800.000 em um avião particular (jatinho),
de São Paulo a Belo Horizonte e a referida foi entregue na produtora em
BH”, diz a delação. Os 3,2 milhões de reais restantes do valor a ser
recebido de caixa dois foram pagos pela Odebrecht na offshore Shellbill,
de acordo com a mulher de João Santana.
Veja
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