Economia da Região Nordeste tem piora mais crítica do que o restante do país
Região
do Brasil que mais cresceu até o início da atual crise, o Nordeste
agora enfrenta piora mais acentuada em seus principais indicadores
econômicos na comparação com a média do país.
Uma combinação de
renda mais baixa que a média nacional, alta dependência dos municípios
por verbas públicas e a falta de reajuste do Bolsa Família em 2015,
entre outros fatores, elevou o desemprego na região a 14,1% (ante 11,8%
no país) e fez a economia cair quase 6% no acumulado dos últimos 12
meses.
A inflação nas principais capitais do Nordeste, ainda que
tenha perdido força, é mais alta que a média nacional. Os piores índices
do país estão em Salvador, Recife e Fortaleza, todas com alta superior a
8% em 12 meses.
Essa alta dos preços acentua o impacto sobre a renda e as vendas do comércio na região, que caíram mais de 10% em 12 meses.
“Além
de sofrer mais por causa da renda menor e de ser altamente dependente
do setor público, agora em crise, o Nordeste vive um fato externo
extremo, a seca que já dura quase cinco anos”, afirma Thobias Silva,
economista-chefe da Federação das Indústrias de Pernambuco.
Silva
diz que a crise na região é heterogênea, com Estados como Pernambuco
ainda menos afetados devido ao boom de investimentos que receberam até o
fim do governo Lula, em 2010.
No quadrimestre até setembro, por exemplo, Pernambuco teve superavit de R$ 500 milhões e vem pagando suas contas em dia.
Mas
a crise do setor público derrubou a arrecadação das prefeituras, que
são, em todos os Estados da região, os principais empregadores.
A
região concentra o maior número de pequenos municípios do país, com uma
dependência de mais de 80% em verbas repassadas pela União. Na média, a
receita total deles voltou ao nível de 2010 em termos reais, enquanto as
despesas aumentaram no período.
Além da demissão de funcionários
sem concurso, muitos serviços têm sido interrompidos. “Boa parte dos
municípios está em situação de quase colapso por causa da queda nas
receitas”, diz Alexandre Rands, da consultoria Datamétrica, do Recife.
A
crise fiscal federal, diz, também interrompeu obras importantes como a
Transnordestina e a transposição do rio São Francisco. E a da Petrobras,
o andamento de projetos como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Jorge
Jatobá, sócio da consultoria pernambucana Ceplan, diz que o desemprego e
a queda na renda na região só não são maiores justamente pelo fato de o
setor público ser o grande empregador.
“Cerca da metade da massa
salarial em Pernambuco, por exemplo, é estatal. Mas isso faz com que a
crise seja muito mais severa para o setor privado.”
Jatobá diz que
a falta de reajuste no Bolsa Família em 2015 (o benefício foi corrigido
neste ano, em 12,5%) também teve forte impacto negativo sobre o
consumo, já que metade das famílias beneficiárias (7 milhões) vive no
Nordeste.
“Após anos de forte crescimento baseado no Estado, nada
mais natural que a região acabe sofrendo mais quando o foco da crise é
fiscal”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“O
Nordeste infelizmente é um exemplo de como não se deve depender
exageradamente de políticas de aumento de renda sem melhorar a
competitividade”, afirma.
Uol
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