Afastamento meia-sola de Renan leva à autodesmoralização da Suprema Corte – Por Josias de Souza
Publicado por:
Gutemberg Cardoso
O Supremo Tribunal Federal viveu uma sessão histórica nesta
quarta-feira, dia 7 de dezembro 2016. A Corte já não é tão Suprema. Seus
ministros já não precisam fazer muito esforço para exibir altivez.
Basta que fiquem agachados. Rendendo-se às conveniências de um réu
ilustre, o senador Renan Calheiros, o ex-Supremo deflagrou um inédito
processo de autodesmoralização.
Por maioria de seis votos a três, o ex-Supremo ignorou providências
que havia adotado em relação a Eduardo Cunha para brindar Renan com um
afastamento meia-sola. O réu alagoano não poderá substituir o presidente
da República. Mas o fato de responder a uma ação penal por se apropriar
de verbas públicas em benefício particular não o impede de continuar
presidindo o Senado e o Congresso como se nada tivesse sido descoberto
sobre ele.
A decisão do ex-Supremo foi 100% política. Resultou de uma costura
que envolveu os chefes dos três Poderes: Michel Temer, Cármen Lúcia e o
próprio Renan. Partiu-se do pressuposto de que o afastamento do réu
alagoano do comando do Senado arruinaria a governabilidade,
comprometeria a aprovação da emenda constitucional do teto de gastos e
agravaria a crise econômica. Com esse entendimento, as instâncias
máximas da República como que convidam o brasileiro a se fingir de bobo
para o bem do país.
Renan celebrava o resultado do julgamento na noite da véspera.
Conforme noticiado aqui, o senador antecipava o veredicto aos aliados.
Se a sensibilidade auditiva fosse transportada para o nariz, os
interlocutores de Renan sentiriam um mau cheiro insuportável ao ouvir as
expressões chulas que ele utilizava para se referir aos ministro Marco
Aurélio Mello, autor da liminar que ordenava o seu afastamento da
presidência do Senado. Como também já foi noticiado aqui, Renan
descumpriu a ordem do relator seguindo instruções de um outro ministro
do próprio ex-Supremo.
Três dias depois de o brasileiro ter voltado às ruas para reiterar o
apelo por moralidade e pedir a cabeça de personagens como Renan, o
ex-Supremo alistou-se voluntariamente na volante alagoana. Fez mais:
anexou o Brasil à região metropolitana de Alagoas. E se autoconverteu
num puxadinho do gabinete do cangaceiro. Tudo isso em nome de uma
pretensa governabilidade. Salvo melhor juízo, não há vestígio de
semelhante desmoralização na história da Suprema Corte brasileira.
Fonte: uol - Créditos: Por Josias de Souza
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