Camisa ensanguentada de Valdemiro Santiago é usada para ‘curar’ fiéis
Publicado por:
Carlos Rocha

A câmera de televisão dá um zoom no pescoço do pastor Valdemiro
Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Ele arregaça a gola e
mostra o curativo da facada que levou no pescoço no culto de domingo de
manhã. “Imagina um facão com toda a força batendo sobre a sua jugular”,
diz. Sentado numa bancada ao lado da esposa, a bispa Francileia
Santiago, o religioso afirma em seu canal de TV que a camisa usada na
hora do ataque já serviu até para “curar” fiéis. Nas imagens, um membro
da igreja aparece esfregando-a em um manto.
“Passaram até a camisa ensanguentada no manto. Quando ela [a fiel]
tocou no manto, ela aplumou. Foi curada. O demônio fez o serviço dele,
mas acabou dando o contrário. No acerto de contas com o diabo, foi
assim: ‘E aí, como é que foi com o Valdemiro? O saldo foi negativo.
Porque teve até gente que saiu curada’”, diz o pastor, que se
autointitula apóstolo. “A unção está na nossa roupa, no nosso copo, no
nosso relógio, na nossa aliança, no nosso chapéu, no nosso sangue”,
explica Santiago, fazendo o adendo de que o poder vem de Deus e não
dele.
No domingo, enquanto ele distribuía bênçãos aos fiéis na chamada
“imposição de mãos”, o ajudante-geral Jonathan Gomes Higino, de 20 anos,
aproximou-se dele e o golpeou com um facão no pescoço. Jonathan foi
detido em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. O
pastor foi levado ao Hospital Sírio Libanês, onde levou 25 pontos, e
recebeu alta após passar menos de seis horas internado.
Na TV Bandeirantes, Santiago chegou até a fazer brincadeira com o
ataque, dizendo que vai instituir agora a “fila do açougue”. Para ele,
ontem foi definitivamente um “dia de azar”. Despencou até da maca quando
era encaminhado ao hospital. “Eles me deixaram cair da ambulância com a
cabeça no chão. Eu estava com um azar aquele dia”, completou.
Em entrevista a VEJA, o pastor Jorge Pinheiro, que assumiu
temporariamente o comando da Poder de Deus, disse que a camisa
ensanguentada de Santiago não seria utilizada para “fins simbólicos”,
mas que foi guardada “pela importância do que aconteceu”.
“FOI A MÃO DE DEUS QUE SALVOU”
Um dia depois do ataque, os membros da congregação se mostravam
espantados com a agressão e mais seguros na fé depositada em seu líder
religioso.
Na tarde desta segunda-feira, VEJA conversou com integrantes da
igreja no templo que fica bairro Brás, no centro da capital paulista,
onde o crime aconteceu. Sentado em uma cadeira na recepção, assistindo à
entrevista de Santiago dada ao apresentador José Luiz Datena, o
funcionário da igreja Marivaldo Lima de Assis não tinha dúvida sobre
como o líder religioso sobreviveu aos golpes de facão que levou: “Foi a
mão de Deus que o salvou”.
Dentro do templo, que comporta até 40 mil pessoas, rezando sozinho, o
soldado Willian Costa Mendes, 22 anos, contou que estava na fila à
espera de benção do bispo quando tudo aconteceu. Mendes considera que o
atentado reforçou sua fé em Deus. “O apóstolo é um grande exemplo. A
pessoa fez maldade com ele e ele mesmo o perdoou”, disse. O jovem
disse ter chorado depois do ataque.
Raimundo Simião, 61, também estava presente no domingo. Ele ajudava
na organização das filas das bençãos na hora do ataque. Sua admiração
por Santiago também cresceu depois do ataque: “Deus mostrou para o mundo
inteiro que está presente no apóstolo”.
Vinda de Aragarças, em Goiás, Cristine de Oliveira, 66, era uma das
15 mil pessoas presentes naquela manhã de domingo. Ela ficou indignada
por ver uma pessoa do “quilate do apóstolo” ser atacada em seu próprio
templo. “Eu vi o sangue no chão e na hora já comecei a orar. Tenho mais
fé nele agora, que provou mais do que nunca que é um ungido de Deus”.
Oliveira se disse preocupada, com medo de que o apóstolo abandonasse os
fiéis depois do ataque.
Já na sala de recepção da igreja, o clima era de normalidade. O bispo
Jorge Pinheiro, que estava no altar no momento da agressão disse não
ter visto o ataque. “Só percebi a gravidade quando ele passou por mim e
disse ‘tentaram cortar minha carótida’”. Pinheiro conta que ouviu
relatos de pastores afirmando que o movimento nos cultos à tarde e à
noite no domingo havia aumentado. “Muitas pessoas foram orar pelo
apóstolo.”
Sobre o agressor, o pastor disse que foi preso pelos seguranças e
ficou trancado em uma sala na igreja até que a polícia chegasse.
Conforme o bispo o esquema de segurança nos dias de cultos não será
alterado.
Egresso da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdemiro Santiago
rompeu com o bispo Edir Macedo e fundou em 1998 a Igreja Mundial do
Poder de Deus, denominação que, segundo a sua página na internet, tem
4500 templos no Brasil e no exterior.
Fonte: VEJA - Créditos: Eduardo Gonçalves, Claudio Rabin
Nenhum comentário:
Postar um comentário