Guerra de facções criminosas dispara homicídios dolosos na Grande São Paulo
Crescimento de homicídios "tem ligação com brigas entre facções rivais", diz delegado
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Uma guerra entre as facções criminosas PCC (Primeiro Comando
da Capital) e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade)
fez o número de homicídios dolosos (com intenção de matar) disparar na
região metropolitana no primeiro trimestre deste ano.
Foram 250 vítimas na Grande São Paulo entre janeiro e março deste
ano, ante 190 no mesmo período de 2016 (alta de 31,5%). De acordo com o
delegado titular da Divisão Homicídios de Guarulhos, Wagner Terribilli, o
crescimento de homicídios "tem ligação com brigas entre facções
rivais".
Policiais civis de cinco DPs da cidade afirmaram a reportagem que o
perfil dos mortos é parecido: homens, jovens, negros, moradores da
periferia e que têm envolvimento com tráfico de drogas ou roubo de
cargas.
De acordo com os policiais, o CRBC começou a incomodar
financeiramente o PCC na região metropolitana, e o PCC determinou
tolerância zero contra os integrantes e simpatizantes da facção rival.
"COISAS"
O CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), cujos
integrantes são conhecidos como "Coisas", foi criado em 25 de dezembro
1999 e era o principal rival do PCC na briga por pontos de tráfico de
drogas na região metropolitana no início dos anos 2000.
Segundo o pesquisador Bruno Paes Manso, a facção nasceu e cresceu
justamente no presídio de Guarulhos, em 1999. "Desde sempre foi a
principal oposição ao PCC." Entre 2000 e 2001, quando o PCC se
fortalecia dentro das prisões, havia brigas pesadas entre as duas
facções, nas cadeias e nas ruas.
Integrantes das facções executavam uns aos outros, mas, como o PCC
sempre foi maior que o CRBC, havia mais mortes da facção menor. "Desde
2006, quando o PCC se fortaleceu e se manteve na articulação do tráfico e
distribuição de drogas, ninguém tentou bater de frente. Nestes últimos
11 anos, o PCC praticamente não teve mais rivais em São Paulo, tanto nas
prisões como fora", diz.
Há 11 anos, segundo o pesquisador, as facções perderam o interesse em
brigar entre si porque o CRBC não chegava a atrapalhar grande parte do
tráfico de drogas administrado pelo PCC. "O PCC 'deixou quieto'. Houve
um acordo de paz. Depois, o PCC direcionou o discurso de que os
principais inimigos eram a polícia, não as facções rivais", afirma.
Atualmente, integrantes do CRBC estão presos na Penitenciária 1 de
Presidente Venceslau (611 km de SP). Lá também estão detentos da SS
(Seita Satânica), Cerol Fino e ADA (facções menores, mas também inimigas
do PCC).
GUARULHOS
O CRBC atua em toda a região metropolitana, mas tem como base
Guarulhos, a segunda maior cidade do Estado. É justamente lá que foi
registrado o maior número de homicídios dolosos (com intenção de matar)
no primeiro trimestre. Foram 61 mortes no primeiro trimestre deste ano
(contra 38 em 2016), o que impulsionou a alta em toda a região.
Em termos percentuais, o número de homicídios em Guarulhos subiu
60,5% no primeiro trimestre. Em Jandira, o número quadruplicou. Em
Barueri e Taboão da Serra, triplicou.
Os números contrastam com os da capital, onde o total de homicídios
tem caído -o que tem motivado declarações de comemoração do governador
Geraldo Alckmin (PSDB). Foram 201 vítimas no primeiro trimestre deste
ano na capital, contra 231 no mesmo período de 2016 (queda de 13%).
CONFLITOS
Pesquisador de facções criminosas pela USP (Universidade de São
Paulo), Bruno Paes Manso afirma que é a primeira vez nos últimos 11 anos
que um conflito de facções acontece em São Paulo abertamente.
"O ano começou com uma crise no sistema carcerário do Brasil, com
facções confrontando o PCC, principalmente no Norte e Nordeste, com
vários mortos. Até que ponto houve uma expectativa de enfraquecimento do
PCC, na visão do CRBC, com a ideia de crescer?", questiona.
Professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani diz que,
provavelmente, o conflito não chegou à capital porque o PCC é dominante
lá. "Brigas de facções podem significar aumento de homicídios nos
próximos tempos, gerando problema maior na segurança pública", diz.
OUTRO LADO
A Secretaria da Segurança Pública do governador Geraldo Alckmin
(PSDB) não se manifestou sobre a guerra de facções nem sua relação com o
aumento de homicídios dolosos na região metropolitana.
A gestão afirma que a polícia esclareceu 13 casos de homicídio doloso
em Guarulhos neste ano. "Isso resultou na prisão de sete pessoas em
flagrante e de outros dez autores por mandado expedido após o trabalho
de polícia judiciária", diz.
Segundo a pasta, em 2016 a Grande SP atingiu a menor taxa de
homicídios desde o início da série histórica, em 2001.
Notícias ao Minto com informações
da Folhapress.
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