Crime organizado é disputado por 27 facções no país que buscam aliados em todos os estados
Segundo delegados e promotores, os grupos criminosos querem o controle das duas fronteiras.
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Membros do PCC foram transferidos após rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim |
As facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando
Vermelho disputam o domínio do tráfico de drogas nas fronteiras do País.
Por isso, estão em guerra e buscam aliados do crime em todos os
Estados.
Na última semana, mais de 90 presos foram brutalmente assassinados em
massacres ocorridos em penitenciárias do Amazonas e de Roraima. No
total, segundo autoridades que investigam o crime organizado, pelo menos
mais 25 facções criminosas participam dessa disputa, apoiando o PCC ou o
CV.
Enquanto a facção paulista, após matar o narcotraficante Jorge Rafaat
- que era o grande intermediário entre traficantes paraguaios e
brasileiros -, em junho de 2016, passou a dominar o tráfico de drogas e
de armas na fronteira com o Paraguai, o CV, via Família do Norte (FDN),
controla o tráfico na fronteira com o Peru, no caminho conhecido como
Rota Solimões.
Segundo delegados e promotores, os grupos criminosos querem o controle das duas fronteiras.
De acordo com o procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino,
especialista em investigações sobre o crime organizado, PCC e CV
firmaram aliança no final dos anos 1990. Naquela época, a facção
paulista começou a vender drogas no Rio por "atacado" e, ao mesmo tempo,
passou a investir o dinheiro do crime na expansão de atividades em
outros Estados, formando parcerias com grupos locais.
"Percebemos que o PCC dava aos bandidos locais a estrutura e noção de
organização que eles não tinham. Por isso, acabou ganhando inúmeros
simpatizantes em vários Estados. Isso fez a facção crescer e se
expandir. Enquanto o CV consolidou o domínio na maioria dos morros do
Rio, principais mercados de consumo de drogas no País", diz Christino.
Com um exército de 10 mil homens - 7 mil nos presídios e 3 mil nas
ruas -, o PCC se tornou a principal facção criminosa do Brasil e
movimenta, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), 40 toneladas de
cocaína e R$ 200 milhões por ano.
Esse comportamento, porém, trouxe inimigos dentro do crime, que são
facções menores concentradas principalmente no Norte e Nordeste. "Os
bandidos rivais de São Paulo estão em facções menores que não fazem
diferença no cenário da criminalidade do Estado", afirma Christino.
Para o procurador, com a morte de Rafaat, que foi assassinado com
tiros de metralhadora calibre .50 (capaz de derrubar um helicóptero), o
Comando Vermelho acabou virando dependente do PCC no tráfico na
fronteira com o Paraguai. "A partir desse momento, a aliança foi
rompida. E as consequências estão aparecendo, que são os massacres nos
presídios", afirma o procurador.
Para o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de
Combate e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o CV percebeu a
necessidade de fazer alianças com outros grupos criminosos para
enfrentar o PCC. O grupo do Rio então se aliou à FDN, facção que comanda
o crime no Amazonas e domina a cobiçada Rota Solimões, e determinou a
morte de membros do PCC em cadeias do Norte. O CV também fez aliados em
outros Estados do Norte e Nordeste.
Em contrapartida, a facção paulista ganhou mais força nas regiões Sul
e Sudeste do País, principalmente no Paraná e Mato Grosso, o que
consolidou o domínio na fronteira com o Paraguai.
Fonte: Estadão
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