Não houve golpe contra Dilma nem Lula é vítima de uma elite preconceituosa
Por Heron Cid
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Problema para a esquerda resolver: não dá para gritar Fora Temer com a bandeira Volta Lula |
A patológica crise que adoeceu o Brasil está a
extinguir de uma vez por todas vários paradigmas. O primeiro: Dilma não
foi um governo honesto que caiu por um golpe. As delações estão aí para
mostrar que, ainda que o Congresso estivesse todo ao seu lado, seu
governo, se ainda existisse, não teria condição moral alguma.
O segundo: a Lula cabe qualquer papel nesta novela, menos o de vítima
de uma elite preconceituosa. As delações, inclusive a da JBS que arrasa
Temer e o PSDB, também estão aí para mostrar que, dentro e fora do
governo, o ex-presidente soube conviver e se aproveitar muito bem da tal
burguesia.
Isso está muito evidente, em que pese haver no País um contingente
expressivo que simplesmente fecha os olhos para esta verdade solar. Eis
aí o problema.
A cegueira psicológica, estabelecida neste segmento é capaz de fazer
com que muitos, inclusive intelectuais, levantem as vozes para
ardorosamente combater a corrupção de Michel Temer, mas finjam, ignorem
ou simplesmente acreditem que Lula está isento da bandalheira.
E o vejam como alternativa pelo frágil argumento de que sob seu
governo o Brasil avançou nas políticas sociais, retirando milhões da
pobreza, ou teve sucesso na economia, aumentando crédito e o poder de
compra.
Como se algum mérito governamental pudesse blindar, minimizar ou
imunizar qualquer agente público de crimes e malfeitos. Uma derivação de
um novo malufismo.
Lula foi importante, tem seus méritos, mas seu discurso está
superado, nestes tempos em que se descobre que enquanto se avançava com o
Bolsa Família, se retroagia comprando votos, apoios e eleição, às
custas de generosidades para empresários em troca de propinas.
O mantra lulista está velho. O Brasil que já come carne, financia
carros e imóveis e acessa a universidade quer ir além. Esse é um desafio
para a esquerda.
Convencer a si mesmo que tem em seus quadros nomes ilibados, jovens e
antenados com as novas demandas do Brasil e que é capaz de construir
alternativas olhando para frente, ao invés de se deixar refém de um
passado em processo de putrefação.
Se a esquerda concluir que a única saída que pode oferecer ao Brasil é
colocar o peso de Lula nas costas, estará admitindo seu colapso, vazio e
mediocridade. Quando até a chamada direita, com todo o seu dito
conservadorismo, tem feito a autocrítica de admitir o fim de Temer e a
expurgação de um Aécio Neves.
O cenário é conturbado, confuso e nebuloso, mas é preciso um lampejo
de serenidade, uma dose de realidade e, quem sabe, beber na fonte da
constatação profética de Belchior: “E o que há algum tempo era jovem
novo/Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”.
Não dá para gritar Fora Temer com uma bandeira de Volta Lula. É, no
mínimo, incoerente com a história e com tudo que está aí. Às vistas de
todos quantos queiram ver.
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