EXCLUSIVO: O encontro secreto do ex-presidente Lula e Renato Duque
Foto apresentada a Sergio Moro desmente ex-presidente, que negou conhecer o operador do PT no petrolão
O ex-presidente Lula e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque em foto de 2012 - (Divulgacao/Divulgação) |
A imagem publicada acima implode uma das principais teses de defesa apresentadas pelo ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro sobre uma das tantas acusações que o atormentam na Operação Lava Jato. Em depoimento no dia 5 deste mês, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque
afirmou que Lula tinha total conhecimento do petrolão, recebia propinas
do esquema e era o comandante da estrutura criminosa. Duque disse que
se reuniu três vezes com o petista para tratar de assuntos de interesse
da quadrilha e, em pelo menos uma ocasião, discutiu a eliminação de
provas que pudessem levar a Lava Jato até o ex-presidente. Sentado
diante de Sergio Moro, Lula negou as acusações e disse que nem sequer
conhecia o ex-diretor da Petrobras quando esteve com ele no único
encontro pessoal que tiveram num hangar do Aeroporto de Congonhas, em
julho de 2014. Em sua versão para a conversa, Duque disse a Moro que ouviu de Lula um pedido para eliminar contas de propina no exterior. Lula, por sua vez, disse que apenas apurava denúncias de corrupção envolvendo diretores da estatal.
Em meio a essa guerra de versões, a foto apresentada por Duque é uma
bomba. Segundo o diretor, ela prova que Lula conhecia muito bem Duque
quando esteve com ele no hangar do aeroporto. Prova também que Duque já
frequentava o Instituto Lula em meados de 2012, quando a fotografia foi
tirada. Apresentada nesta terça-feira, a imagem é o registro histórico
de uma conversa, ocorrida durante o pleno funcionamento do petrolão, em
que Duque e Lula discutiram assuntos de interesse das empreiteiras que
comandavam o cartel bilionário na Petrobras.
No encontro, o “grande chefe”, como Duque descreve Lula,
chega a rasgar elogios ao ex-diretor por seus competentes e relevantes
serviços prestados. Como a Lava Jato já demonstrou, Duque foi um
eficiente arrecadador do PT na diretoria de Serviços da Petrobras. Ele
atravessou oito anos de governo Lula e metade do primeiro mandato da
ex-presidente Dilma Rousseff recolhendo 1% de propina sobre cada
contrato milionário da sua área. Preso em 2014, já foi condenado a 57
anos de prisão por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Incluída na proposta de delação premiada que o ex-diretor
negocia com a força-tarefa da Lava Jato, a foto é um dos elementos
apresentados por Duque para provar que desfrutava, de fato, de prestígio
dentro da hierarquia petista que saqueou a Petrobras. Duque encontrou
Lula ainda no período em que o ex-presidente se recuperava de um câncer
na garganta. Na imagem, o ex-presidente usa bigode. Mais tarde, voltaria
a ostentar a barba.
Em depoimento a Moro, Duque revelou
ter mantido três encontros com Lula para discutir assuntos relacionados
ao petrolão. A foto registra o primeiro deles. “Nessas três vezes,
ficou muito claro para mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo e
detinha o comando”, disse Duque. Um dos encontros secretos com o
ex-presidente se deu já durante as investigações da Lava Jato, no qual
recebeu do petista ordens para fechar as contas que mantinha no exterior
para receber propina de contratos da Petrobras. Cinco dias depois, também falando a Moro, o ex-presidente admitiu a conversa, mas disse
que nem sequer conhecia Renato Duque, tanto que precisou pedir ao
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto que intermediasse a reunião no
aeroporto. “O Vaccari conhecia o Duque e eu não conhecia. Que tipo de
relação eles tinham, eu não sei. Tinha conhecimento de que o Vaccari
conhecia o Duque, só isso”, disse Lula.
O ex-diretor contou a Sergio Moro que
Lula monitorava pessoalmente o fluxo de pagamentos de contratos que
renderiam propinas posteriormente. O petista era tão envolvido que
chegava a ter informações antes mesmo do próprio ex-diretor. Ao dar sua
versão sobre a conversa no aeroporto, Duque disse que o ex-presidente
relatou que a então presidente Dilma Rousseff havia lhe repassado a
informação de que diretores da Petrobras estavam recebendo propina de
fornecedores da estatal, como a multinacional SBM, em contas no
exterior. Lula queria saber se Duque estava entre os beneficiários da
propina. Como o ex-diretor negou, Lula insistiu querendo saber se a
propina de contratos de sondas da Sete Brasil estava sendo paga no
exterior. Duque voltou a negar. Lula então fez questão de advertir para a
necessidade de eliminar rastros no exterior que pudessem levar as
autoridades até a propina.
“Ele me perguntou se eu tinha uma conta na Suíça com
recebimentos da empresa SBM, dizendo que a então presidente Dilma tinha
recebido a informação que um ex-diretor da Petrobras tinha recebido
dinheiro numa conta da Suíça da SBM. Eu falei: ‘Não, não tenho dinheiro
da SBM nenhum. Nunca recebi dinheiro da SBM’. Aí, ele vira para mim e
fala assim: ‘Olha, e das sondas? Tem alguma coisa?’. Falei… e tinha, né?
Eu falei: ‘Não, também não tem’”, relatou Renato Duque. Lula, nas
palavras do ex-diretor, replicou: “Olha, presta atenção no que vou te
dizer: se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu
nome, entendeu?”, contou.
O petista também deu a sua versão para a conversa. Lula
disse que procurou Renato Duque porque viu na imprensa denúncias de
corrupção na Petrobras envolvendo o nome do ex-diretor. “Tive uma vez no
Aeroporto de Congonhas, se não me falha a memória, porque tinha vários
boatos no jornal de corrupção e de contas no exterior. Eu pedi para o
Vaccari, que eu não tinha amizade com o Duque, trazer o Duque para
conversar”, disse Lula. “Eu sei que foi num hangar em Congonhas e a
pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: ‘Tem matéria nos jornais,
tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, que está pegando da
Petrobras. Você tem contas no exterior? Ele falou: ‘Não tenho’. Falei:
‘Acabou’. Se não tem… Sabe, mentiu pra mim. Mentiu para ele mesmo”,
disse Lula.
Em meados de 2014, Duque nem mesmo mantinha vínculo com a
Petrobras. Mas, para Lula, isso pouco importou. Questionado por Moro se
tinha procurado outros diretores da estatal, igualmente enrolados na
Lava Jato, Lula disse que só procurou Duque. Moro quis saber o motivo.
Lula justificou que Duque havia sido indicado pela bancada do PT.
No dia em que Duque prestou depoimento a Moro, Lula rebateu as acusações por meio de uma nota
em que classificou as declarações do ex-diretor de Serviços da
Petrobras como uma “tentativa de fabricar acusações mentirosas” contra
ele. Segundo Lula, trata-se de “mais uma etapa dessa desesperada
gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula,
que não existe na realidade e muito menos nos autos”.
Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário