Proposta quer fundir municípios com menos de 5 mil habitantes
Publicado por:
Amara Alcântara
Um estudo realizado pelo TCE-PR
(Tribunal de Contas do Estado do Paraná) propõe fundir os municípios com
menos de 5.000 habitantes no Brasil, como “forma de melhorar a
prestação dos serviços públicos à população e promover economia de
recursos”. O documento foi finalizado em 2015, mas ganhou divulgação
pública apenas agora.
Segundo o documento, cidades com
população inferior a 5.000 habitantes “tendem a não apresentar condições
mínimas para prestar os serviços básicos ao cidadão –como saúde e
educação”.
Municípios com até 5.000 habitantes são
“inviáveis econômica e politicamente”, disse nesta quarta-feira (11) o
presidente do TCE, Ivan Bonilha.
“O que esses municípios recebem é
inferior à despesa que têm com serviços básicos. Não deveriam ser
municípios. Se foram criados, a maioria na década de 1990, se havia
sustentabilidade na época, já não existe hoje, com cenário de restrição,
enxugamento da máquina e redução de despesas”, defendeu Bonilha.
O Brasil tem, atualmente, 5.570
municípios. Desses, 1.301 possuem menos de 5.000 moradores. No caso
específico do Paraná, 96 das 399 localidades estão nessa linha de corte.
“Eles deveriam voltar a ser os distritos
que eram antes. Com isso, se deixaria de gastar o dinheiro que se paga
para manter estrutura burocrática. Só vereadores, são, por lei, no
mínimo, nove em cada um. Há ainda demandas para criar comarcas
judiciais, depois fóruns. O Estado é caro”, justificou.
Ele citou, como exemplo, duas pequenas
cidades paranaenses: Porto Amazonas (4.755 habitantes, 75 km a oeste de
Curitiba) e Miraselva (1.858 habitantes, 352 km a noroeste de Curitiba).
“Em média, manter uma Câmara de
Vereadores custa R$ 16,62 por ano para cada paranaense. Mas, em Porto
Amazonas, são R$ 53 por morador. Em Miraselva, R$ 135, quase nove vezes
mais que a média estadual. É justo?”, questionou.
Como fazer?
Bonilha admitiu que a proposta é ousada e
de difícil implementação sob a lei atual –que faculta aos municípios ou
distritos a decisão de propor seja uma emancipação ou o caminho
inverso. Isso quer dizer, na prática, que a decisão de extinguir a
estrutura burocrática passaria por prefeitos e vereadores, diretamente
interessados no assunto.
“Acho que é uma discussão possível. Toca
de perto a vida do cidadão, que sente a presença –ou a ausência– do
governo municipal. Espero propor o debate e chamar a atenção para um
tema que está em nossa cara”, afirmou.
“Criar índices objetivos para indicar
viabilidade financeira dos municípios, criar janelas facilitadoras e
atribuir a prerrogativa de criar, fundir ou reincorporar municípios às
Assembleias Legislativas” são caminhos possíveis para que a proposta se
torne viável, segundo Bonilha.
“Queremos debater. Não temos autoridade para impor fusão ou incorporação. A legislação sobre isso é federal.”
Ele encaminhou o estudo, em novembro
passado, ao TCU (Tribunal de Contas da União), e disse que irá defender
que se debata a proposta –inclusive no Congresso Nacional– em reuniões
de entidades que reúnem conselheiros de cortes estaduais de contas.
“Já conversei com os ministros [do TCU]
Benjamin Zymler e Aroldo Cedraz para ver como [o debate] poderia ser
feito”, falou. Oficialmente, porém, Bonilha disse que seu estudo não
recebeu qualquer resposta do TCU.
O estudo
“No mínimo metade dos municípios
paranaenses tende a apresentar dificuldades estruturais em relação à sua
administração pública”, afirma o TCE-PR no estudo.
“A fusão representaria um ganho de
escala, com o aumento da população, além da redução de cargos políticos,
aumento da poupança dos cofres públicos, maior independência financeira
e dinamismo econômico municipal”, afirma o estudo do TCE-PR.
“As evidências indicam que os movimentos
emancipatórios, tanto no Brasil quanto no Paraná, não foram
equitativamente distribuídos entre as diferentes escalas municipais.
Pelo contrário, os movimentos foram concentrados na criação de
municípios com baixo contingente populacional”, afirma o documento.
O estudo destaca o FPM (Fundo de
Participação dos Municípios), do governo federal, como uma das
justificativas para a fusão.”Ao privilegiar excessivamente os municípios
de pequena população, o FPM pode ter induzido um comportamento
estratégico por parte de muitos municípios, que se subdividiram para
elevar suas receitas per capita. Infelizmente, a partir dos exames
empreendidos neste trabalho, os resultados comparativos entre o IDHM
[Índice de Desenvolvimento Humano dos Município] no âmbito dos 10% de
municípios mais populosos e 10% menos populosos do Estado do Paraná
robustecem a hipótese de que micro e pequenos municípios são geralmente
caracterizados por níveis mais baixos de desenvolvimento humano
integrado, tanto em termos absolutos como relativos”, prossegue o texto.
“Não há como se conceber ideia do
surgimento de município que não tenha capacidade de arrecadar seus
tributos, isto é, que não possua receita própria. (…) Identifica-se
sobre a questão da escala municipal um verdadeiro dilema entre, de um
lado, democracia e, de outro, eficiência econômica”, argumenta o estudo.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário