Greve atinge todo o país, mas reúne pouca gente e tem muitos confrontos
Movimentação contra as reformas da Previdência e trabalhista deixa cidades com cara de feriado e termina com governo e centrais sindicais cantando vitória
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Polícia usa bala de borracha contra manifestantes em frente à casa do presidente Michel Temer, na região de Pinheiros em São Paulo, durante protestos contra a reforma trabalhista e da previdência - 28/04/2017 - (Ricardo Matsukawa/VEJA.com) |
A greve geral convocada pelas centrais sindicais e movimentos de esquerda contra as reformas trabalhista e da Previdência propostas pelo presidente Michel Temer (PMDB) afetou todos os estados da federação, conseguiu deixar algumas capitais com cara de feriado, mas reuniu poucos manifestantes nas ruas, teve confrontos violentos no Rio e em São Paulo e terminou com os dois lados – governo e sindicatos – cantando vitória.
O efeito ‘cidade-fantasma’ em algumas capitais, como São
Paulo, foi decorrência, principalmente, da adesão de motoristas de
ônibus, trens e metrô, além de bloqueios em rodovias importantes do
entorno da capital, que dificultaram a locomoção de trabalhadores.
Não há números confiáveis sobre a adesão. O presidente da
Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, estimou em 40 milhões o número
de trabalhadores que pararam, mas não explicou como chegou a este
número. “O recado foi dado. O governo agora terá oportunidade de abrir
negociações para fazer uma reforma justa e civilizada”, disse.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) não
fez uma estimativa com números, mas seu presidente, Vagner Freitas,
considerou a paralisação um sucesso. “Mostramos ao Temer que a população
não concorda com as reformas”, disse. “E não para aqui. Vamos ocupar
Brasília para que o Congresso não vote as reformas e vamos fazer mais
greves se for necessário”, disse.
O governo viu diferente. O ministro da Justiça, Osmar
Serraglio, afirmou que “não houve greve, mas uma baderna generalizada”,
que foi coibida rapidamente pela polícia, que liberou bloqueios e
piquetes que impediam que aqueles que não aderiram à greve se dirigissem
aos locais de trabalho.
Sobre o impacto do protesto na tramitação das reformas,
disse que o fracasso da manifestação ajuda o governo. “Num primeiro
momento, eu acho que as consequências serão no sentido de fortalecer as
reformas. porque, quando essas atitudes são tomadas, você cria
dificuldades para que as pessoas se dirijam ao seu trabalho”, disse. “A reforma trabalhista veio para dizer ao trabalhador: você é livre para fazer o acordo que você queira.”
Em nota, Temer afirmou que as greves “ocorreram livremente
em todo o país”, mas disse que o “trabalho em prol da modernização da
legislação nacional continuará, com debate amplo e franco, realizado na
arena adequada para essa discussão, que é o Congresso Nacional”.
Em ato no bairro de Pinheiros, zona
oeste de São Paulo, próximo à casa de Temer, o coordenador nacional do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos,
um dos líderes do protesto, prometeu levar a manifestação ao Congresso.
“Se não entenderem [as manifestações] vai ter convulsão social. Nós
vamos tomar o Congresso, porque terra improdutiva tem que ser ocupada
para ter função social”, afirmou no protesto.
Pelo país, havia pouca gente nas
manifestações. O maior ato ocorreu no Largo da Batata, em Pinheiros,
zona oeste de São Paulo, onde os organizadores disseram ter reunido 70
mil pessoas – a PM não fez estimativa. Mas foi neste ato que ocorreu um
dos maiores tumultos da greve geral, com uma batalha campal
entre policiais militares e manifestantes que tentaram chegar à casa de
Temer no Alto de Pinheiros, um bairro de altíssimo padrão.
A PM impediu o acesso com bombas de gás
lacrimogênio, bombas de efeito moral, balas de borracha e jatos de água.
Os manifestantes responderam com paus, pedras e outros objetos atirados
contra os policiais.
Para juntar o seu arsenal, os
manifestantes arrancaram concretos de calçadas, quebraram placas de
trânsito e retiraram pedaços de madeira de algumas casas. Também
quebraram vidraças, agências bancárias e ao menos um restaurante.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, 36 manifestantes foram presos em todo o estado de São Paulo, sendo 21 na capital.
Rio
Outro confronto violento ocorreu no
centro do Rio de Janeiro, com a PM e manifestantes usando o mesmo
arsenal do enfrentamento em São Paulo – bombas de gás e balas de
borracha do lado policial; paus, pedras e pedaços de madeira, além de
barreiras de fogo nas vias.
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Ônibus são queimados durante os protestos no Rio de Janeiro contra as reformas da previdência e trabalhista do governo Michel Temer – 28/04/2017 - (Ricardo Moraes/Reuters) |
O protesto ocorreu principalmente no entorno da Assembleia
Legislativa do Rio e deixou o trânsito da região totalmente parado entre
o final da tarde e o início da noite. Parte do comércio fechou as
portas. Na Avenida Rio Branco, várias agências bancárias foram
depredadas. Além de carros e lojas, pelo menos oito ônibus foram
incendiados pelos manifestantes.
“Com esse tipo de ataque, os veículos – que não têm seguro
(as seguradoras não fazem apólices para ônibus) – são inteiramente
descartados”, disse em nota a Fetranspor (Federação das Empresas de
Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro).
Em São José dos Campos, interior de São
Paulo, um motorista foi preso após atropelar manifestantes que
bloqueavam a marginal da rodovia Presidente Dutra. Duas jovens atingidas
pelo veículo ficaram feridas e levadas pelos bombeiros a um
pronto-socorro na cidade.
O motorista, que após ser parado, deu ré e avançou sobre o
grupo para furar o bloqueio, foi perseguido na rodovia e detido por
policiais rodoviários. Ele foi levado para uma delegacia da Polícia
Civil, prestou depoimento e foi liberado.
Em Pernambuco, um motorista de uma Kombi
atropelou e matou um motociclista ao tentar desviar de um bloqueio feito
por manifestantes na BR-101, em Cabo de Santo Agostinho.
Veja com Estadão Conteúdo, Reuters e Agência Brasil
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